Esses dias minha esposa me perguntou se eu tinha vergonha de alguma coisa, rapidamente e sem nenhuma dúvida respondi “Se tenho não me lembro”. Ela insistiu em querer saber se tinha algo que se eu fizesse me deixaria com vergonha, como eu trabalho com treinamentos e palestras estou bem acostumado com grandes públicos, claro que fico um pouco apreensivo antes de subir ao palco, mas pelo compromisso de transmissão de conhecimento e não por vergonha. Foi interessante esse momento, pois me fez parar para pensar sobre a minha vida e trajetória e realmente o fato de não ter vergonha sempre me permitiu a ousadia de fazer coisas inusitadas. Eu sempre fui audacioso em alguns projetos, mesmo sem experiencia me lancei a desafios que hoje posso perceber que colho frutos.
Meu primeiro emprego fui professor de informática mesmo não entendendo nada de computadores, mas a falta de vergonha me permitiu estar a frente de sala, afinal um curso apostilado e um bom amigo para preparar as aulas comigo me fizeram ter sucesso por alguns meses. Fui vendedor de plásticos com mau pai, batia de porta em porta em cliente mesmo não entendendo nada dos materiais, claro que depois fui aprendendo. Fui balconista de farmácia, aprendi até a dar injeção intramuscular e intravenosa, um bando de loucos. Dei aulas de natação, essa pelo menos eu entendia bastante. Dentre muitas outras coisas que já fiz na vida a falta de vergonha e muito estudo me trouxeram até aqui, mas começou pela ousadia de substituir uma amiga fonoaudiólogo em um treinamento de comunicação, a falta desse tipo de vergonha me trouxe onde estou hoje e espero que ela me leve muito mais longe.
Mas, num diálogo com um taxista em Curitiba eu percebi que vivo a minha vida de forma honesta porque tenho medo de passar duas possíveis vergonhas. Foi numa conversa sobre valores morais com um taxista, falando sobre Deus e família que percebi que tenho as vergonhas certas. Além disso percebo que muita gente ao meu redor, pessoas próximas a mim, perderam o bom senso e a dignidade que essas vergonhas possam trazer. As pessoas perderam a vergonha que traz a dignidade diante de uma relação social e cultural de honra e palavra. Não reconhecem os valores e não honram própria história. Buscam a todo momento justificar suas atitudes em terceiros, responsabilizar os outros pela própria falência moral e se apoiam em verdades infundadas para suportar a desordem da própria vida.
Lembrei de momentos de uma adolescência e início da fase adulta de uma vida muito feliz e cheia de aventuras. Meus pais sempre me preparam para o mundo, com muita orientação e liberdade. Aos 16 anos já trabalhava e tinha meu próprio dinheiro para curtir a vida, éramos em alguns amigos e a vida sempre foi um terreno fértil de autoconhecimento. Tínhamos a nossa disposição tudo que precisávamos, saúde, disposição, grana, carro e muita vontade de ser feliz. Mas tudo tinha limite e o limite era uma linha tênue que aparecia pela VERGONHA que seria se meus pais imaginassem que eu pudesse usar uma droga ou cometer algum ato ilícito. A vergonha era sentida na hora como o medo de ser descoberto, desmascarado e de alguma forma decepcionar meus pais depois de tudo que eles haviam feito por mim.
Atualmente sou casado e pai de duas meninas. Vivo uma vida abençoada de trabalho prospero e abundante, temos uma vida confortável e com pitadas de regalias. Viajo o Brasil realizando meus treinamentos, brinco muito, me divirto e ganho um bom dinheiro. Tenho a possibilidade de fazer muitas coisas que antigamente não podia e isso me deixa muito feliz por saber que estou construindo a muito custo uma liberdade de poder ter cada vez mais experiencias de vida, mas tudo tem limite e esse limite é estabelecido pelo medo de envergonhar minha esposa e filhas. Não faço nada errado porque não quero decepcioná-las, então cuido de todos meus comportamentos.
A vergonha que trago nessa reflexão não é o ato descontraído de uma pessoa extrovertida, a vergonha que trago aqui é a importante vergonha de honrar teu pai e tua mãe e a tua família. Essa vergonha é extremamente importante para que sigamos em linha reta com valores e princípios de uma vida digna.
Então, por favor, tenha vergonha na cara.
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