O CDC, órgão dos Estados Unidos, publicou novo número de prevalência de autismo: 1 em cada 31 crianças de 8 anos nos EUA foi diagnosticada em 2022. A maior prevalência já registrada no país.
O CDC é a sigla para Center for Disease Control and Prevention, ou Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em português, atua em diversas frentes — de pandemias a doenças crônicas, de acidentes a surtos epidemiológicos — e, há mais de 20 anos, vem se dedicando também ao monitoramento de condições do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O número confirma o que muitas de nós já percebíamos nas escolas, nas filas de espera por terapias, nos grupos de apoio: as pessoas com TEA sempre estiveram aqui. O que está mudando é a nossa capacidade de vê-las.
Há vinte anos, em 2000, a o CDC estimava 1 em cada 150 crianças. Em 2006, esse número já era 1 em 110. Em 2010, saltou para 1 em 68. A cada dois anos, os relatórios do CDC mostravam o que, muitas vezes, as famílias já sabiam na prática: o número de diagnósticos aumentava não porque havia “mais autismo”, mas porque finalmente começávamos a olhar com mais cuidado.
Em 2020, os dados apontaram 1 em 36. E agora, chegamos ao número atual: 1 em cada 31 crianças com diagnóstico de TEA. O gráfico dessa evolução é uma curva de visibilidade. Porque toda criança que é vista pode ser cuidada. Toda criança que é compreendida pode ser incluída.
Aqui no Brasil, um estudo conduzido pela Universidade de Passo Fundo (UPF), em parceria com a APAE de Coxilha (RS), trouxe dados que colocam o Brasil na mesma direção dos EUA: 1 em cada 30 crianças, entre 2,5 e 12 anos, apresentou diagnóstico de TEA (ver aqui).
Receber o diagnóstico de TEA pode ser assustador, especialmente para quem nunca ouviu falar no espectro. Mas esse momento também pode ser o ponto de partida de uma nova forma de cuidar.
Com o diagnóstico, vêm os direitos: acesso a terapias pelo SUS ou plano de saúde, possibilidade de acompanhamento escolar, benefícios sociais, adaptações pedagógicas, isenções fiscais. E, mais do que isso, vem o entendimento. Aquela criança que parecia “difícil” passa a ser compreendida como ela é — uma criança que sente o mundo de um jeito diferente, mas tão legítimo quanto qualquer outro.
Esses dados da pesquisa falam de uma nova consciência. De famílias que não aceitam mais o “espera mais um pouco”. Porque quando uma criança é diagnosticada tardiamente, todos perdem. Mas quando ela é acolhida desde cedo, toda a comunidade se transforma.
O diagnóstico precoce abre uma possibilidade de dar à criança o que ela precisa para se desenvolver com dignidade.
E nós, familiares, seguimos lutando por isso: por uma sociedade que veja, reconheça, acolha e atenda cada pessoa com TEA com o respeito e o amor que toda vida merece.
Se você está começando essa jornada agora, ou se já está nela há anos, saiba que não está sozinha. Aqui é um espaço de acolhimento e escuta. Compartilhe suas dúvidas, sua experiência, sua história.
Um beijo e até a próxima quarta-feira.
Juçara Baleki,
@querotratamento
Fontes:
https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/74/ss/ss7402a1.htm