O caminho da espiritualidade é uma jornada pessoal e irrepetível.
É uma trilha que se faz através de experiências únicas — entre lágrimas e esperança, entre dúvidas e explosões de fé.
É um percurso que aceita paradoxos e tensões, sem exigir respostas prontas.
Os anos passam. Estou na esquina de completar meio século de vida, e nestas últimas décadas, tudo parece ter se acelerado: culturas, pessoas, histórias acumuladas… Tudo me convida a uma síntese tão simples que, paradoxalmente, se torna complexa por ser simples.
Você já percebeu?
A beleza da vida mora no olhar surpreso de uma criança.
A alegria não está no hotel mais luxuoso, nem na viagem mais cara — mas no silêncio do jardim ao entardecer, ou na poltrona que sussurra: “Pare. Respire. Existe.”
Vejo gente com tantas posses que já não enxergam o céu como galeria de arte divina.
Vejo acadêmicos que perderam o brilho do amanhecer.
Vejo paladares entorpecidos por banquetes, incapazes de saborear o pão simples.
E ouço vozes:
“Queria uma casa, mas tenho um apartamento.”
“Queria ser solteiro, mas estou preso no casamento.”
“Queria ter abraçado meus pais enquanto podia.”
A alma humana é um mistério.
Ela se perde em labirintos psicológicos, nos aprisiona no passado, enquanto o agora — tão óbvio — escorre entre os dedos. Thomas Keating, um monge trapista americano, teólogo e pioneiro no movimento contemporâneo de meditação e prática de oração contemplativa, dizia: “De que adianta escalar montanhas se perdemos a capacidade de nos maravilhar com uma folha ao vento?” Eu acho isto fantástico! Eu vou repetir.
“De que adianta escalar montanhas se perdemos a capacidade de nos maravilhar com uma folha ao vento?”
Que esta coluna seja um convite para você hoje.
Liberte-se das sutilezas do engano que disfarçam a verdadeira humildade.
Deixe-se envolver pelo sagrado do cotidiano.
E mais ainda, como Keating lembra: “Deus não está no alto de uma escada, mas no chão onde pisamos.”
Que Ele nos ajude a enxergar — antes que o tempo nos ensine que a alegria sempre esteve ali, mas eu não percebi porque estava muito ocupado. Que Ele nos ajude a enxergar — antes que o tempo nos ensine que a alegria sempre esteve ali, no pão partido, no abraço inesperado, no silêncio que canta, mas eu não percebi porque estava muito distraído.
Fábio
Collonges au Mont D’or