Belém, COP30 e a corrida por lucro: quando o desenvolvimento vira argumento (e armadilha)

De 10 a 21 de novembro de 2025, Belém vai sediar a COP30 — a conferência da ONU sobre o clima. Um marco histórico, especialmente por ser a primeira vez que o evento acontece na Amazônia. E, como viajante, jornalista e alguém que fala sobre experiências e hospedagens, eu vejo tudo isso com empolgação… mas também com uma pulga atrás da orelha.

É lindo ver o Norte do Brasil ganhando protagonismo. Sou totalmente a favor do evento ser sediado na região. Não só porque coloca a Amazônia no centro do debate global — que é onde ela precisa estar — mas porque isso pode, sim, impulsionar o desenvolvimento local, valorizar a cultura amazônica e movimentar o turismo de forma mais consciente.

Mas… e aí vem o “mas”.

Nos últimos meses, Belém tem vivido uma verdadeira corrida da hotelaria. Novas redes chegando, obras aceleradas, renovações de espaços para dar conta da alta demanda. Isso, em tese, é ótimo. Gera emprego, aquece a economia, coloca a cidade no radar de quem nunca tinha pensado em visitá-la antes.
Só que ao mesmo tempo, os preços dispararam. E não falo só de tarifas no período da conferência — que já estão absurdamente altas, mesmo faltando mais de um ano. Falo do efeito colateral que isso pode causar no turismo como um todo e, principalmente, para os próprios moradores.

Me pergunto: será que estamos criando um ciclo de desenvolvimento verdadeiro ou apenas mais uma vitrine provisória para o mercado lucrar o máximo possível em pouco tempo?

Quando tudo vira oportunidade de lucro, até mesmo uma conferência voltada para o meio ambiente e justiça climática pode acabar sendo contraditória. Porque, no final, quem deveria ser o centro das discussões (as pessoas e o território) acaba ficando de lado.

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A COP30 pode (e deve) ser um divisor de águas para a região. Mas torço para que a gente não caia na armadilha de transformar um evento com propósito em mais um case de gentrificação disfarçada de progresso.

 

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