Há um barulho cá dentro.

Aquela sensação de que alguma coisa saiu do lugar sem que eu permitisse. Algumas gavetas eu abri e acabei bagunçando, é verdade. Mas outras  estão emperradas e nelas há poeira e silêncio.

Amanheci assim: entre o poder que tenho nas mãos e a incerteza dos dias.

Quando esse troço esquisito acontece, todas as mulheres que me habitam vêm à superfície. Cada uma delas tem sua fala, sua marca, suas bandeiras e com a mesma intensidade em energia e vida, vão passeando por mim, revisitando situações, lugares e ciclos . Me sinto como em uma grande conferência, repleta de convidados, em que eu estou ali para intermediar a conversa.

Vejo e revejo cada passo meu, cada conquista e avanço e percebo o quanto ainda sou aprendiz. Me cobro mais do que deveria, às vezes, “peso geral na minha”, perco a mão e me penitencio.

Isso não é bom e não faz bem. Microfones abertos, ouço: “A vida já tem algozes diários, mulher. Não precisamos que você pegue as chibatas.”

Ponho uma música de fundo, começo a dançar…

Minha criança surge e sorri olhando nos meus olhos.Ela é tão sublime que sua delicadeza me encanta. Respiro. Solto. Relaxo.

” Seja mais leve. Pare de levar tudo tão a sério”- ela lança as palavras no vento e sai da cena.

Sorrio para ela e devolvo este sorriso para mim.

” Acalma teu peito, mulher”, você é gigante.

“ Olha para o lugar de onde saiu e reconsideres o salto que destes! “

Às vezes, acho que é esse o bálsamo que nos falta. Esse perdão, esse abraço, esse entrelaçar de mãos. Remédio que não está no outro, não está para fora e nem noutro lugar.

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Saio para caminhar.

Meu corpo está ativo e em mim pulsa a vida marcando compasso, meu riso, meu pranto, minhas histórias.

Abraço-me!

Observo as flores no caminho. Algumas estão sem botão, quase nuas.

Outras estão prestes a desabrochar e, neste instante, com a beleza do ineditismo, tudo volta para o seu lugar. Todas as peças se encaixam. Não estar no controle também é uma lição a ser aprendida. Deixar com que a vida me surpreenda para além da minha pequenez e espera, para além daquilo que me parece o óbvio, a próxima página, o próximo lance.

Agradeço a oportunidade de fitar a lua, de me inundar de sol e de sonhar!

Ah, sim! Quantos sonhos eu tenho a realizar…

Nobre senhora descalça a pular poças d’água, em alma tão menina.

 

 

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Imagem: Arquivo pessoal da colunista

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