Crítica: High Flying Bird (2019)

High Flying Bird

Um dos subgêneros que mais mexem com as emoções do público é o cinema esportivo. Assim como as próprias competições, o cinema consegue captar e dinamizar as nuances, características e principalmente as muitas emoções do esporte, o que na grande maioria das vezes rende bons e vibrantes filmes, como a eterna franquia Rocky Balboa (você pode conferir a crítica do recente Creed II aqui no Portal do Andreoli), o emocionante Campo dos Sonhos (Field of Dreams, 1989), o excelente Momentos Decisivos (Hoosiers, 1986), entre tantos outros.

Existe entretanto, uma pequena vertente do cinema esportivo menos preocupada com as emoções do público e mais engajada em revelar os bastidores do esporte. Expoentes como Um Domingo Qualquer (Oliver Stone, 1999), que esmiuça sem dó a podridão por trás da NFL; o mais comportado A Grande Escolha (Ivan Reitman, 2014), que retrata a loucura envolvendo o draft da NFL; e o didático Moneyball: O Homem que Mudou o Jogo (Bennett Miller, 2011), uma verdadeira aula de gestão esportiva, consistem em pungentes retratos do que ocorre por trás das cortinas do espetáculo. E o que se vê, quase sempre, não é nada bonito.

Seguindo essa mesma linha, surge esta nova produção da toda-poderosa Netflix, High Flying Bird (EUA, 2019), que ao contrário de muita produções recentes com o selo Netflix, traz em suas credenciais nomes do time A de Hollywood vencedores do Oscar, como o diretor Steven Soderbergh (Onze Homens e um Segredo, Traffic: Ninguém Sai Limpo), e o roteirista Tarell Alvin McCraney (Moonlight: Sob a Luz do Luar, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli). O resultado é mais uma sólida produção a abordar os bastidores do esporte, neste caso, a liga de basquete americana, a NBA.

No meio de uma crise causada por uma paralisação da NBA, o agente esportivo Ray Burke (o ótimo André Holland, do citado Moonlight e da recente série Castle Rock), se encontra no centro de um conflito entre a liga de basquete profissional americana e seus jogadores. Com sua própria carreira em risco, Ray decide arriscar-se ainda mais ao tentar implantar um improvável plano em menos de 72 horas, na esperança de driblar todos os manda-chuvas em ambos os lados da greve e resolver não só a sua situação como também a da liga. Entretanto, uma descoberta durante o processo faz com que Ray tenha em mãos algo que pode vir a mudar a liga para sempre, além de colocar em xeque quem realmente é o verdadeiro dono do jogo. E quem deveria ser.

Enquanto que a maioria das pessoas ainda prefiram um filme esportivo padrão, que quase sempre gira em torno do elemento da superação, confesso que à medida em que fui ficando mais velho, passei a preferir estas histórias sobre os periclitantes bastidores do esporte, onde o business em torno da competição é utilizado como o artifício dramático da narrativa. Ainda que este High Flying Bird seja deveras denso, onde a narrativa circula o tempo todo em torno do grande plano do protagonista, a direção firme e o apurado senso cinematográfico do experiente Soderbergh (em sua primeira parceria com a Netflix), garantem qualidade e fluidez ao filme.

É interessante observar também o envolvimento da própria NBA na produção, já que a trama do filme age justamente como uma crítica ao excesso de poder dos executivos da liga, o que consiste em uma abordagem corajosa de Soderbergh e do roteirista Tarell McCraney. O elenco é extremamente competente, e nas mãos de Soderbergh todos rendem o máximo de suas capacidades. Holland mais uma vez mostra-se tremendamente capaz de protagonizar uma produção, e as presenças da bela Zazie Beetz (do drama Wolves – que também aborda o esporte de maneira mais dramática – e Deadpool 2); de Zachary Quinto (o Spock da franquia Star Trek de J.J. Abrams), e dos veteranos Kyle MacLachlan (Twin Peaks) e Bill Duke (de O Predador e do recente Mandy), fazem a diferença. Vale lembrar que as críticas de Wolves, Deadpool 2 e Mandy, encontram-se todas disponíveis aqui no Portal do Andreoli.

High Flying Bird é o tipo de filme que funciona melhor com os fãs do incomparável basquete da NBA, ou pelo menos de algum outro esporte cujos bastidores também lhe despertem o interesse. Contudo, graças especialmente ao talento do diretor Soderbergh e de seu protagonista, o filme também funciona muito bem dramaticamente, e acaba por ser um dos melhores filmes com o selo Netflix, principalmente se considerarmos a fraca sequência de lançamentos da produtora nos últimos meses.

High Flying Bird estreia nesta sexta-feira (08/02) no catálogo da Netflix.

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