Crítica: Sweet Virginia (2017)

Fico bastante feliz quando algum nome da nova cena cinematográfica em que aposto, começa a ganhar notoriedade e novas oportunidades de mostrar seu talento. E não digo isso como uma forma de me vangloriar por ter feito a descoberta. Fico contente porque a cada nova oportunidade que o referido nome tem, mais o público (eu incluído, é claro), tem a possibilidade de assistir a novos exemplares do bom cinema.

O nome ao qual estou me referindo desta vez é o do jovem diretor e roteirista Jamie M. Dagg, que em 2015 dirigiu um pequeno filme do qual gostei muito, o tenso River, produção que colocou o nome do jovem cineasta no meu radar. Dagg retorna dois anos depois com este não menos tenso e bastante superior Sweet Virginia (CAN/EUA, 2017), thriller que conta ainda com dois nomes que estão em plenos holofotes de Hollywood: os mal-encarados e talentosos Jon Bernthal e Christopher Abbott, dois dos melhores intérpretes de sua geração.

Neste Sweet Virginia, particularmente, Abbott comanda o show em uma interpretação intensa, cujo personagem adentra a galeria dos grandes psicopatas do cinema, com toda certeza. Vale lembrar que Abbott apareceu muito bem em outras duas obras neste 2017; a série The Sinner (em que tem um papel menor), e no excelente thriller Ao Cair da Noite (It Comes at Night), cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli.

A atuação na medida de Abbott dá o tom desta implacável saga de crime, onde ele interpreta um assassino profissional caladão, que é chegado em brincar sadicamente com suas vítimas, bem ao estilo do demente Anton Chigurh, personagem inesquecível interpretado por Javier Bardem no neo-clássico dos irmãos Coen, Onde Os Fracos Não Tem Vez (No Country For Old Men, 2007). O cinema dos Coen, inclusive, nitidamente influencia o trabalho do diretor Dagg em seu filme. Sweet Virginia funciona quase como que um neo-noir; retratando uma onda de crimes causada por um homem só, responsável por varrer, sozinho, uma pequena cidade do mapa. O Elwood (nada de sobrenome aqui) de Abbott é nada menos do que uma força da natureza.

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Sweet Virginia se passa em um verdejante vale do Alasca, e seus funestos eventos têm início com um assassinato que deu errado. Lila (a bela Imogen Poots, do ótimo thriller Sala Verde), contrata os serviços de Elwood para matar seu marido adúltero. Contudo, o assassino de fora da cidade mostra-se um tanto impaciente, e acaba matando dois outros homens junto de seu alvo.

Uma das vítimas de Elwood era o marido de Bernadette (Rosemarie Dewitt, de La La Land, 2016), porém, a viúva não dormia com o marido há vários anos, passando a maioria das noites no motel Sweet Virginia, onde Sam (Bernthal), o triste e bom-coração proprietário do local, sempre cuidou de suas necessidades. Sam ainda não sabe, mas ele está alugando um dos quartos para a pessoa responsável pelo recente derramamento de sangue, e Elwood não sairá enquanto Lila não o pagar pelo serviço. No entanto, Lila está prestes a descobrir que seu marido a deixou com mais dívidas do que imagina, e a situação sai completamente fora do controle para todos os envolvidos.

O diretor Dagg não perde tempo e cria uma atmosfera sufocante, repleta de suspense. Cada frame da fotografia à cargo da francesa Jessica Lee Gagné pulsa com potencial para a violência. Com enxutos 95 minutos de duração, o filme é cativante do início ao fim. Como mencionei, Abbott traz uma atuação nervosa, na criação de um personagem raivoso que não se preocupa nem um pouco em descer a porrada em estranhos. Bernthal também está fenomenal, em um papel que vai na contramão dos tipos machões que costuma interpretar em filmes como Pilgrimage (cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), e nas séries da Netflix Daredevil e The Punisher. Aqui, Bernthal interpreta um homem vulnerável, machucado pelo passado.

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Sweet Virginia (que também é o nome do motel de Sam), eventualmente se desenrola como uma história sobre a dor do passado e o custo de deixar este passado para trás. Ainda assim, este subtexto não tem a força dos prazeres viscerais que o filme oferece. Graças ao score musical repleto de cordas dos irmãos compositores Brooke e Will Blair (de Wheelman e Pequenos Delitos, duas produções Netflix cujas críticas você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), e ao inteligente uso de um humor mordaz no roteiro, Sweet Virginia consegue ser vibrante mesmo quando soa um tanto insubstancial. A mão firme de Dagg cria um implacável mundo em que os caras maus são capazes de amar, e onde os caras bons são plenamente capazes de cometer selvageria.

Talvez seja melhor, como um dos personagens diz em um dado momento do filme, “morrer de coração partido, do que com um tiro de revólver. Porém, nenhum dos dois jeitos é uma boa maneira de partir”.

Sweet Virginia não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país através de serviços de streaming e VOD.

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Uma resposta

  1. Dois pontos fracos no filme na hora do assalto o assassino não matou a mulher e pra piorar na saida do motel ele ainda sai com uma camisa básica branca baleado no frio terrível, estão substimando a nossa inteligência.

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