Crítica: O Grito (The Grudge) | 2020

Qual o real objetivo de um remake? Ao contrário da maioria dos pseudo-críticos e malas de plantão que não podem ouvir falar de um remake que já começam a criticar, eu acho válido que determinado filme ganhe uma refilmagem, desde que alguns aspectos essenciais da obra original sejam devidamente observados. Entretanto, confesso que até eu torci o nariz quando soube desta nova versão de O Grito (The Grudge, CAN/EUA, 2020), principalmente pelo fato de se tratar da segunda refilmagem da obra original japonesa Ju-on, dirigida por Takashi Shimizu em 2002.

Ju-on foi, ao lado de Ringu, filme de Hideo Nakata lançado em 1998, o precursor do J-Horror, subgênero nipônico do horror que gerou uma verdadeira avalanche de remakes americanos e continuações tanto em terras japonesas quanto americanas. O próprio Ringu deu origem ao mais bem-sucedido remake americano de uma obra do J-Horror, o ótimo O Chamado (The Ring), um assustador exercício de tensão dirigido por Gore Verbinski em 2002. O primeiro remake de Ju-on chegou aos cinemas dois anos depois, em 2004, ainda na onda de popularização do horror originário do Japão, e dirigido pelo próprio Shimizu. E confesso que, apesar de reconhecer que a versão americana não é nenhum primor, trata-se de um filme de terror bastante eficiente. Esta versão ainda gerou mais uma sequência interessante em 2006, ainda dirigida por Shimizu, e mais uma sequência bastante inferior lançada diretamente em vídeo em 2009.

Cerca de 15 anos depois do lançamento de seu primeiro remake, e bem longe de qualquer tipo de movimento de ressurreição do cinema de horror japonês, esta nova investida na história da terrível maldição que persegue os pobres infelizes que se envolvem com ela de algum modo, chega aos cinemas para tentar a sorte com toda uma nova geração de espectadores. Se esta nova geração vai gostar ou não do filme eu não sei. Só sei que eu curti. E muito! Nas mãos do ascendente e jovem diretor Nicolas Pesce (do impressionante cult Os Olhos de Minha Mãe, lançado em 2016), este O Grito oferece um novo olhar sobre a história criada por Shimizu, mas sem perder sua essência. Ou seja, atende a todos os requisitos que um remake deveria atender.

Outra credencial fortíssima do filme é seu elenco, infinitamente superior ao do primeiro remake. Se na versão americana de Shimizu tínhamos a “Buffy” Sarah Michelle Gellar como maior nome do elenco, no filme de Pesce são três indicados ao Oscar encabeçado o cast: O mexicano Demián Bichir (Por Uma Vida Melhor, Os Oito Odiados), a veterana Jacki Weaver (Reino Animal, Artista do Desastre) e a bela Andrea Riseborough (do horror Mandy e do drama Nancy, cujas críticas estão disponíveis aqui no Portal do Andreoli). O filme ainda conta com nomes fortíssimos como os de John Cho (do thriller Buscando), Betty Gilpin (da comédia Stuber), William Sadler (Um Sonho de Liberdade, À Espera de um Milagre), além da figurinha carimbada do gênero Lin Shaye (franquia Sobrenatural, The Final Wish).

Esta versão de O Grito transpõe sua original premissa central, a de uma casa supostamente infectada com a energia assombrada de uma mãe, Kayako (Junko Bailey), que assassinou toda sua família e que causa terror e caos nos novos residentes do local. Desde o Japão até os Estados Unidos. Pesce, responsável também pelo roteiro, assina uma narrativa que acompanha três diferentes histórias com três diferentes grupos de residentes que viveram na mencionada casa amaldiçoada, e que foram tocados pelo mal que vive lá dentro. Enquanto isso, a obstinada detetive Muldoon (Riseborough), trabalha para resolver os misteriosos motivos por trás dos assassinatos que deram início à terrível maldição.

O que realmente chama a atenção neste O Grito é mesmo o roteiro de Pesce, que costura os diferentes fios narrativos que conduzem a trama sem nunca perder o ritmo e a constante sensação de tragédia que também esteve bastante presente em seu trabalho de estreia, o citado Os Olhos de Minha Mãe. Não faltam também momentos assustadores, é claro, e a direção competente de Pesce aliada ao excelente elenco valoriza ainda mais tais momentos. Há até uma releitura da infame sequência do banho, onde uma mão parece sair da cabeça de um dos personagens enquanto este lava a cabeça. Quem aqui nunca teve medo de fechar os olhos no banho e ver um demônio quando os abrisse que atire a primeira pedra.

Sei muito bem que aceitar os cada vez mais numerosos remakes e reboots que Hollywood regurgita todos os anos não é tarefa fácil para nenhum cinéfilo. Porém, quando uma releitura é construída em cima do talento envolvido na produção, à frente e atrás das câmeras, e não somente em cima de uma ideia que deu certo, como é o caso deste O Grito, vale a pena investir tempo e dinheiro na empreitada. Principalmente quando a ida ao cinema é garantia de duas horas de medo e sustos de arrepiar a medula.

O Grito estreia nos cinemas brasileiros no dia 13 de fevereiro/2020.

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