Eu realmente não acredito que seja possível viver o conceito de empatia na prática. Como é que eu vou sentir o que outra pessoa está sentindo, se cada um de nós é um universo de possibilidades em si. Como eu que sou um homem, sei como uma mulher se sente? Como eu que sou heterossexual, sei como uma pessoa que não é hetero se sente? Como eu que sou branco, saberei o que é o racismo vivido por uma pessoa negra? Bom, poderia dar uma série de exemplos aqui, mas creio que essa é a impossibilidade da empatia, porém, o que acho fundamental vivermos é a sensibilidade pela causa do outro.
Mesmo não sabendo exatamente o que a outra pessoa está passando eu posso ser solidário com essa pessoa, apoiar e até mesmo combater qualquer tipo de preconceito ou discriminação que ela esteja sofrendo, se for esse o caso.
Meu dia a dia como consultor de treinamento corporativo me proporciona a possibilidade de inúmeros aprendizados. Tenho acesso a culturas e valores das mais variadas regiões do Brasil e do mundo. Eu realmente sou privilegiado e tenho sempre a humildade de estar disponível ao novo.
E foi exatamente nesse contexto que tive duas experiencias incríveis de aprendizagem, ouvindo um palestrante cego falando sobre diversidade e inclusão e um diretor machista tentando animar seu time e excluindo as mulheres em sala, sem se quer perceber (será?).
Quando chego em um evento e minha participação é antecedida por algum palestrante ou alguém da própria empresa eu sempre me esforço para participar e construir possíveis conexões com o que eu vou trazer. E foi assim que tudo aconteceu naquela semana, tanto um quanto o outro me trouxeram excelente reflexões e aprendizados.
Claro que com o primeiro aprendi o que fazer e com o segundo o que NÃO fazer. E o mais incrível, os dois aconteceram na mesma semana, é como se Deus quisesse me dar uma amostra de aprendizado concreto, na prática e com evidências.
No primeiro, com o palestrante cego, tive a oportunidade de entender uma série de vieses da nossa cultura que estão tão enraizados que eu nem mesmo tinha percebido que preciso melhorar meu olhar para algumas coisas que estão escancaradas na nossa sociedade e que até então não me chocavam, como o volume de negros em funções operacionais e que para minha surpresa, no espaço de eventos que estávamos no mínimo 80% dos profissionais de portaria, recepção, serviço de mesas, áudio e vídeo eram negros e mais de 90% dos participantes da empresa eram brancos. Nada contra nenhuma dessas profissões até porque todos eram ótimos, mas não era só uma estatística ali; para mim; era um fato.
Além disso outro grande aprendizado foi sobre a diferença entre diversidade e inclusão. As empresas estão cheias de planos sobre diversidade, estabelecendo cotas para tudo, mulheres na liderança, contratações de negros, trans e etc. Claro que esse movimento é muito importante, mas ele é só o começo, a ponta do iceberg. Nessa palestra entendi que viver essa diversidade em contratações e cargos é muito legal, mas será que essas pessoas estão realmente sendo incluídas? Elas são ouvidas quando dão ideias? A opinião dessas pessoas é levada em consideração numa tomada de decisão? No discurso do dia a dia elas se sentem realmente fazendo parte ou são apenas números da tal diversidade?
Com essas provocações já me coloquei a pensar e entender que realmente temos um longo caminho pela frente sobre inclusão. E para minha surpresa na mesma semana em outro evento, também acompanhando o conteúdo de abertura antes da minha participação, sou surpreendido por um diretor que na tentativa de motivar seu time de líderes operacionais começa o discurso perguntando “Quem é casada com uma mulher brava?” E em nenhum momento faz menção aos 20% de mulheres que tínhamos em sala. Até aí relevei e pensei “ele vai melhorar” aí veio uma piada machista atras da outra. Nesse momento, mesmo não sendo mulher, começo a me incomodar a ponto de sair da sala para tomar um café. Volto 5 minutos depois e ele está simplesmente trocando uma ideia com os homens da sala e nenhuma referência no seu discurso as mulheres, mesmo fora das piadas. Foi uma aula de exclusão, a ponto de abrir a minha palestra perguntando as mulheres se elas eram casadas com pessoas bravas, seja homens ou mulheres. E tão inconformado que eu estava expliquei a diferença de diversidade e inclusão, indaguei então os participantes sobre não adiantar colocar as mulheres ali na liderança operacional e não aproveitar toda a competência delas no dia a dia.
Para mim essa é a lição dessa semana. Mais do que diversidade de tudo quanto é coisa, temos que considerar o ser humano em todas as suas infinitas possibilidades. E mais do que cotas por isso ou por aquilo temos que potencializar as pessoas para ocuparem cargos por competência e mérito.
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Imagem: Palestra de Sucesso