Roberta de Moraes: Cálice

Minha vontade transpassa teus olhos. Lentamente misturo nossos braços. Toco teus medos, aconchego tua boca que sorve o vermelho líquido do cálice. Obverso que uma gota repousa em teus lábios. E ali permanece. Dedilho suave e precisamente a tua morada. Grandioso Porto. Tuas portas se abrem… Sem esforços. Entro!

Eu reconheço teus desenhos: cada traço, cada sinal, todas as tuas esquinas. Embaraço-me, dissolvo e desfaço. Renasço num tempo infinito entre voos e pousos.  Dos teus negros cabelos, água de beber. O sal. Teus poros vazam. Teus olhos decoram a minha existência. Minha boca percorre teu solo. Abro-te o chão. Voas e vens… Manso e bicho, desnudando minhas fronteiras a céu aberto. A viagem interminável e sem destino de quem reencontra a soma. Nos espelhos abaixo da lua cheia nossas imagens dançam. Pulsam. São. E a noite cai. Sorrateira. Silenciosa. Há um universo além daqui. Nossos sorrisos conhecem a história que discursamos – palavras desnecessárias para amantes de outros ontens. Assim, entre sons de harmonia perfeita estabelecemos o nós.

Quantas terras percorridas nos teus muitos anos, nas minhas muitas vidas… áridos desertos povoados, terras de ninguém. Tanta saudade daquilo que não cabe dentro, tamanho é, e que nunca antes se viu. Até aqui. E aqui estamos! Homem e mulher, reunidos, a entender o infinito, a saciar a fome de tantas manhãs… A baixar as guardas, a tirar as vendas, a descobrir as fendas… Transbordando, inundando e escorrendo pelo mesmo rio.

 

Roberta de Moraes

 

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

 

Imagem: Carlos Sales

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