Crítica: Liga da Justiça de Zack Snyder (Zack Snyder’s Justice League) | 2021

Liga da Justiça

Indo direto ao assunto, eu juro que gostaria de escrever aqui que eu adorei este Liga da Justiça de Zack Snyder (Zack Snyder’s Justice League, EUA, 2021, 243 min.), e que o filme é tudo o que os fãs de Zack Snyder e da DC esperavam. Talvez até seja, mas sob um olhar mais neutro, este novo Liga da Justiça é excessivamente longo (sério, é um exagero) e contém alguns tropeços notáveis. O filme poderia mesmo ser mais curto e mais leve; há um excesso de preparação da trama na primeira metade e efeitos-visuais ruins em algumas passagens. Mas há também alguns ótimos momentos nesta revisão do filme de 2017, e há também muitos elementos que os fãs de Snyder (assim como eu), irão apreciar demais. No geral, esta versão é melhor do que a anterior, onde cada herói tem seu momento e a batalha final é bastante melhorada. Mas o resultado final não é suficiente para colocar o filme como um dos melhores da DC.

Como já era de se esperar, esta versão de Liga da Justiça utiliza os mesmos pontos principais da trama do altamente inconsistente filme de 2017. Com Superman (Henry Cavill) morto depois dos eventos de Batman V. Superman: A Origem da Justiça (2016), Bruce Wayne (Ben Affleck), sai à procura de super-heróis para proteger o mundo na ausência de seu antes antagonista e agora aliado. A morte de Clark Kent tornou a Terra vulnerável a uma invasão. E outros mundos que estão de olho em nosso planeta sabem disso.

Enquanto Batman tenta convencer Aquaman (Jason Momoa), o Flash (Ezra Miller) e Cyborg (Ray Fisher) a juntar-se a ele e Mulher-Maravilha (Gal Gadot), o vilão alienígena Steppenwolf (voz de Ciarán Hinds, de O Primeiro Homem e Elizabeth Harvest) está à procura das três Mother Boxes: supercomputadores conscientes que, quando colocados juntos, possuem a habilidade de devastar planetas inteiros e deixá-los à mercê de seu novo mestre. Trata-se de uma corrida contra o relógio para Batman, que precisa unir os defensores da Terra e impedir que Steppenwolf coloque em prática seu plano genocida.

Ainda que não existam muitas diferenças significantes da premissa do original, a longa duração do Snyder Cut permite que haja tempo de sobra para cada personagem principal. Cyborg, cujo nome real é Victor Stone, e o vilão Steppenwolf são os dois mais beneficiados pela exorbitante duração de quatro horas do filme, já que Snyder consegue fornecer uma boa backstory para os dois. As cenas envolvendo Cyborg foram claramente reduzidas no filme de 2017, mas aqui Fisher tem a chance de brilhar em um papel mais proeminente. Ironicamente, o organismo cibernético é o coração e a alma do Snyder Cut. Algumas das cenas envolvendo Cyborg, especialmente aquelas que formam sua trajetória, são bastante prolongadas, mas o contexto que elas fornecem para seu problemático relacionamento com o pai, Silas (Joe Morton, de Godzilla II: Rei dos Monstros), e seu papel no que vem à seguir, são elementos chave do filme.

O mesmo vale para Steppenwolf, um dos elementos mais criticados do filme de 2017, que foi dirigido por Joss Whedon (Os Vingadores), depois que Snyder precisou abandonar as filmagens após o suicídio da filha. Aqui, o supervilão é apresentado como um antagonista mais poderoso e até mais compreensível em suas ações. É perceptível que não havia muito o que fazer para transformar o vilão como ele foi visto em 2017. Ele ainda é um monstro criado por computação gráfica, que não chega nem perto de um vilão como Thanos por exemplo, mas aqui ele ao menos não parece completamente deslocado. Dito isso, seu novo visual é um tanto indulgente, e ele não parece tão incrível de uma perspectiva dos efeitos-especiais quando ele se move pela tela. Ainda assim, o desejo de Steppenwolf em conquistar a Terra tem uma explicação melhor do que meramente entregá-la para seu mestre, o poderoso Darkseid (voz de Ray Porter), que eu deixarei para vocês descobrirem. Há ainda um bom tempo de cena adicional para o elenco de apoio, incluindo Lois Lane (Amy Adams) e o Comissário Gordon (J.K. Simmons), mas nada que altere substancialmente o plot.

Estas cenas apenas tornam maior o principal problema deste Liga da Justiça. Com suas três horas e 53 minutos mais 10 minutos só de créditos, o Snyder Cut é muito mais longo do que precisava ser. O filme geralmente não funciona o suficiente para ser realmente divertido, e é possível entender porque os executivos da Warner podem ter perdido a fé nesta versão. As primeiras duas horas, tirando as sequências de batalha envolvendo Steppenwolf e as Amazonas, e a cena onde a Mulher-Maravilha salva alguns civis em uma biblioteca, são totalmente dedicadas a desenvolver a trama e a exposição. Além de desnecessário, este excesso de duração impede o fluxo da história. Um roteiro mais enxuto teria diminuído sensivelmente a duração do filme e por consequência, melhorado o ritmo da narrativa.

Quando o Snyder Cut chega à sua metade final, as coisas finalmente pegam no breu e Snyder mergulha de cabeça na ação. A versão do diretor é dividida em seis capítulos, e não é coincidência que as partes de quatro a seis detonam em comparação com o original de 2017. A batalha final, em particular, se beneficia da interpretação original de Snyder de como ela deveria ser. O time de heróis finalmente se junta para impedir que Steppenwolf junte as Mother Boxes. Toda a batalha é um espetáculo onde os riscos soam reais e, diferente da versão de Whedon, não é saturada por aquele opressivo filtro vermelho. Cada herói tem seu momento para brilhar, e a sequência ainda contém cenas novas que apresentam alguns momentos surpreendentes que deixarão alguns espectadores mais empolgados na ponta da cadeira.

A batalha final não é a única sequência de ação que atende às expectativas. Barry Allen, aka The Flash, ganha uma sequência anterior no filme em que seus poderes são realmente apresentados para o público, e esta é uma das poucas ocasiões onde a atração de Snyder pela câmera lenta realmente brilha. É um momento emocionante e honesto com o personagem, nascido de um potencial acidente fatal, e que também é extremamente bem-vindo em um filme onde os eventos apocalípticos dominam a narrativa. Em retrospecto, deixar esta cena no chão da sala de edição em 2017 foi uma péssima decisão.

Com um valor de $70 milhões gastos com este Snyder Cut, incluindo efeitos-visuais adicionais, poderia ter sido feito mais para garantir que cada elemento visual fosse perfeitamente renderizado. O exagero no uso da tela verde ao longo da produção é óbvio também, e um pouco mais de cuidado teria evitado algumas sequências finais um tanto defeituosas visualmente. Não são só os efeitos visuais que soam um pouco estranhos. A vontade de Snyder em utilizar o formato 4:3, ao invés do widescreen com o qual estamos acostumados, é frustrante. Claramente, esta decisão foi tomada com o intuito de posteriormente lançar o filme no formato IMAX, mas é supérfluo quando o filme é lançado diretamente em serviços de streaming. Aqui no caso, a HBO Max.

Do ponto de vista de um fã da DC, seria bom não colocar as expectativas tão lá em cima. Se você está esperando algo incrível da notória participação especial do Coringa de Jared Leto, por exemplo, o filme acaba desapontando. Os vinte minutos finais do Snyder Cut são apresentados como preparação de terreno para futuras sequências que provavelmente nunca virão, e isso também conta contra o filme. Você pode até elogiar o Snyder por confiar em seu final original, mas as cenas que mostram a suposta despedida de cada herói, não servem como resolução para o filme. A conclusão serve meramente como um prelúdio para eventos que ainda estariam por vir, mas como as duas supostas sequências deste Liga da Justiça são bem improváveis, seria mais prudente descartar estas partes extras e dar ao filme um final mais conclusivo.

Liga da Justiça de Zack Snyder deixa a desejar justamente no que a maioria dos fãs esperavam da visão original do diretor. É uma sensível melhora em comparação com a iteração lançada em 2017, mas qualquer coisa seria melhor do que aquele filme medíocre. Se o filme de Whedon é a régua pela qual medimos o Snyder Cut, então a nova versão é ótima. Contra outros filmes de super-heróis, no entanto, é um esforço mediano afetado por efeitos fracos, excessivas tomadas em câmera lenta e uma duração insuportavelmente longa.

Aqueles que clamaram pelo lançamento de Liga da Justiça de Zack Snyder pelos últimos três anos ficarão felizes. Para todos os outros, contudo, é um correto e distinto filme de super-heróis que poderia ter sido muito mais com um polimento extra, e melhores tomadas de decisão na fase de elaboração do roteiro.

Liga da Justiça de Zack Snyder estreia amanhã, 18 de março, na HBO Max, Sky e Now TV.

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagens: Warner Bros. e HBO Max.

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