Crítica: Buscando… (Searching) | 2018

Searching

Exibido no Festival de Sundance deste ano, este esperto e surpreendente drama Buscando… (Searching, EUA, 2018), contém elementos que bem poderiam fazer parte do universo da série dark sci-fi Black Mirror, hoje popularizada após sua transição para a toda-poderosa Netflix. Buscando… seria no mínimo um episódio estendido, e digo mais… seria um ótimo episódio! O carismático John Cho (o Sulu da atual franquia Star Trek), a bela Debra Messing (da série de sucesso Will & Grace) e a tecnologia de nossos dias atuais contribuem para que Buscando… seja um thriller dramático que prende o espectador, o que com certeza atrairá bom público para o filme, e não só a plateia mais seletiva e alternativa comum no Festival de Sundance.

O grande elemento diferenciador da produção é que ela se desenrola totalmente através da transmissão do conteúdo visual de diferentes telas contidas dentro da produção, especialmente as de computador. Não é uma premissa totalmente inédita; o diretor espanhol Nacho Vigalondo já utilizou o artifício em seu irregular suspense Perseguição Virtual (Open Windows), em 2014, e o recente terror Amizade Desfeita (Unfriended) também o fez pelas mãos do diretor Leo Gabriadze, também sem alcançar um resultado satisfatório.

Mas aqui, ao contrário das produções citadas, a narrativa se desenvolve com uma surpreendente quantidade de emoção, já que trata-se de uma jornada de um pai preocupado, que tenta de alguma maneira saber mais sobre sua filha, quando esta desaparece. O pai neste caso é interpretado pelo extremamente carismático John Cho, que ainda está de luto pela morte da esposa ocorrida há alguns anos atrás (e apresentada ao público em uma eficaz sequência de abertura, usando imagens conjuradas por um mouse de computador). Quando sua filha Margot (Michelle La), desaparece do nada em um dia como qualquer outro, ele sai procurando (searching) através da vida online da garota na esperança de encontrar pistas de seu paradeiro, enquanto ao mesmo tempo interage com seu irmão Peter (Joseph Lee) e uma detetive que investiga casos de pessoas desaparecidas (Messing).

O jovem roteirista e diretor indiano e estreante em longas Aneesh Chaganty começa plantando uma boa ideia em execução, mesmo antes de Cho aparecer em cena. Trata-se realmente de uma grande ideia contar sua história de maneira tão visualmente inventiva, acompanhada por música vívida e outras sacadas espertíssimas. Mas a produção ganha mais pontos pela maneira com que escancara a completa dependência da sociedade atual por sua vida digital, esta “tecnologia das telas” tão bem esmiuçada (mas de maneira diferente) pela citada Black Mirror, e a abordagem de Chaganty ao tema é tão inventiva quanto cínica.

Hoje em dia, existe um website para cada face da interação humana, que habitam uma gama infinita de variantes, que vão desde vlogs até serviços para funerais, e Buscando… tira total vantagem do fato de que como navegar por estas opções se tornou trivial nos últimos anos. É claro que eventualmente o filme envolve câmeras secretas, vídeos do YouTube, páginas do Reddit e tudo o mais que você imaginar, ao mesmo tempo em que mostra como os casos envolvendo pessoas desaparecidas se tornaram uma extravagância, já que desaparecer em uma realidade tão vigiada como a nossa, é algo quase surreal.

O que não impede que Chaganty derrame algumas surpreendentes reviravoltas de thriller em sua trama, desenvolvendo-a com uma variedade de detalhes que por vezes passam imperceptíveis ao espectador, mas que estão lá, e sua narrativa consiste em um mistério mental onde todas as pistas mostram-se estar bem ali, e para o espectador (e o protagonista), basta saber onde procurar. Buscando… é um caso raro de um filme indie que carrega consigo potencial para se tornar um blockbuster, que proporciona à seu público um embarque em uma verdadeira montanha-russa, cujas curvas são projetadas através de uma escrita habilidosa e imaginação cativante.

Buscando… estreia nos cinemas brasileiros no dia 30 de Agosto de 2018.

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