Crítica: Meu Filho (My Son/Mon Garçon) | 2019

My Son/Mon Garçon

Quando um menino desaparece nas matas nevadas do leste da França, seu pai embarca em uma cruzada de roer as unhas para resgatá-lo antes que seja tarde demais. Já viu esse filme antes? Busca Implacável (Taken, 2008), Os Suspeitos (Prisoners, 2013) até o mais recente O Sequestro (Kidnap, 2017), são apenas alguns dos exemplares do suspense que retratam pais saindo da zona de conforto para salvar seus filhos de mãos criminosas. E ainda que Meu Filho (My Son/Mon Garçon, FRA/BEL, 2019), filme rodado em 2017 e que marca a reunião entre o diretor Christian Carion e o ator Guillaume Canet (do excelente Feliz Natal, 2005), se desvie pouquíssimo da fórmula, o filme carrega consigo uma sensação incômoda que se apoia na empolgante interpretação de Canet no papel de um pai que embarca numa jornada de redenção e justiça. Lançado no grande circuito na França, este genérico porém potente esforço foi filmado em inacreditáveis seis dias (!), o que aumenta a sensação de estarmos acompanhando a busca em tempo real.

Com enxutos 84 minutos de duração, Meu Filho já começa na pegada, acompanhando o geólogo Julian (Canet), dirigindo em alta velocidade por uma estrada montanhosa até chegar ao acampamento onde seu filho de sete anos de idade desapareceu no dia anterior. Após uma emotiva conversa com sua ex-mulher, Marie (Mélanie Laurent, de Bastardos Inglórios), e um ansioso interrogatório com a polícia, o espectador fica à par dos fatos: Julien saiu da cidade há alguns anos depois de se separar de Marie, que agora se juntou com um local chamado Gregoire (Olivier de Benoist). Desde então, Julien tem trabalhado fora do país e mantido pouco contato com seu filho, que tem sofrido com a ausência do pai e que desapareceu subitamente durante a viagem de acampamento.

A culpa que Julien carrega fica evidente desde as primeiras cenas do filme, onde ele tenta se reconectar com a família que deixou para trás. Por alguns segundos, cheguei até a pensar que talvez ele próprio fosse o responsável pelo desaparecimento do filho, apesar das suspeitas logo caírem sobre o sinistro Gregoire, que revela-se indiferente quanto ao destino do garoto. E no primeiro de muitos momentos extremos da produção, Julien extravasa sua fúria em cima de Gregoire espancando-o violentamente, num ato de vingança visceral tanto por seu casamento fracassado quanto pelo desaparecimento de seu filho. À partir daí, fica claro que nenhum dos dois homens é o responsável pelo sumiço do menino.

Entretanto, tal constatação não é suficiente para solucionar o mistério, e Carion e Canet colocam o público em uma busca desenfreada junto de Julien, que se recusa a cooperar com a polícia e tenta resolver tudo com as próprias mãos. O filme derrama algumas pistas em seu caminho, incluindo alguma coisa relacionada ao modo duvidoso com que sua empresa faz negócios com o Oriente Médio. Contudo, Julien consegue solucionar o quebra-cabeça de maneira rápida. Tão rápida, que chega a colocar em xeque a credibilidade da trama, apesar de que Meu Filho não está muito preocupado em consistência narrativa, mas sim em mergulhar seu protagonista em uma periclitante situação onde ele pode descer a porrada geral.

Neste sentido, Canet realmente leva o filme nas costas, dando a Julien uma veia sombria e frenética que mantém o público grudado na cadeira. O ator aparentemente improvisou a maioria de suas cenas, que segundo informações, foram filmadas de maneira que o ator não soubesse o que viria a seguir. E nem preciso dizer que, em um thriller, tal efeito rende maravilhas no resultado final. E mesmo quando as coisas degringolam um pouquinho no último ato, o espectador se mantém focado na violenta luta de Julien para encontrar seu filho.

Para manter o nível de tensão lá em cima, Carion emprega uma estética sutil e visceral que remete ao seu citado drama de guerra indicado ao Oscar, Feliz Natal, e seu épico sobre a Segunda Guerra, Viva a França! (Come What May, 2015). Trabalhando com o cinematógrafo Eric Dumont (O Valor de um Homem, 2015), o diretor faz excelente uso do cenário nevado francês, com Julien dirigindo por estradas isoladas que levam a locais sinistros no meio do nada. O design de som de Thomas Desjonqueres (The Dancer, 2016), aumenta ainda mais a atmosfera incômoda da produção, enquanto que o score à cargo de Laurent Perez del Mar (da bela animação A Tartaruga Vermelha, 2016), também pontua bem o filme.

Resumindo, Meu Filho à princípio carrega aquela vibe de thriller genérico onde o que menos importa é a originalidade, e sim os meios para se chegar ao fim. Talvez o filme se resuma exatamente a isto, contudo, a maneira direta, econômica e nervosa com que Meu Filho é construído e interpretado, faz com que a sessão revele-se muito mais satisfatória do que o esperado.

Meu Filho não tem previsão de estréia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país em breve através de serviços de streaming e VOD.

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