Por alguns instantes parecia não haver nada mais importante no meu Brasil das mazelas, sonhos e esperança, do que o dedinho fraturado do jogador Neymar. A internação em Belo Horizonte causou um rebuliço na capital mineira, particularmente dentro do hospital. Funcionários receberam ordem expressa de não tietar o atleta sob pena de colocar em risco seu próprio emprego. Ora, demitir um funcionário, competente ou não, por querer uma foto de um Neymar que nós mesmos estamos “canonizando”? Um absurdo.
Jornais, rádios, emissoras de televisão, sites especializados, todos só pareciam ter espaço para o tal dedinho fraturado, estampando explicações com especialistas sobre o que acontece com a colocação de um pino (ou parafuso) para apressar a recuperação. Ora, e a inflação, o desemprego, as reformas trabalhistas e da previdência não merecem “comoção” social maior ? Nada parece mais importante que o dedinho de Neymar.
Acho que somos um país carente de ídolos e, aí, quando surge um candidato, o idolatram com uma veemência que assusta, preocupa.
E se perdemos a Copa por conta do dedinho de Neymar? Tá, pode acontecer, mas e daí? Isso não vai diminuir nosso índice de desemprego, nossos desvios de dinheiro em obras públicas superfaturadas. Não estou dizendo que a Copa do Mundo não é importante. Tanto é que nosso Governo fez questão de injetar bilhões para tê-la aqui, quatro anos passados. Estou apenas sinalizando que o dedinho do Neymar não é, e nunca será, a razão da nossa ruína e nem do nosso êxito. Menos, por favor.
Depositam em Neymar algumas esperanças que talvez ele mesmo não consiga suportar. O transformam em “santo” e aí quando ele “sai do chão” alguns criticam. Somos nós que estamos criando isso.
Desejo pronta recuperação a Neymar quanto a milhões de brasileiros que também passam pelos nossos hospitais e, certamente, sem os mesmos cuidados dedicados a ele.
Parabéns aos profissionais de saúde que todos os dias salvam “dedinhos”, mas também coração, rim, estômago, e por aí. A maior parte, no anonimato e sem as mínimas condições de trabalho.
Não canonizemos Neymar, por favor. E que ele esteja apto a disputar o mundial da Rússia. Assim, teremos uma desculpa a menos em caso de tropeço. E tenho dito.