Já faz algum tempo que tenho vontade de falar sobre isso, mas sempre vem aquele medo de me expressar mal, fazer alguma colocação equivocada ou simplesmente incomodar alguém mais, digamos, conservador (muitas vezes, preconceituoso mesmo). Não é bobagem pensar assim; afinal, quantas pessoas crucificaram a atitude assumida da apresentadora da Globo Fernanda Gentil? Quantas chamaram essa mulher maravilhosa, solidária com o próximo e profissional de sapatão como xingamento?
O fato é que, aos 34 anos, tenho cada vez mais amigas, até então heterossexuais, que se relacionam com mulheres. Falo de beijo na boca, de namoro e até casamento. E sinto que isso precisa ser conversado abertamente, afinal, em que ano estamos mesmo?
Uma delas me contou, há alguns dias, como foi sua experiência de namoro homossexual por um ano: pressão social, mentiras, sexo incrível e um afeto descomunal entre o casal – às vezes, um ciúme incontrolável. Segundo ela, a relação com uma amiga que a fazia gozar (assim definimos no nosso papo) é poderosa porque “mulheres costumam entender muito bem o prazer e o gosto da outra”. Também, pela experiência dela, a namorada era mais ciumenta que seus parceiros anteriores porque “qualquer conversa, com mulher ou homem, podia ser entendida como uma paquera”.
Por outro lado, a curiosidade invasiva e maldosa de amigos e parentes a fazia mentir para não ouvir “baboseiras”. Muitas vezes, ela confidenciou, fingia que a namorada era apenas uma amiga. Para muitas pessoas próximas, ela jamais se abriu. Assim que o relacionamento acabou, há poucas semanas, havia ainda dúvidas e muita insegurança: “Será que ainda gosto de mulheres? Ela foi a única? Consigo engatar um namoro hétero depois de tudo isso?”. Doze meses e consciente do que viveu, ela ainda tenta recorre a rótulos: “descobri que sou bissexual”.
Acho é que ela é forte, corajosa e, ao contrário de muita gente, se permite viver o novo, o diferente.
Qual é a dificuldade em pensar e admitir que pessoas podem se apaixonar por pessoas sem termos pré-definidos ou julgamentos?
Já ouvi coisas do tipo: “Ela já tem um filho, como pode se casar, agora, com uma mulher?” ou “Ela é tão bonita, será que não consegue um homem?”. Poxa vida, é melhor julgar e se afastar da amiga, da filha, da mãe ou da tia ou aceitar que o amor é de cada um, é bonito e faz bem?