Crítica: Brimstone (2017)

Apesar de ambientado no Velho-Oeste americano, pouco há de Western neste Brimstone, uma co-produção holandesa, em parceria com a França, Alemanha, Bélgica, Suécia e Reino Unido, escrita e dirigida pelo holandês Martin Koolhoven (Suzy Q, 1999). Na realidade, trata-se mais de um drama de natureza intimista, que contrasta com a costumeira vastidão fotográfica das produções do gênero, que elimina de sua narrativa a vertente do heroísmo, e investe todas suas fichas em uma trama sobre até onde podem chegar os sórdidos limites da vingança.

Brimstone acompanha a difícil trajetória de Liz (a agora crescida Dakota Fanning, de Guerra dos Mundos, 2005), uma jovem parteira muda, que vive ao lado do marido e o filho dele, em uma pequena cidade do Oeste americano. Apesar da dura rotina diária, Liz é feliz em seu matrimônio, e as coisas caminham normalmente. Entretanto, tudo muda radicalmente na vida da protagonista, quando surge na cidade o novo e misterioso reverendo da paróquia, interpretado pelo excelente Guy Pearce (Amnésia, Los Angeles: Cidade Proibida), um homem que parece ter alguma conexão com o passado da garota.

Ao contrário do excelente O Vale Sombrio (Das finstere Tal), outro faroeste europeu, dirigido pelo austríaco Andreas Prochaska em 2014, este Brimstone simplesmente não funciona. Apesar do esforço na produção e do visível cuidado do diretor Koolhoven com sua história, fica nítida uma incômoda sensação de pretensão por parte do diretor (o cineasta divide sua trama em quatro partes com nomes de versículos bíblicos, por exemplo), que trata sua narrativa como uma produção épica de mais de duas horas e meia de duração, sendo que o roteiro e a atmosfera do filme não têm gabarito para tanto.

Outro grande problema da produção é sua protagonista, a fraca Dakota Fanning, que aqui escancara não estar pronta para papéis que exigem demais de suas personagens. Sua sofrida e guerreira Liz não encontra a correta válvula de escape na fraca performance da intérprete, que não compactua com nenhuma espécie de identificação com o público. Não que isso seja culpa do diretor Koolhoven, que pela primeira vez dirige um elenco não-holandês em sua carreira. Koolhoven é, entretanto, culpado de outros problemas da produção, cujo roteiro sem inspiração estica de maneira desnecessária a exagerada duração do filme, e desperdiça de maneira vexatória alguns personagens, como a mãe da protagonista, interpretada pela ótima Carice Van Houten (a Melisandre da série Game of Thrones), e a prostituta Elizabeth, interpretada pela bela Carla Juri (da boa comédia dramática Morris From America, 2016).

Mas nada comparado à maneira ridícula com que a produção desperdiça um dos grandes chamarizes do filme, o Jon Snow da citada série Game of Thrones, Kit Harington, em um papel sem a mínima relevância para a cansativa trama do filme. O próprio Guy Pearce, principal elemento da produção, parece um tanto apagado. Ainda assim, é ele o principal motivo para justificar uma sessão do filme, que é bastante violento (o personagem de Pearce, por exemplo, passa boa parte do filme desferindo chibatadas e cometendo todo tipo de atrocidades), que chegam até a soar repetitivas em dado momento.

Brimstone entretanto, não está isento de bons momentos, e os fãs mais ardorosos de um Western introspectivo podem até aproveitar bem a sessão, que ao menos se preocupa em desenvolver de maneira completa todas as nuances do interminável duelo físico e mental que surge entre Liz e a figura do reverendo. Principal motor da produção, o duelo nem sempre funciona, assim como todo este descompensado filme, que almeja demais ser o que não é.

Brimstone não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar diretamente ao mercado de streaming e home-video.

8 respostas

  1. Então, como muitos aqui, vou discordar de quase tudo sobre o que foi dito nesta crítica sobre Brimstone. Achei este filme incrível, sobretudo, pelos sentimentos que foram provocados em mim pelas atuações, pela trama, por tudo. Trata-se de uma crítica muito incisiva sobre tradicionalismos religiosos, que se mascaram de bem, mas acabam chegando aos limites da maldade. Muitas questões são levantadas sobre esta tema. Foi admirável como o diretor nos mostra, no desfecho final, que para vencer o mal é preciso, em alguns casos, passar por sacrifícios. Enfim, eu ainda teria muitas coisa para partilhar. Obrigado! Viva o bem!!!!!!!

  2. Com relação aos atores acho que a crítica foi ótima, condiz com a atuação de cada um.
    Mas em relação a história do filme, esse escritor só poderia ter algum problema mental. Foi abusado na infância sei lá ?.
    Roteiro mais escroto é sádico, não recomendo a ninguém. Só pedofilia maus tratos …….

  3. O filme é comprido, mas acho que vale a pena ver, pelo contexto crítico a religião e o abuso que a palavra sagrada pode causar quando mal interpretada por um herege dentro do ambiente “familiar”.
    A atuação do Kit não é nada se comparada a semiótica e o simbolismo que a/o casting director usou quando optou por ele. Se levarmos em consideração a legião de fãs que o ator tem, fica claro que a personagem da Dakota Fanning na idade em que ela o conhece é uma donzela que precisa ser resgatada.
    E dessa vez, Kit não é o herói ou o salvador. Ele é um peregrino, justiceiro e claramente não tem forças pra lutar com o vilão da trama. Sem contar que o nome dele no filme é Samuel. Um anjo, o amigo do verdadeiro herói (Frodo, Jon Snow, Dean Winchester, etc.), nesse caso da Liz. Numa luta claramente injusta ele representa um anjo vs o próprio Lucifer.

  4. Pior filme assistido por mim em toda minha vida. Roteiro ruim, extremamente cansativo e repleto de lacunas, uma delas é na qual o reverendo tem o pescoço cortado com a faca, aparecendo mais adiante no filme e sem explicação de como sobreviveu de um corte fatal no pescoço.

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