Crítica: Creep 2 (2017)

Em minha crítica do primeiro Creep, suspense indie em tons cômicos lançado em 2015, fiz questão de ressaltar o quanto a pequena produção me surpreendeu. Com sua mistura nada convencional de horror e comédia de humor-negro, e um dos protagonistas mais insanos e imprevisíveis a surgir no cinema nos últimos anos, Creep se consolidou como uma pequena gema do gênero, apesar, é claro, de estar longe de ser um filme perfeito.

Agora, o diretor Patrick Brice (da comédia Virando a Noite, também de 2015), e o protagonista Mark Duplass (um dos grandes nomes da cena indie americana, com créditos em produções como Complicações do Amor e Sem Segurança Nenhuma, atuando às vezes como ator, outras como produtor e roteirista, e às vezes acumulando as funções como aqui), retomam a parceria com este Creep 2 (EUA, 2017), que desta vez traz inclusive o selo Netflix de qualidade, e continua a apresentar um verdadeiro one man show de Duplass no papel principal. Ah, e é claro que a sinistra e inacreditável máscara de lobo também não poderia faltar neste retorno.

No início deste Creep 2, Josef (Duplass), o serial-killer mais pateta do cinema, revela que seus atos homicidas são praticamente “seu emprego” agora. De certa forma, Josef está tentando articular o que acontece quando a sensação inicial de fazer algo que você ama aos poucos se transforma em rotina ou obrigação. Tal revelação é também uma analogia para o diretor Brice constatar o quão propositalmente ridícula é a ideia de uma sequência para o filme original, já que agora, o público sabe da verdade em torno de Josef e sua compulsão assassina.

Para quem não viu o filme original ou não se lembra dele, Creep apresentava Josef ao público como um homem com um câncer terminal, que contrata um cinegrafista amador para documentar seus últimos dias de vida, para que Josef pudesse ter algo para deixar ao filho que estaria por vir. Filmado em primeira pessoa através da câmera do cinegrafista, Creep se apoiava na crescente tensão entre os dois homens, à medida em que as verdadeiras intenções de Josef vão sendo reveladas. Graças à interpretação de Duplass, maior do que o próprio filme, Creep conseguiu escapar da péssima torrente de produções ao estilo found-footage, que praticamente destruíram o gênero nos últimos anos.

Mas e agora? O que Brice e Duplass poderiam acrescentar à sua criação com este Creep 2? Basicamente, a dupla mergulha um pouco mais fundo na psique deturpada de Josef, uma vez que o maluco entrou no que ele mesmo costuma chamar de “meia-idade”. Estruturado em cima do ponto de vista de que a plateia já sabe de tudo sobre Josef, a história transita por entre as expectativas, familiaridades e convenções do primeiro filme, para encontrar sua verdadeira identidade, que acaba se revelando em uma segunda camada narrativa que prioriza a comédia.

Desta vez, Josef atrai uma YouTuber, Sara (Desiree Akhaven, da comédia dramática Appropriate Behavior, 2014), cujo canal de vídeos não atrai muita gente, com exceção de alguns tipos tímidos e solitários. Infeliz com os resultados de seu trabalho e com o baixo número de views, Sara está tentando encontrar uma maneira de dar um upgrade nas coisas, e o convite de Josef parece vir a calhar. Entretanto, ao contrário do primeiro filme onde a “vítima” da vez de Josef não tinha nenhuma ideia do nível de insanidade do protagonista, aqui Sara começa a jogar o jogo de Josef, e aos poucos uma verdadeira guerra de tensão cresce entre os dois, colocando Josef em uma situação inesperada e não menos perigosa. Para ambas as partes.

A parte cômica da coisa aqui não é sobre quando ou como Josef vai atacar (ou dar algum susto no público), mas sim no quão longe Sara está disposta a ir dentro do jogo do maníaco para conseguir o que quer. Mesmo que possa custar a sua vida. É quase como se Josef tenha encontrado sua cara-metade, porém num sentido insano e demente de ser. Brice ainda introduz uma pitada de tensão sexual, nudez (masculina) casual e um pouco de crise de meia-idade para enriquecer a trama e arrancar risos nervosos da plateia. E acreditem: tanto o primeiro quanto este segundo filme são extremamente eficazes nisso.

Assim como o primeiro filme, Creep 2 tem outro ótimo atributo hoje em dia: sua curta duração. São breves 75 minutos contados no relógio, e apesar de passar rápido pelos olhos do espectador, não é um filme esquecível. Trata-se também de mais um show do ator Mark Duplass, que volta a dar vida à um personagem que consegue ser charmoso, patético e sinistro ao mesmo tempo. Duplass sabe o que a plateia quer, e ele entrega ao espectador numa bandeja de prata.

Resumindo, não é como se o mundo estivesse pedindo por uma trilogia Creep, mas confesso que após realmente apreciar o que Brice e Duplass conseguiram fazer por duas vezes, eu sorrateiramente voltaria para uma terceira incursão ao mundo deste demente e por que não irresistível serial-killer chamado Josef. E eu faria isso com a óbvia expectativa de que certas coisas nunca se tornam uma obrigação.

Creep 2 estreia hoje, 24 de Outubro, no catálogo da Netflix.

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