Crítica: Fome de Poder (The Founder)

Ame ou odeie, você com certeza já comeu um hamburguer no McDonalds. O que você não imagina, no entanto, é o quanto este mesmo hamburguer que você está saboreando, já foi motivo de discórdia. Fome de Poder (The Founder, EUA, 2016), baseado em inusitados fatos verídicos, esmiuça todo o complicado e surpreendente imbróglio envolvendo o desenvolvimento da maior cadeia de fast-food do mundo, responsável por alimentar, diariamente, um por cento da população mundial.

Ambientado no ano de 1954, o filme centraliza-se na figura de Ray Kroc (Michael Keaton, mais uma vez impecável), um vendedor de máquinas de preparo de milk-shakes, que aos 52 anos de idade, parece ter chegado ao fim da linha profissional. As vendas estão fracas e as dívidas crescendo, o que só aumenta a frustração do vendedor. Um dia entretanto, tudo muda radicalmente para Ray, quando este por acaso acaba se deparando com um pequeno restaurante na Califórnia, que funciona de maneira inovadora e muito, MUITO rápida. O nome da lanchonete era McDonalds, pertencente aos irmãos Dick (Nick Offerman, de Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer) e Mac McDonald (John Carroll Lynch, do recente Jackie), que tocam seu negócio com imensa dedicação e prudência. Encantado com a operação do restaurante, Ray oferece-se como investidor do restaurante, com o objetivo de transformar a marca em uma franquia de sucesso em todo o país. Os irmãos, à princípio relutantes, acabam aceitando a proposta de Ray, e assim começa então uma das mais inacreditáveis histórias do mundo dos negócios, que viria a definir os hábitos alimentares de gerações ainda por vir.

Gosto bastante do cinema do diretor texano John Lee Hancock. Quem não acompanha muito de perto o cinema, provavelmente não deve conhecer muito sobre o diretor ou mesmo sobre seus projetos, contudo, Hancock tem um excelente tino para adaptar histórias verídicas de maneira cativante e bastante interessante, como o fez em suas outras quatro produções no currículo: Desafio do Destino (The Rookie, 2002), O Álamo (The Alamo, 2004), Um Sonho Possível (The Blind Side, 2009), filme que valeu o Oscar de Melhor Atriz para Sandra Bullock, e Walt nos Bastidores de Mary Poppins (Saving Mr. Banks, 2013), bela produção que reúne os talentos de Tom Hanks e Emma Thompson.

Aqui, Hancock mais uma vez transcreve de maneira vibrante e dinâmica mais uma destas incríveis histórias da vida real, mantendo um excelente ritmo, apoiado no competente roteiro de Robert Siegel (do excelente O Lutador, 2008). Repleta de reviravoltas, a odisseia em torno do controle sob a marca McDonalds seria digna das melhores histórias da ficção, se não fosse realidade. O jogo de cadeiras, tanto jurídico quanto corporativo, que se desenrola entre Kroc e os irmãos McDonald é apenas um dos sólidos elementos da narrativa da produção, que também procura discorrer sobre os detalhes da fulgurante persona de Kroc, por si só um indivíduo peculiar.

Aos 52 anos de idade, Kroc apostou todas suas fichas (e até sua casa) na marca McDonalds e em sua expansão pelo território americano. É interessante a maneira com que Hancock e Siegel retratam a forte transformação de Kroc ao longo dos acontecimentos da produção. À medida em que a sede pelo poder começa a se apoderar do protagonista, torna-se explícito o tamanho de sua ambição, e da influência deste poder recém-adquirido em sua vida, tanto pessoal como principalmente, nos negócios. Compondo este fascinante personagem, brilha a figura sempre competente do fantástico Michael Keaton, ator de quem sou fã confesso. Keaton mais uma vez demonstra extrema naturalidade no papel, e sua persona sempre elétrica dá ao filme a energia necessária para funcionar.

Vale ressaltar também a excelente reconstituição de época da produção, especialmente no que diz respeito à arquitetura das primeiras lanchonetes a carregar a marca McDonalds. E também a ótima presença coadjuvante do esquisitão Nick Offerman, um dos irmãos McDonald. As interações entre ele e Kroc rendem alguns ótimos momentos para a produção, principalmente quando Kroc começa a desenrolar seu plano para engolir de vez a marca para em seguida, transformá-la na potência mundial dos dias atuais.

Já um dos melhores filmes que tive a sorte de acompanhar este ano (apesar de ser um filme de 2016), este excelente Fome de Poder é mais um sólido trabalho do diretor John Lee Hancock e também do fantástico Michael Keaton, dono absoluto do filme. Uma produção incrivelmente eficaz em retratar o nascimento de uma gigantesca corporação, que começou em uma pequena lanchonete da Califórnia, para se tornar não só a potência que é hoje, mas também para instaurar a proliferação das cadeias de fast-food. Após assistir à este Fome de Poder, seu Big Mac nunca mais será o mesmo.

Fome de Poder estreia nos cinemas brasileiros no dia 09 de Março.

https://www.youtube.com/watch?v=hpSRzLUFkN4

3 respostas

  1. Acabei de assistir. O filme é lindamente produzido, atuação brilhante e impecavel. Mas como não suporto injustiças. Mesmo 70 anos depois de toda história a minha forma de protesto é: ficar uns anos sem comer lá. Vamos ver quanto tempo aguento rs

    1. Hehehe… É complicado dizer que nunca mais vai comer no McDonald’s, meu amigo… Nós sempre acabamos parando lá em algum momento…
      De qualquer forma, agradeço pela visita e pelo comment. À propósito, gostei do nick! Rsrsrsrs…
      Abraço!

    2. Eu virei foi fã dele, o cara viu a chance de uma vida inteira na frente dele e NÃO DEIXOU ESCAPAR POR NADA, quantas pessoas deixaram chances como essa escapar e viram outros como o Kroc construir um Império com a mesma oportunidade!

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