Knocking (Knackningar, SUE, 78 min.), estreia na direção de longas da documentarista Frida Kempff, tem início com um atraente gancho: uma tomada aérea de uma praia lotada, onde reina a tranquilidade. Porém, paira no ar um presságio de mau-agouro, enquanto Molly (Cecilia Milocco), tira um cochilo na areia. Mal sabe ela que tratam-se de seus últimos momentos de paz, uma vez que sua namorada decide dar um mergulho no mar cristalino. E então… um grito.
O filme de Kempff causa incômodo no espectador logo de cara, mas esta força inicial vai diminuindo ao longo da curta duração do filme, que mesmo lidando com um tema bastante atual, o gaslighting (forma de abuso psicológico em que a verdade é distorcida ou omitida para favorecer o abusador e fazer a vítima duvidar de sua própria percepção da realidade), nunca parece compreender suas próprias qualidades.
Quando encontramos Molly novamente, ela está saindo de uma clínica psiquiátrica depois de uma longa estadia. Os detalhes do que aconteceu na praia vão voltando aos poucos, enquanto a diretora Kempff volta regularmente ao dia fatídico, enquanto que a performance de Milocco é forte o suficiente para que o espectador entenda a fragilidade de Molly; uma mulher assombrada por seu passado que tenta retornar ao mundo e retomar sua vida.
Molly tenta recomeçar ao se mudar para um pequeno apartamento nos arredores de uma cidade sem nome; um lugar com grandes janelas e uma grande sacada de onde ela pode observar o mundo abaixo dela. Seu médico liga regularmente e até o zelador do local fica de olho nela. Há novamente para Molly uma oportunidade de reencontrar a tranquilidade. Existe somente um problema: as batidas (knocking) do título.
Trata-se do tipo de barulho distante e irritante, comum para quem mora em apartamento. Porém, as batidas ritmadas vindas do teto, aliadas a uma insuportável onda de calor sem precedentes que vem consumindo o país, são suficientes para desequilibrar a problemática Molly. Outras coisas esquisitas começam a se acumular na vida da protagonista, como os estranhos vizinhos que juram não serem eles os responsáveis pelo barulho, e as sinistras manchas que surgem no teto do apartamento. Os acontecimentos inexplicáveis escalam com o tempo; Molly escuta gritos vindos do banheiro, o telefone toca mas não há ninguém do outro lado da linha, e a presença de uma garrafa de Absinto parece assombrar a mulher. Mas Molly não se rende fácil. Em poucos dias ela aprende código Morse, na esperança de que as batidas estejam na verdade enviando alguma mensagem. Molly parece precisar ajudar alguém, ou alguma coisa, à medida em que suas memórias a atormentam cada vez mais.
Uma mulher em sofrimento, machucada pelo trauma, reside no coração do horror recente, em filmes como O Babadook (2014), The Nightingale (2018), Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (2019), Swallow (2019) e Violation (2020), só para citar alguns. Knocking tenta ao máximo juntar-se aos filmes citados, mas a produção vai se tornando cada vez menos cativante e assustadora em seu transcorrer. O filme exagera nas reviravoltas mas sem nenhum propósito real, onde Molly se encontra em situações em que a tensão é diluída. Sem falar nos 10 minutos finais do filme, que contém um nonsense bizarro na narrativa onde as pontas soltas são amarradas de maneira incoerente e sem responder as questões-chave da trama.
Poucos filmes de horror contemporâneo começam tão bem e terminam tão mal. Molly passa o filme todo atrás de respostas, mas Knocking esquece que as perguntas vêm em primeiro lugar. Tais perguntas são suficientes para fazer qualquer pessoa, especialmente o espectador, questionar a realidade que está se revelando à sua frente, e logo, se envolver mais com a história.
Knocking não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de sistemas de streaming e VOD.
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Imagens: Läsk, SVT e Swedish Film Institute.