NORMOSE – a patologia da normalidade

Você já pensou que ser normal ou dito normal pode não ser uma coisa tão legal assim? Você já ouviu falar do conceito de Normose? Normose é um conceito novo, trazido por alguns autores da Psicologia Transpessoal, notadamente por Pierre Weil, doutor em Psicologia pela Universidade de Paris e outros autores importantes. Trata-se de um conceito que lida com a idéia do que é considerado “ser normal” numa determinada sociedade ou grupo e do quanto este comportamento de seguir e se adequar à normalidade pode causar sofrimento, ou não, depende de como nos relacionamos com os parâmetros adotados.
Todos nós queremos e precisamos estar inseridos num grupo social e todo grupo tem suas regras, que são o resultado de um “acordo” entre os integrantes desse grupo. Porém, algumas destas regras podem gerar atitudes que causam profundo sofrimento no outro ou mesmo em quem as pratica.
Vamos pegar como exemplo o hábito de fumar. Durante muito tempo foi considerado normal fumar, e até mesmo símbolo de status dentro da nossa sociedade. Quem fumava tinha charme, quem não fumava era caipira, sem graça. Hoje em dia, fumar é visto com censura, mas o quê de fato mudou? Fumar sempre fez mal à saúde… o ato de fumar e os cigarros não mudaram. Então o que mudou foi a relação de toda a sociedade com esse hábito? O que mudou foi o valor que damos hoje ao fumar. Outro hábito dito “normal” e que também gera um grau de perda considerável é a bebedeira do final de semana. Ir para uma balada e não beber é completamente fora do normal…

Então, quando pensamos nestas atitudes comuns a todos nós, começamos a perceber que a normose é muito mais difundida em nossa sociedade do que parece. Para Pierre Weil: “Há uma crença bastante enraizada segundo a qual tudo o que a maioria das pessoas sente, acredita ou faz, deve ser considerado normal.”

Existem inúmeras formas de normose e todos sofremos dela em maior ou menor grau – temos que ter um carro bacana, um emprego bacana, uma casa bacana, diversão no final de semana, roupas novas, uma mulher maravilhosa ou um homem bem-sucedido… E por aí vai.

O conceito de normose esbarra na busca pela felicidade, seja ela no ter ou no ser. A necessidade de aceitação e reconhecimento muitas vezes faz com que o desejo pessoal e essencial seja sacrificado e então nos rendemos ao padrão.

Quantas vezes não ouvimos pessoas próximas dizerem que queriam largar tudo e mudar de vida? O que este cansaço, tão costumeiro, está querendo nos dizer?

Nesse sentido, ser saudável é ser capaz de se inquietar, de se indagar, de procurar respostas para as perguntas que nos dão um tranco, que nos provocam um olhar fora do normal. Então, como sair disso?

Uma coisa precisa ficar bem clara: gostar de boa comida, tomar uma bebida numa festa ou jantar, vestir-se com prazer e muitas outras atitudes não são normóticas em si. O problema está na motivação interna e nos objetivos que são esperados destas ações. Nem todo sonho bom para todos tem que bom para mim também. Como foi dito acima, a necessidade de ser aceito, de ser igual, é um dos maiores motivadores de ações normóticas. E junto com esta necessidade caminha o medo de sermos autênticos. No momento em que somos verdadeiros, não somos normóticos…

E a reflexão que fica é – quero ousar ir além, me atrever a descobrir o máximo sobre mim mesmo, ou decido me conformar e seguir com a mesma visão de mundo e de mim mesmo, que venho tendo até aqui?

 

 

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Imagem 01: Roberto Crema

Imagem 02: Portal do envelhecimento

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