Crítica: I Trapped the Devil (2019)

I Trapped the Devil

Nova produção do selo de horror independente IFC Midnight, e exibido no Chattanooga Film Festival, Minneapolis-St. Paul International Film Festival, Motor City Nightmares, e no Phoenix Film Festival, este I Trapped the Devil (EUA, 2019), é o típico filme que agrada em cheio aos fãs do gênero que estão à procura daquela boa e velha sessão maldita de horror independente de orçamento modesto, e conduzido com extrema esperteza.

Escrito e dirigido pelo estreante Josh Lobo, o filme traz algumas figurinhas carimbadas do horror independente americano no elenco, como AJ Bowen (Você é o Próximo, O Último Sacramento); a maravilhosa scream queen Jocelin Donahue (A Casa do Diabo, Sobrenatural: Capítulo 2); Scott Poythress (O Sinal); Susan Burke (da excelente antologia de horror Southbound), além do ótimo Chris Sullivan, um dos membros do elenco regular da excepcional série dramática This is Us.

Ambientado no Natal, este horror psicológico tem como foco a perigosa jornada de um homem rumo à paranoia, depois que ele aprisiona em seu porão um outro homem a quem ele acredita ser o diabo em pessoa. Para os mais escolados no gênero do fantástico, I Trapped the Devil imediatamente trará de volta à memória do espectador o clássico episódio da inoxidável série Além da Imaginação (The Twilight Zone), “The Howling Man“, o qual inclusive é lembrado em uma deliciosa e respeitosa referência do próprio filme. Vale lembrar que a espetacular série Além da Imaginação ganhou um revival há poucas semanas pelas mãos do diretor e roteirista Jordan Peele, responsável por dois grandes thrillers dos últimos anos, Corra! (Get Out) e Nós (Us), cujas críticas também estão disponíveis aqui no Portal do Andreoli. Inclusive, este I Trapped the Devil pode ele próprio ser considerado uma espécie daqueles bons episódios desta antológica série, dada sua natureza irônica que flerta com o sobrenatural.

O Natal costuma ser um tempo de paz e alegria nas reuniões familiares. Mas quando Matt (Bowen), e sua esposa, Karen (Burke), aparecem ser avisar na casa do irmão sumido dele, Steve (Poythress), para celebrar as festas, o casal tem uma tremenda e horripilante surpresa: Há um homem aprisionado no porão de Steve. Mas não se trata de qualquer homem, já que Steve acredita com todas as suas forças que seu refém é ninguém mais ninguém menos do que o Satanás em pessoa. À medida em que o choque e o ceticismo se transformam em medo e paranoia, Matt e Karen se encontram no meio de um aterrorizante dilema: Estaria Steve perigosamente desequilibrado? Ou será que o misterioso estranho em seu porão seria mesmo o capetão? Seja como for, o palco está armado para um Natal dos infernos.

Construídos em cima de muita tensão, os parcos 82 minutos de duração deste I Trapped the Devil passam voando pelos olhos do espectador. Em sua primeira metade, o filme estabelece seu cenário mínimo, apoiado no pequeno mas esforçado elenco. O pouco conhecido Scott Poythress está assustador no papel de um homem visivelmente perturbado, mas que pode ter em seu porão o maior de todos os inimigos. O casal Bowen e Burke também cumpre bem seus papéis, externando com eficiência a incredulidade em torno da situação vivida por seus personagens.

Em seus minutos finais, entretanto, I Trapped the Devil de fato diz a que veio. Quando a porta do porão se abre e finalmente temos uma ideia do que realmente está acontecendo do outro lado, o filme ganha contornos inesperados e assustadoramente surpreendentes, que levam a uma conclusão que se não é totalmente inesperada, ao menos conclui com inteligência e maturidade uma história cuja ambiguidade é peça chave na narrativa da produção.

Confesso que talvez eu esteja dando mais valor a este I Trapped the Devil do que o filme realmente merece. De qualquer maneira, é preciso valorizar o cinema de horror independente, especialmente quando o mesmo é concebido com um cuidado maior no desenrolar de sua narrativa e na entrega de seu elenco. Com uma nostálgica aura dos filmes natalinos dos anos oitenta, um humor negro-afiado e uma perigosa e provocativa veia de maldade que pontua toda a produção, I Trapped the Devil é uma das boas e aterrorizantes surpresas do ano.

I Trapped the Devil não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de sistemas de streaming e VOD.

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