Esta nova era digital fez bater mais forte o coração de muita gente, acelerou os processos de desenvolvimento e vai fazer tanto mais que até o céu vai duvidar.
É claro que não deixou de acelerar também o desespero de muitos profissionais que viram não somente os seus empregos derreterem no mercado, mas algo muito pior: viram as funções que geravam estes empregos evaporarem da noite para o dia.
O símbolo na antiga economia industrial era uma chaminé ou uma suntuosa caixa d’água com a marca da empresa, hoje, transformou-se num mouse.
Antes quem não tinha dinheiro não poderia ter acesso à informação.
Hoje quem não tem informação não faz dinheiro.
O universo digital está aí fazendo seus milagres, mas ainda precisa de um batalhão de “Santos”.
Precisamos ainda de ratos de livrarias. Aquelas pessoas, como eu, que visitam livrarias à procura de obras que possam amadurecer o Espírito e passar conhecimento ao corpo.
Hoje venho me desenvolvendo como rato virtual, pois visito livrarias na internet praticamente todos os dias.
Recentemente fiz a compra de alguns livros executando todo processo virtual.
Alguns dias depois, estou saindo de casa e um motoqueiro, numa moto que mais parecia uma reencarnação do pai da lambreta, todo vestido com uma capa de plástico preta, surrada ao extremo e um tênis que, sem sombra de dúvidas, vinha sentindo o gosto do asfalto, coloca no banco traseiro, se é que realmente era um banco, o seu capacete picotado de mosquitos, pedriscos e outros iscos, tira uns óculos desses espaciais que estão na moda e diz:
– Tenho uma encomenda para este endereço. O Sr. poderia receber e assinar aqui…
Uma caixa bem ajeitada, mas meio surrada.
Voltei para casa, abri a caixa e lá vem outra caixa muito legal, super embalada e protegida, que trazia em perfeito estado os livros que comprara na internet.
Pensei: a ponta do digital ainda é informal…
Toda sofisticação do digital expandiu a produção de moto-boys e uma economia informal.
Assim também você poderá notar ao visitar a Rua Santa Efigênia, em São Paulo, um centro de eletroeletrônicos, acredito que o maior do Brasil. Ali convivem o sofisticado com o simples, muitas pessoas nas calçadas, difíceis de se andar, e lojas repletas de clientes.
Por mais sofisticada que, uma ideia ou um mercado seja, existe uma maneira simples que poderá ser sua parceira. Não quero dizer com isto que tudo muda apenas para ficar igual, porém é necessário reconhecer que existe ainda muito espaço para as coisas mais simples.
Na história talvez sempre tenha havido tal fato em proporções diferentes.
Eu me recordo que em minha época de “boy-da-mooca” onde um belo fusca era a “baba do quiabo” andando na “vula”, um dos acessórios mais vendidos era um banquinho para cobrir o espaço entre os bancos do Fusca em cima do freio de mão, chamado de “chega-mais”. Servia para as namoradas sentarem mais perto e fazer cafuné enquanto o namorado dirigia –
É, “chega-mais”!
Talvez este seja o momento de criarmos um “chega-mais” nesta nova era digital, onde o informal sempre tenha seu espaço.
Onde você não esteja distante das coisas que realmente fazem nossas emoções fluírem.
Acho triste um batalhão de pessoas relacionarem-se pelos bate-papos da vida, disfarçadas de alguma coisa, escondendo aquilo que realmente são revelando-se, de maneira oculta, por trás de um nome falso, descrições falsas, mas com uma conversa que realmente gostariam de ter no seu dia e não tem.
Falsificar a própria existência através da tela de um computador talvez seja uma maneira destas pessoas saberem quem realmente são e sentirem-se felizes nestas horas de conexão, mas a verdadeira conexão não é a da tela e sim a da vida.
Seja digital, mas não deixe escapar sua melhor parte.
Aquela que realmente faz de você está pessoa especial!
Nunca se esqueça do seu lado informal e se achar que está esquecendo da melhor parte, volte, comece de novo ..
César Romão
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