Crítica: Bad Boys Para Sempre (Bad Boys For Life) | 2020

Lá se vão 17 anos desde que Bad Boys II foi lançado nos cinemas, mas alguns dos elementos que definem a franquia ainda são fáceis de reconhecer: O vaidoso Detetive Michael “Mike” Lowery (Will Smith); seu parceiro pessimista Marcus Burnett (Martin Lawrence); a cidade de Miami em todo seu esplendor hiper-saturado (céus cor de laranja, biquinis na calçada), e é claro, uma mega-dose de testosterona ao estilo “explodeaporratoda” do diretor Michael Bay. Ou seja, é tiro, porrada e bomba comendo solto o filme inteiro. Ah! E algumas boas risadas também.

Porém, os dois primeiros Bad Boys são produtos de seu tempo. Tiras, gângsters e química não formam o tipo de mitologia profunda o suficiente para sustentar uma franquia neste mundo pós-Marvel. Há uma razão para o primeiro Velozes e Furiosos ser um filme de ação sobre policiais infiltrados, e o oitavo exemplar da franquia ser praticamente um Missão Impossível sobre rodas. Em outras palavras, é fácil compreender porque um terceiro Bad Boys demorou tanto para ser lançado. Em um mundo onde tudo anda insuportavelmente chato, um filme onde policiais negros fazem piada com a própria raça, matam a bandidagem de todas as formas mais violentas possíveis e passam demolindo uma favela em Cuba à bordo de um jipe Hummer, não parece ser o mais indicado.

Sentindo o momento, o próprio Michael Bay desistiu da direção deste Bad Boys Para Sempre (Bad Boys For Life, EUA/MEX, 2020), e optou por um contrato gordo com a Netflix, onde já dirigiu o movimentado (e menos violento) Esquadrão 6 (cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli). Bay se manteve como produtor e passou o bastão para a dupla de diretores belgas Adil El Arbi e Bilall Fallah (do cult Gangsta/Patser, lançado em 2018), e o resultado é um filme de ação divertido, explosivo e surpreendentemente honesto, que consegue se equilibrar na linha tênue entre a pirotecnia habitual do produtor Jerry Bruckheimer, e uma concepção mais moderna que o cinema contemporâneo tem exigido. Pode não ser tão cru quanto Bad Boys e nem tão tático como Bad Boys II, mas em compensação é mais humano.

Retornando ao universo alternativo onde policiais recebem um salário de sete dígitos e se permitem trabalhar nas ruas usando ternos da Gucci, Bad Boys Para Sempre começa com um gancho óbvio porém interessante que os roteiristas Chris Bremner, Peter Craig, e Joe Carnahan desenvolvem como uma espécie de novela sob o efeito de esteróides. Marcus acabou de se tornar avô e quer se aposentar, enquanto que Mike continua uma eterna criança cuja identidade se baseia num desejo perpétuo de ser o dono da porra toda em Miami. É apenas uma questão de tempo para que estas concepções tão diferentes entre os dois no que diz respeito à família os coloque em caminhos opostos. Enquanto isso, outro drama de família está acontecendo no sul da fronteira; a matriarca do sindicato do crime, Isabel Aretas (Kate del Castillo), escapou da prisão com a ajuda de seu filho, o implacável Armando (Jacob Scipio), e ela tem um elaborado plano de vingança contra as pessoas que mataram seu marido. Mike, obviamente, está no topo da lista.

El Arbi e Fallah mantêm a mão firme na condução do plot, e as tensões escalam de tal maneira que cheguei a torcer para que os diretores segurassem o ritmo um pouco mais, como forma de aumentar o suspense. De qualquer forma, o filme transmite uma sensação de perigo real, onde o público teme de fato o destino dos personagens centrais. Falando neles, continua um barato assistir a Joe Pantoliano explodir para cima da dupla no papel do estressado Capitão Howard, e é sempre divertido quando Smith e Lawrence atacam verbalmente um ao outro.

O roteiro também coloca Marcus em um processo de enfrentamento pessoal devido à toda a violência que causou ao longo da carreira, enquanto que Mike começa a perceber que sua fase de “pegador” está passando, e começa a sentir os primeiros efeitos da solidão. Em Bad Boys Para Sempre, todos os personagens estão abertos para algum tipo de evolução, e mesmo o climático tiroteio final mostra nossos heróis frente à frente com alguns demônios do passado. A trama também introduz um adorável esquadrão de novos personagens, que fazem parte de uma nova unidade da polícia de Miami, batizada de AMMO. O jovem esquadrão, que conta com nomes como Vanessa Hudgens (de Polar, cuja crítica também está disponível aqui no Portal) e a estonteante Paola Núñez, funciona como unidade de back-up para Marcus e Mike, e também é bastante interessante a maneira como o filme lida com a dinâmica entre as diferentes gerações de policiais.

O excelente elenco, aliado ao poderoso score musical à cargo de Lorne Balfe (do recente Projeto Gemini), ajudam a manter um senso de energia fluindo durante e entre as sequências de ação que movem o filme adiante. O caos e os danos colaterais destas sequências é bem inferior ao verdadeiro fim de mundo orquestrado por Bay no filme anterior, mas o fato de que Smith e Lawrence já são cinquentões e que o orçamento desta sequência é mais modesto, explicam o tom menos destrutivo. A maioria das cenas de ação do filme são curtas e coerentes o suficiente para fornecer a quantidade exata de excitação.

Bay nunca foi muito adepto de sangue criado em CGI, mas El Arbi e Fallah fazem questão de garantir que seu filme ganhe uma censura 16 anos a cada oportunidade. Nas raras instâncias onde a ação realmente se transforma em um espetáculo genuíno, os diretores se asseguram de priorizar o lado mais realista da vertente. Uma esperta perseguição de motos no final do segundo ato consegue até evocar um pouco do esplendor que definiu o cinema de ação dos anos 90 do produtor Jerry Bruckheimer.

Bad Boys Para Sempre não almeja alçar o patamar do gênero ou reescrever o manual de regras de um blockbuster, mas continua sendo o máximo assistir Lawrence e Smith revisitar estes personagens e ao mesmo tempo encontrar um lugar sensível para colocá-los no atual cenário hollywoodiano. Ao olhar para o passado, o filme encontra força para mover-se adiante e entender que algumas coisas precisam mudar para que outras continuem as mesmas. El Arbi e Fallah conseguiram ajustar a franquia para os dias atuais sem trair sua essência, e mesmo que tanta coisa tenha mudado desde a última vez que vimos Marcus e Mike em 2003, nunca foi tão fácil definir o que faz a franquia Bad Boys algo tão legal.

Bad Boys Para Sempre estreia nos cinemas brasileiros no dia 30 de janeiro.

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