Muita gente fala sobre gratidão, um substantivo importante em nossa vida. Mas a palavra em si é apenas um substantivo, ela precisa se transformar em verbo, ou seja, uma ação que realmente demonstre que somos gratos a algo que aconteceu ou a alguém, que de alguma forma, fez algo significativo para nós.
Na minha reflexão de hoje vou falar sobre a importância da gratidão, mas trazendo à tona tudo o que perdemos quando não somos gratos, seja por algo que aconteceu ou simplesmente pela vida que temos.
O fato de não termos essa capacidade de reconhecer tudo de bom que acontece na nossa vida pode trazer uma percepção completamente equivocada da própria realidade e o mesmo acontece com as pessoas que fazem coisas boas por nós e não reconhecemos. Vamos perdendo, assim, a rede de apoio que é tão fundamental.
De uma perspectiva de realidade percebida, a ingratidão pode trazer uma falsa impressão de que somos seres autossuficientes e que damos conta sozinho de tudo o que vivemos. Pior que isso, a ingratidão pode nos dar a falsa impressão de realização sem a mínima colaboração de ninguém, como se fosse possível viver realizações de vida sem a ajuda, apoio ou inspiração de alguém.
Talvez uma realização possa parecer que foi por um esforço exclusivo nosso, mas te garanto que se lembrarmos com o coração um pouco mais aberto, lembraremos no mínimo que alguém que nos inspirou e isso já bastaria para viver o ato de agradecer.
Agora, pensando por uma perspectiva emocional, imagino que pessoas que vivem a vida de forma ingrata desenvolvam uma emoção equivocada de solidão, exatamente, se você não é grato a nada e principalmente ninguém você está sozinho ou sozinha na vida.
Como será possível não ser grato a nada e nem ninguém e ter o sentimento que as pessoas são realmente importantes para nós. Qual será a emoção diante de uma conquista para uma pessoa ingrata? Como eu sou incrível? Impressionante a minha capacidade de conquistar coisas sozinho? Eu me basto? Uma emoção avassaladora no meu ponto de vista e que pode ser inclusive destrutiva.
A terceira perspectiva que quero trazer aqui é a espiritual, como é possível viver uma vida de forma grata, sem acreditar que algo maior que você te ajudou? E eu posso falar desse lugar com muita propriedade, porque já fui muito ingrato com Deus e hoje numa vida prospera em todas as suas áreas posso afirmar com toda certeza, o quanto Deus é bom comigo e eu me esforço muito para fazer a minha parte. A ingratidão traz consigo uma perspectiva de distanciamento com a nossa vida espiritual.
Eu não sei qual é a sua crença, mas eu sei que Deus vem sendo muito generoso comigo e eu não tenho o direito de não reconhecer e agradecer. Agora todos percebem?
Além dessas perspectivas tem algo na ingratidão que me deixa inconformado, que é a falta de percepção da própria ingratidão. Vejo vidas sendo desperdiçadas em prol de uma individualidade e de uma falsa autossuficiência que não se sustentará por muito tempo e as pessoas continuam achando que é azar e que o mundo não as entende, terceirizando algo por um orgulho tolo que não os levará a nada.
Viver de forma ingrata é cavar a própria cova esperando que o mundo caia dentro, é acreditar que como ser humano social possamos dar conta das coisas sem uma boa rede de apoio, ou que essa rede de apoio irá se sustentar sem o devido reconhecimento. Sei que as pessoas deveriam fazer pelo outro sem esperar nada em troca, mas um simples reconhecimento é sempre bem-vindo e não deveria ser tão difícil de ser dado.
**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.
Imagem 01 e 02: Arquediocesano