Crítica: O Mínimo Para Viver (To The Bone)

Exibido e bem recebido no Festival de Sundance deste ano, o drama indie O Mínimo Para Viver (To The Bone, EUA, 2017), foi adquirido pela gigante do entretenimento Netflix, que lançará a produção em seu catálogo no próximo dia 14 de Julho. Uma decisão acertada da produtora, já que O Mínimo Para Viver é uma delicada e relevante produção, que discute um tema sempre atual, retratando a luta de uma jovem mulher (Lily Collins, do recente Okja, outra produção lançada nas últimas semanas no catálogo da Netflix, e cuja crítica você também confere aqui no Portal do Andreoli), contra a anorexia.

A roteirista e diretora Marti Noxon faz sua estreia na direção com este drama que dá aos seus espectadores uma perspectiva em primeira mão do assustador mundo dos distúrbios alimentares, e também dos problemáticos indivíduos que sofrem destas condições. No centro deste mundo está a performance de Lily Collins, dramaticamente sincera mesmo que o público não considerasse o peso que a atriz perdeu para dar vida à sua personagem Ellen, uma esperta e articulada mulher que precisa desesperadamente de ajuda médica, mas que se recusa a aceitar os conselhos de vários terapeutas. Entretanto, tudo muda quando Ellen conhece o Dr. Beckham (o astro Keanu Reeves), que promete um tratamento diferente, mais intenso do que ela está acostumada, que envolve viver em uma casa com pessoas que sofrem dos mais variados tipos de distúrbios alimentares, com o objetivo de abrir os olhos de Ellen, de maneira que a faça optar por uma vida mais saudável.

Após mostrar ao público a assustadora anorexia de Ellen em diversos close-ups, enquanto a personagem fala sobre sua condição utilizando um discurso repleto de humor-negro (ela conta calorias em uma cena propositalmente ingênua e trágica ao mesmo tempo), a narrativa de Noxon procura focar no momento em que Ellen é trazida para a suposta casa (ou clínica, se preferirem), onde as regras começam a aparecer. Não há portas na casa, nada de celulares, e pontos são ganhos quando tarefas são cumpridas. Estes pontos podem ser usados para que o indivíduo possa passar um tempinho longe da casa.

O público também é apresentado a outros residentes do local, e a suas variadas condições, como por exemplo Pearl (Maya Eshet, do vindouro drama indie Flower), que frequentemente se encontra em uma cama com um tubo enfiado no nariz; o ex-dançarino Luke (Alex Sharp, da vindoura comédia cult How to Talk to Girls at Parties), que perdeu boa parte de seu peso após uma lesão, e até uma personagem que está grávida, apesar da perigosa magreza e fragilidade de seu corpo, e que está trabalhando duro para conseguir dar à luz em segurança. Ellen também luta, por sua vez, para compreender melhor sua condição, enfrentando o ódio que sente por si mesma (que a coloca em um tortuoso conflito sobre se ela quer realmente melhorar ou não), principalmente devido ao seu perturbador passado.

O Mínimo Para Viver carrega um concreto senso de lugar, pessoas e perspectiva, que faz com que o filme se torne mais forte do que suas falhas. Chega a ser surpreendente que o filme tenha um tom tragicômico, dado seu doloroso assunto central. Este tom ajuda o espectador a lidar com a temática extremamente triste da produção, cujos testemunhos de suas protagonistas levam genuinamente às lágrimas em alguns momentos. O filme, entretanto, por vezes toma uma direção narrativa desinteressante, focando demais na relação entre Ellen e Luke, enquanto poderia tomar mais tempo para falar mais sobre as outras histórias de vida da casa. As impactantes ideias do filme são utilizadas para algo que parece querer remeter ao imediatismo emocional de A Culpa é das Estrelas, de forma a agradar as grandes plateias. Mesmo Reeves, cujo personagem é introduzido com certa sagacidade intrigante, acaba caindo no lugar comum.

Ainda assim, há bastante paixão neste projeto, desde o visível condicionamento físico que Collins e o restante do elenco se propuseram para dar veracidade aos seus personagens e à história em si, até ao modo como Noxon não recua, para sempre mostrar o quão ameaçadores à vida são os distúrbios alimentares, principalmente a anorexia. Trata-se de um filme de imenso valor humano, que trata cada uma de suas histórias como dramas reais, longe da fantasia mentirosa de que a morte pode ser poética. Não nestes casos. Resumindo, fico feliz que este O Mínimo Para Viver exista, e também pelo fato de a Netflix ter adquirido os direitos da produção para que o grande público possa assisti-lo. É um filme que merece uma grande audiência, seja pelos espectadores que querem empatia, ou pelos espectadores que precisam se identificar com sua própria dor.

Conforme mencionado, O Mínimo Para Viver estreia no catálogo da Netflix no dia 14 de Julho.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Compartilhe esta notícia

Mais postagens