As pessoas têm por tendência buscar na solidão a saída para as desilusões conseguidas no decorrer de suas vidas. Principalmente quando existem outras pessoas envolvidas.
Quando existe decepção com amigos, resolve-se não mais ter amigos…
Quando acontece no amor, resolve-se não mais amar…
Quando acontece na profissão, resolve-se abandoná-la…
Solidão não consiste apenas em estar solitário, mas sim em transformar-se num “abandonador”, deixando de lado os ingredientes que compõem o relacionamento com o Universo que se habita. Mas logo se percebe que a solidão é um remédio momentâneo, dá alívio temporário para a dor, não é tão simples viver com ela.
Talvez o homem mais solitário do mundo deva ter sido Robinson Crusoé. Sua aventura foi inspirada num marinheiro escocês, chamado Alexander Selkirk, que viveu entre 1612 e 1721. Ele fazia reclamações constantes a respeito das condições do navio Chinque Portas, no qual estava viajando, e solicitou ao comandante que fosse deixado numa pequena ilha conhecida como Más A Tierra, situada no Pacífico Sul, a uma distância de 670 quilômetros da costa do Chile. Tal fato ocorreu no mês de setembro de 1704. Ele deixou o navio levando somente sua espingarda, um facão e uma Bíblia. Ali viveu em total solidão por longos 4 anos e 4 meses, até o momento em que foi resgatado por um navio. Daniel Defoe inspirou-se nesse marinheiro para escrever esta linda aventura.
Convém salientar que essa pequena ilhota, nos dias de hoje, é um ponto muito requisitado por turistas.
Um dos momentos altos deste romance é, para mim, quando ele encontra a cura para a solidão. Resolve todos os dias ir até seu ponto de observação, onde havia colocado um pano, com uma bandeira, na extremidade de um mastro. Fica olhando o mar, com suas mãos fazendo sombra sobre seus olhos, procurando velas brancas no horizonte vazio.
Ele fica ali em pé, coberto de trapos, pele queimada, cabelo longo, com a grama da praia se agitando sob seus pés, completamente solitário. Realmente uma figura bem trágica. Anseia pelo toque da mão humana, o som de uma voz e o brilho amistoso de uma face humana. Porém, ao final desse dia, sua solitária vigília termina. Mas, quando está pronto para voltar ao seu abrigo, ele pára e vê na areia de sua ilha, que até então, segundo seus pensamentos, era totalmente desabitada, a marca de um pé humano, que não era o seu.
Se Robinson Crusoé encontrou uma saída para a solidão, numa ilha deserta, porque será que nós não podemos encontrá-la onde certamente existe alguém que nos quer bem e num mundo tão cheio de oportunidades?
Solidão é um remédio para tomar por alguns dias, não para uma vida toda.
Uma coisa é certa: quer goste ou não,
terá que viver com você mesmo,
não nos esqueçamos de que o homem
nunca pode fugir de si mesmo.
Goethe
César Romão
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