Crítica: Galveston (2018)

Galveston

Há algumas semanas aqui mesmo no Portal do Andreoli, em minha crítica do excelente drama Leave no Trace, eu falei um pouco sobre seu protagonista, o incrivelmente talentoso Ben Foster, um legítimo ladrão de cenas profissional. Foster está de volta neste Galveston (EUA, 2018), filme baseado no livro de estreia do escritor Nic Pizzolatto, nome que há quatro anos entrava com os dois pés na porta da indústria graças à fenomenal série True Detective, escrita pelo próprio. Pizzolatto parecia destinado a se tornar o mestre do noir da atualidade, e Hollywood logo cresceu os olhos em cima do próximo projeto com o nome de Pizzolatto envolvido: a adaptação deste Galveston, cujo livro foi lançado em 2010.

Este thriller criminal chegou a ter um diretor e um protagonista definidos e esteve muito perto de começar a ser produzido logo após o final da primeira temporada de True Detective, mas acabou caindo no limbo. Um ano depois, a altamente aguardada segunda temporada da série acabou sendo uma tremenda decepção, e chegou a colocar o futuro do seriado em risco. Ainda assim, a recém encontrada notoriedade de Pizzolatto ajudou seu livro a encontrar mais fãs com o passar dos anos, entretanto, a adaptação cinematográfica de Galveston continuava na gaveta. Felizmente, o projeto recebeu uma segunda chance e fez sua première no festival SXSW deste ano, revelando-se uma fiel adaptação que por vezes até eleva o material no qual é baseado.

Muito do crédito pelo bom resultado do filme vai para a diretora, roteirista e atriz francesa Mélanie Laurent (Bastardos Inglórios, Truque de Mestre), em sua primeira incursão como diretora de um filme de língua inglesa. Pouco se perdeu na transição do livro para as telas, já que Laurent se revela uma fiel seguidora do estilo sombrio e charmoso de Pizzolatto, nascido na Louisiana, que serve como cenário tanto para a série True Detective como para este Galveston. Aliás, o trabalho de Laurent aqui evoca o excepcional trabalho do diretor Cary Fukunaga na primeira temporada de True Detective, com alguns momentos visualmente memoráveis.

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Galveston não perde tempo com gentilezas. O filme imediatamente empurra o público para dentro de um quarto de hospital onde Roy Cady (Foster), é diagnosticado com um câncer terminal. Seu dia piora ainda mais (sim, isso é possível), quando ele descobre que sua namorada está dormindo com seu chefe, que mais tarde na mesma noite, prepara uma armadilha para Roy durante um roubo. Ao escapar da morte certa, Roy percebe a presença da jovem Rocky (a bela Elle Fanning, de Demônio de Neon e A Lei da Noite, cuja crítica você também confere aqui no Portal do Andreoli), escondida após o banho de sangue que aconteceu no local, e a leva junto com ele.

Laurent com certeza sacrifica o elemento da exposição, uma vez que internaliza as emoções de Roy e procura explorar o tenso, turbulento, porém respeitoso relacionamento entre dois estranhos na pior. A diretora explora elementos que nem o próprio livro de Pizzolatto procurou explorar, arrancando uma visceral performance de Elle Fanning e fazendo o público simpatizar com os medos e inseguranças da personagem. Enquanto a narrativa leva um tempo para permitir que Foster brilhe como sempre desta vez no papel do cara durão, Fanning está elétrica do início ao fim em uma performance que deve catapultar a carreira desta jovem atriz para uma promissora nova fase.

À medida em que se dirige para seu arrebatador ato final, Galveston vive e morre com a palpável química que se desenvolve entre Foster e Fanning. Mesmo com tudo de ruim que acontece ao longo do caminho, e acreditem, algumas sequências são brutalmente violentas e difíceis de digerir, Galveston é uma história de amor que não é realmente uma história de amor. Tanto Roy quanto Rocky carregam seus próprios demônios. Nesta vida onde câncer, vigaristas, assassinos, abusadores e estupradores existem e causam tanto mal ao mundo, chega a ser um alívio acompanhar a saga de dois pecadores machucados pelas circunstâncias que encontram consolo, e talvez até redenção, ainda que apenas por um breve momento antes da escuridão total.

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Galveston não tem previsão de estreia no Brasil, e deve chegar ao país diretamente através de serviços de streaming e VOD.

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