Crítica: Don’t Let Go (Relive) | 2019

Don't Let Go

Produzido pela Blumhouse Entertainment, a bem sucedida produtora por trás de sucessos do horror como Corra! e o novo Halloween, Don’t Let Go (Relive, EUA, 2019), é um interessante exemplar do cinema de suspense, que se favorece pela tocante e genuína relação que se desenvolve entre o tio Jack (um tenso David Oyelowo, de Selma: A Luta Pela Igualdade) e sua sobrinha, Ashley (a jovem e talentosa Storm Reid, de Uma Dobra no Tempo). Sem falar que é a primeira vez em muito tempo que eu vejo um filme protagonizado por negros que não tocam na insuportável questão racial que empesteia o cinema atual. Ainda que seja nítido que Don’t Let Go não alcançará o nível de outros hits da Blumhouse, o filme deverá encontrar seu público, particularmente aqueles que habitam as plataformas digitais e procuram por entretenimento ligeiro.

Neste curioso thriller sobrenatural, Jack Radcliff (Oyelowo), é um detetive da polícia de Los Angeles que encontra sua amada sobrinha, Ashley (Reid), e toda sua família, brutalmente assassinada no que aparentemente teria sido um assassinato/suicídio cometido por seu irmão. Nos dias que se seguem, um traumatizado Jack tenta desesperadamente entender e montar a sequência de eventos que levaram às mortes. Até que, numa noite, ele recebe uma inesperada ligação em seu celular, de Ashley, viva e saltitante, de apenas alguns dias atrás.

Trata-se de uma intrigante introdução, que arremessa Jack (e o espectador) em um mistério que muda suas características constantemente, deixando milhares de perguntas na cabeça de seu público. Estaria Jack ficando lelé da cuca? Estaria ele preso em um pesadelo do qual não consegue acordar? Ou seria Ashley um fantasma, ligando do além em um esforço para vingar seu assassinato e também o de sua família? Uma vez que este tipo de plot já foi visto antes em outras produções do gênero, o diretor e roteirista Jacob Estes (cuja estreia, Quase um Segredo, foi um incômodo suspense), tem outros planos, que envolvem um inexplicável fenômeno temporal que permite que Jack e Ashley se comuniquem através do celular em diferentes linhas do tempo.

Como acontece em outros filmes de tema cronologicamente complexo, como Amnésia (Memento, 2000), Feitiço do Tempo (Groundhog Day, 1993) e Alta Frequência (Frequency, 2000), Don’t Let Go encontra seu problemático herói, pelo menos no início, impossibilitado de mudar seu destino, e o público assiste ao personagem de Oyelowo tentar, sem sucesso, alterar a sequência de eventos que levaram seus familiares à morte. No entanto, à medida em que a história segue adiante e as múltiplas linhas do tempo e perspectivas se desdobram de maneiras surpreendentes, Jack e Ashley eventualmente aprendem a trabalhar juntos, entre passado e futuro, para tentar mudar o destino de todos os envolvidos para melhor.

A lógica destas variações temporais nunca é explicada e algumas das escolhas dos personagens prejudicam a credibilidade da narrativa. Contudo, o diretor Estes consegue se manter sempre um passo à frente do espectador, e o ato final de Don’t Let Go entrega uma outra reviravolta, que confesso, realmente me derrubou da cadeira. O terceiro ato do filme, inclusive, é muito superior ao que se vê anteriormente na produção. A narrativa cresce e leva a um clímax perturbador e violento, que oferece uma resolução no mínimo catártica.

Estes habilmente aumenta a tensão e mantém a história em um ritmo rápido, e mesmo que o filme não tenha nada particularmente memorável a oferecer, Don’t Let Go é muito bem interpretado, e as certeiras interpretações de Oyelowo e Reid valorizam o martírio de dois personagens de tremenda identificação com o público. O forte laço entre estes dois personagens é a verdadeira espinha dorsal (e emocional) do filme, e se mostra mais forte do que qualquer elemento de viagem no tempo.

Don’t Let Go ainda não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros.

2 respostas

  1. “Sem falar que é a primeira vez em muito tempo que eu vejo um filme protagonizado por negros que não tocam na insuportável questão racial que empesteia o cinema atual.”

    DISSE O CARA BRANCO. Que patético. Você não suporta mais ouvir falar da questão racial, não é seu branco? Pra você é difícil ouvir falar disso, não é? Talvez porque MILHARES de negros sofrem isso na pele todos os dias e alguns lixos brancos como você ainda negam a existência do racismo.

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