Bom dia meus queridos amigos!
Antes de você responder a pergunta do título desta coluna, eu devo começar dizendo que nestas últimas semanas a impressão que tive é que eu conversei mais em Italiano do que em Francês visto o número de Italianos que tenho encontrado e os grupos de WhatsApp que tenho participado em Italiano.
O fato é que indubitavelmente todos nós em um grau maior ou menor viemos de uma família de imigrantes. Eu não sou diferente…
Ora, eu poderia falar da minha esposa e a sua árvore genealógica que viaja até aos seus bisavós e chegam obviamente nas terras anglo-saxônicas. Talvez você esteja me lendo e a sua viagem vai para o teu pai, avós ou bisavós e a tua geografia familiar tenha a ver com o Japão, Polônia, Espanha, Líbano, Armênia, Israel, Portugal ou Itália como é o caso da maioria esmagadora dos brasileiros de São Paulo.
Pois bem, no meu caso a vovó Pérsico lia o jornal em Italiano para o seu pai, o meu bisavô, que acabara de chegar de Nápoles. Antes de sair do Brasil eu visitei o museu da imigração no Brás e tive acesso aos documentos e datas relacionados a imigração dos meus bisavós.
E mais ainda: o meu vovô Armando que foi um alfaiate de sucesso no meio da família Matarazzo em São Paulo, me contava histórias e histórias da segunda guerra mundial e da Europa.
Histórias que o seu papai da Ilha da Madeira, Teodoro, e a sua mamãe italiana, Teresa, lhe contavam com muita tristeza, pois foram alguns dos motivos que fizeram eles partirem da Itália e virem ao Brasil.
De modo que eu poderia seguir falando da vinda dos japoneses ao Brasil e a substituição da mão de obra italiana no plantio do café durante o século XIX, e no processo migratório inverso dos anos 80 e 90, que levou milhares de brasileiros, peruanos e argentinos com descendência japonesa às cidades do Japão tais como Hamamatsu e Oizumi.
O que eu gostaria de dizer com esta introdução? É muito simples. A minha premissa parte do princípio que todos nós irremediavelmente somos resultados e produtos de um fluxo migratório realizado em algum momento e lugar na história civilizatória.
Abraão que nos diga, quando ele saiu da Mesopotâmia e caminhou como um hebreu, sem terra, fazendo tendas, um verdadeiro patriarca andarilho que faria uma descendência de indivíduos que viveriam em terras egípcias como estrangeiros por 430 anos!
Você sabia que dezenas de vezes o mandamento para aquele povo hebreu tinha a ver com o respeito ao estrangeiro, pois eles sabiam muito bem o significado duro de ter vivido em uma terra, país, cultura e idioma que não eram familiares. Você sabia deste detalhe?
Eu escreveria um livro sobre este tema que me fascina e me desafia a ser um melhor ser humano.
Compararia os suecos que chegaram aos Estados Unidos e faziam trabalhos de limpeza. No entanto, hoje muitos destes descendentes dos mesmos suecos, os que são da terceira e quarta gerações, ocupam cargos executivos e se tornaram donos de grandes empresas nos Estados Unidos. Portanto, hoje a bola da vez para cargos de construção, limpeza, jardinagem e outras tarefas mais pesadas ficam com os latinos.
Não me assustaria se dentro de três ou quatro gerações estes latinos-americanos aparecessem como homens e mulheres de grande sucesso.
Você está me entendendo? Creio que sim…
A história se repete, os processos são muito similares quando não iguais. Apenas trocamos os protagonistas.
Eu poderia seguir fazendo esta viagem do ponto de vista de um discípulo de Jesus que me ensina a dar pão para quem está com fome, água para quem tem sede, visitar ao preso e acolher o forasteiro, pois quando assim eu pratico estes princípios, o próprio Jesus me ensina que é para Ele que eu estou fazendo, alimentando, acolhendo e visitando…
Você talvez me pergunta: Isto dito, Fábio qual é a diferença entre um refugiado e imigrante?
Pois bem, uma definição simples: um imigrante tem a chance de escolher sair do seu país e tentar a vida em outro país com uma nova cultura, idioma e arquitetura social, política e econômica. Aliás, diga-se de passagem, que esta escolha consciente e de livre-espontânea vontade já é extremamente difícil, pois os choques culturais do outro lado são complicadíssimos.
Por outro lado, um refugiado: é alguém forçado a sair do seu país por uma crise política, civil, de guerra ou qualquer outra força maior que poderia pôr em risco a sua própria vida ou a vida de seus familiares. Simples assim.
Vocês se lembram de José e Maria tanto quanto do menino Jesus? Na realidade, eles entram nesta categoria de refugiados quando fogem ao Egito e escapam da fúria de um líder megalomaníaco chamado Herodes.
Em números arredondados, terminamos 2020 com 82 milhões de refugiados no mundo. Você sabia que isto significa quase o dobro de uma Espanha que tem aproximadamente 46 milhões de habitantes?
Ou mais do que o dobro do número de canadenses que gira em torno dos 37 milhões de habitantes?
Na Europa se fala que, desse número total de refugiados, 45 milhões estão lá …
Estes números variam dependendo da estatística por países, regiões e organizações. Por exemplo a Organização Internacional para Migrações (IOM) registrou na Europa em 2019, um número total de 123.920 indivíduos que chegaram solicitando asilo ou fugindo de alguma situação de força maior. Você pode imaginar um Maracanã lotado de refugiados sem perspectivas de trabalho? E mais ainda: sem conhecer o idioma e cultura deste novo lugar que acabam de chamar “minha casa” ?
Eu tenho que parar por aqui apenas para te apresentar um dos meus mais recentes amigos, Elvis Garcia. Eu o conheci há algumas semanas. Ele e a sua esposa vieram ao grupo de Inglês da Johnna. Logo, eu o vi no nosso grupo de Francês que organizo para refugiados e imigrantes e começamos a conversar…
Você pode ler sobre este projeto de Francês aos imigrantes e refugiados no meu texto “Você vem comigo?”
Enfim, a trajetória deste jovem chamado Elvis está estampada em muitos veículos da mídia internacional e em diversos idiomas. A sua perseverança e determinação em ajudar a outros refugiados, pois um dia ele foi um deles, chegou aos ouvidos do Papa Francisco.
- When Soccer Is More Than a Team; It’s a Sanctuary
- À New York, ces immigrés de Harlem qui attendent le pape
- El hondureño que fundó liga de fútbol para jóvenes migrantes en Nueva York
Eu te convido a assistir a nossa curta conversa, entre eu e o Elvis, e aprender sobre a necessidade de gente que um dia sentiu o que o teu avô ou bisavó passou quando chegou no Brasil, Estados Unidos, Japão, França ou Argentina…
Aliás, mais do que nunca as palavras da Madre Teresa de Calcutá se fazem ouvir: “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”.
Uma boa semana.
Fábio Muniz
Paris, França
**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.
Imagem 01 : Reprodução/UNHCR – The Italian Coastguard / Massimo Sestini
Imagens 02 a 04: Arquivo Pessoal do Colunista
Imagens 05 e 06: Referencias de artigos que sairam na imprensa citados na matéria
Respostas de 4
Muito lindo o depoimento do Elvis! Q Deus o abençoe grandemente nos seus projetos e na sua caminhada!
Que os refugiados de todos os lugares consigam fugir das maldades que os afligem e que consigam ter uma vida melhor e quem sabe ter seus nomes escritos no livro da vida.
Siga escrevendo !!
O Elvis um grande servo de Deus. Entendi q hoje ele é também um missionário …envolvido na obra de Deus. Elvis Deus te abençoe ricamente. Você um HERÓI.
ESTA COLUNA,TEM SIDO BENCAO DE DEUS PARA NOSSAS VIDAS.ATE A PRÓXIMA!
Deus abencoe Fabio e Elvis pelo bonito trabalho com refugiados!O mundo e melhor com pessoas como voces!Que se importam com a dor e necessidade do outro! Meu coracao se elegra! Escreva mais sobre esse tema Fabio!