Um dia assistindo uma entrevista com o Brene Brown, autora do livro “A coragem de ser imperfeito”, a jornalista perguntou para ela algo sobre a pior vulnerabilidade que alguém poderia sentir, a grande surpresa apareceu quando ela respondeu “ser feliz”. Ela continuou dando um exemplo que eu me reconheci imediatamente. Ela comentou sobre uma sensação muito comum que temos, quando tudo está indo bem demais costumamos falar “está muito bom para ser verdade” ou “que estranho, algo vai dar errado”. É como se esperássemos as coisas ruins acontecerem, como se a vida não pudéssemos simplesmente ser boa e mais coisas boas acontecerem.
Alguns autores inclusive dizem que mais de 90% dos nossos problemas não irão acontecer, mas eles de alguma maneira já acontecem na nossa cabeça. Já notou isso? Vivemos vários problemas na nossa cabeça mesmo antes dele acontecer, é muito realmente não acontecerem. Não sei dizer se são 90% mas, que eu vivo muitas vezes essa situação. Certa vez comentei sobre isso com um amigo terapeuta e ele me explicou que vivemos mentalmente situações difíceis na nossa mente para nos preparar caso a situação realmente aconteça, achei estranho, porém, fez sentido. É como se nos prepararemos para o pior e se ele acontecer já avisamos pensando e no preparado, o impacto será emocionalmente menor e se ele não acontecer (o que é mais frequente) será um “lucro” na vida.
Agora vamos falar sobre o direito de se sentir feliz. Não sei como é para vocês, eu vivo muitas sensações ao longo dos meus dias. É verdade, tem dias que simplesmente acordo e a sensação no corpo é de plenitude, nada de especial está acontecendo e eu simplesmente estou feliz. Tem dias que está tudo indo bem e simplesmente eu não estou tão feliz. Tem momentos de pressão e caos absolutos e eu estou otimista e tranquilo. Tem outros momentos que nada demais está acontecendo eu estou simplesmente estressado. Nem vou falar da minha vida, vou falar do meu dia emocional e ele se parece muito com um eletrocardiograma, altos picos de alegria e altas baixas de desânimo. Talvez eu seja Humano Demasiado Humano, como uma das obras de Friedrich Nietzsche.
Tem horas que eu apenas penso no livro “A sociedade do cansaço” um ensaio do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han sobre o ser uma resposta do corpo para o excesso de positividade e cobrança que a impõe. Estou de férias em com a minha família e conscientemente eu sei que trabalhei muito esse ano para estar aqui. Mas, nesses primeiros dias ainda me sinto estranho, é como se eu estivesse fazendo algo errado, fora do esperado, me questionando se realmente eu deveria estar aqui. Sei que são apenas os primeiros dias, como se houvesse um certo delay para o modo férias, mas tenho que assumir que é estranho. E não estou falando apenas de trabalho, estou falando de família também, todos estão no Brasil e eu aqui, será que isso é certo?
Eu sei que tenho tido direto de estar aqui, muito trabalho, distância da família o ano inteiro, noites mal dormidas, tenho todos os pontos factíveis para isso, mas ainda sim tem algo estranho pra mim em todo início de férias. É quando me percebo vivendo uma cultura totalmente diferente da que fui criado é como se rompessem os laços e são os laços que meu sempre quis romper, porque será que é tão esquisita a sensação. Essa é a estranha sensação avassaladora que sinto quando conquisto algo que sempre desejei. Enquanto tudo não passava de um sonho estava muito mais fácil, inclusive doía menos quando não acontecia porque era simplesmente um sonho. Mas quando um sonho se torna realidade parece que o peso da responsabilidade vem na mesma proporção dizendo “e agora que você atingiu como vai se sentir? ”, não sei explicar muito bem isso tudo, só sei que as vezes quando conquisto algo não me sinto simplesmente feliz.
Essa é a minha reflexão de hoje, porque simplesmente não nos sentimos felizes? Porque muitas vezes quando tudo vai bem achamos estranhos e ficamos esperando o algo acontecer? Porque as vezes parece mais fácil não ser feliz? Essas são questões importantes para minha vida e continuo na luta por respostas, porque ainda mantenho o otimismo que um dia serei simplesmente feliz, por nada.
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