Crítica: Bem Vindo à Nova York (Welcome to New York)

Não se deixe enganar pelos 15 minutos iniciais de Bem Vindo à Nova York (Welcome to New York, EUA, França, 2014), que mais parecem saídos de um filme pornô. Esta polêmica empreitada do especialista em cinema marginal Abel Ferrara (Vício Frenético, O Rei da Noite), até começa bem ao estilo do diretor, sem um roteiro aparente, atuações canastronas e muito sexo sem qualquer tipo de pudor. Mas bastam alguns minutos adentro pela história, e o filme acaba por se revelar uma obra classuda, que discute de maneira oportuna as relações entre o poder e a moral, e que ganha demais com as presenças monstruosas de Gérard Depardieu e Jacqueline Bisset.

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O filme é uma livre representação dos eventos que antecederam e que se seguiram após o escândalo envolvendo o diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn, que supostamente teria abusado de uma camareira do hotel de luxo onde estava hospedado em Nova York. Ferrara faz questão de deixar bem claro que tal ato não foi isolado, já que Bem Vindo à Nova York é, na verdade, um estudo sobre a conduta absolutamente imoral do político, que acumulava casos semelhantes em seu histórico, para a ira de sua esposa. Aqui, sob outro nome, o personagem é interpretado de maneira destemida e sem escrúpulos por Depardieu, que possivelmente entrega a melhor performance de sua carreira, participando inclusive de algumas sequências de sexo bem pesadas e com muita nudez.

Já Jacqueline Bisset muda completamente a cara do filme assim que entra em cena, esbanjando classe no papel da esposa do político, que tenta, a todo custo, preservar a imagem do casal, em meio à toda a sujeira e sordidez que surge de todos os lados envolvendo seu marido.

As duas longas sequências de diálogos envolvendo os personagens centrais é um verdadeiro show de Depardieu e Bisset, onde a dupla visivelmente improvisa diversas falas, oscilando entre o conflito aberto e o amor velado que ainda existe entre os dois protagonistas. É um verdadeiro show da dupla de intérpretes, que consegue fazer com que apenas estas duas cenas já façam o ingresso do filme valer a pena. A estilosa fotografia de Ken Kelsch, colaborador habitual de Ferrara, é um show a parte, dando uma cara completamente NY para o filme.

Bem Vindo à Nova York é um grande trabalho de Abel Ferrara, diretor pelo qual eu não morro de amores. Mas, aqui, o diretor imprime sua marca nervosa e sem concessões, em uma história que pedia um diretor de seu calibre agressivo. E é claro que ter um Gérard Depardieu e uma Jacqueline Bisset completamente inspirados e à vontade, ajuda no resultado de qualquer filme.

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