Crítica: O Último Suspiro (Just a Breath Away/Dans la Brume) | 2018

O Último Suspiro

Produção exibida e surpreendentemente laureada no Fantasia Festival deste ano, este thriller O Último Suspiro (Just a Breath Away/Dans la Brume, FRA/CAN, 2018) carrega bem a aura do festival no qual foi exibido. De acordo com Mitch Davis, o organizador do Fantasia, a dedicada plateia de um dos festivais mais tradicionais de cinema fantástico do mundo possui contínuas curiosidade, loucura e paixão, e é este misto de sentimentos que não deixam o cinema de horror e fantasia morrer.

E foi mais ou menos assim que me senti assistindo à este frustrante (em minha modesta opinião, já que o filme levou O prêmio do festival) O Último Suspiro, pois transitei da curiosidade à loucura durante os batidos 90 minutos de duração do filme. Dirigido pelo cineasta sem maiores referências Daniel Roby, a produção imagina um apocalipse (olha eu aí DE NOVO falando de um filme sobre o Fim do Mundo!) em que Paris é dominada por um tsunami de fumaça tóxica, deixando uma avalanche de corpos em seu caminho, mas se elevando apenas alguns metros no ar.

Apenas algumas poucas pessoas conseguiram sobreviver ao inexplicável fenômeno: O motoqueiro machão Mathieu (Romain Duris, do drama De Tanto Bater Meu Coração Parou, 2005), e sua esposa, Anna (a estonteante Olga Kurylenko, da sci-fi Oblivion, 2013), de quem estava separado. Durante o súbito evento, os dois conseguiram se refugiar no apartamento da cobertura do prédio onde Anna vive, cujos proprietários são um adorável casal de velhinhos. Entretanto, Mathieu e Anna não foram capazes de resgatar a pessoa mais importante de suas vidas: sua filha Sarah, que ainda se encontra no apartamento de Anna, dentro de uma bolha médica devido à uma doença rara. O restante do filme então, consiste na missão de resgate dos pais à sua filha, sendo que a bolha em que a garota se encontra precisa ter sua bateria recarregada frequentemente.

Claramente bebendo da água de filmes como O Nevoeiro (The Mist, 2007) e A Névoa Assassina (The Fog, 1980), o roteiro escrito à seis mãos por Jimmy Bemon, Mathieu Delozier e Guillaume Lemans (do thriller 72 Horas, 2010) é preguiçosamente construído em cima da dinâmica “névoa apocalíptica/garota em uma bolha”. Não é impossível fazer tal dinâmica funcionar narrativamente, mas o filme sub-utiliza ambos os elementos, tornando-os apenas artifícios óbvios com o propósito de criar conflito em torno de um evento catastrófico de enormes proporções. Mais tarde, quando Mathieu e Anna caminham através da névoa imaginando o que está por trás dela, fica a sensação de que o próprio diretor Daniel Roby também não faz a mínima ideia. Contudo, a indiferença de Roby com relação à possibilidade que sua névoa se mostre mortal, garante algumas imprevisíveis emoções ao espectador.

O Último Suspiro é uma abordagem um tanto amadora ao gênero dos filmes-catástrofe. A trama aborda praticamente todos os clichês do gênero, como o foco na proteção da família ou a ideia de ficar colocando os personagens constantemente em perigo. O filme de Roby acaba soando repetitivo, com pelo menos umas cinco sequências onde a tensão gira em torno de algum dos personagens correndo através da neblina, com pouco oxigênio no tanque ou literalmente prendendo a respiração. E se você comparar O Último Suspiro ao recente Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), outro filme de horror apocalíptico voltado para a proteção da família, John Krasinski vai passar como um tremendo de um visionário, o que Roby claramente não é. As similaridades entre ambos os filmes são infelizes para o filme de Roby, nitidamente inferior.

Mas O Último Suspiro merece algum crédito. Há algumas passagens de visual apocalíptico de esfriar a espinha, como a visão do banner de “S.O.S.” estendido sobre a catedral de Notre Dame, que serve também para lembrar o espectador de um filme mais interessante acontecendo durante o apocalipse. E ainda que eu tenha passado boa parte do filme discordando da noção do que Roby considera o que constitui verdadeiro drama, ou incomodado com quantas vezes ele tenta construir tensão ao mandar seu elenco prender a respiração, O Último Suspiro de fato tem um twist em seus momentos finais que até agora eu não acredito que eu não tenha adivinhado. Acabou justificando a sessão.

O Último Suspiro ainda não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, mas pode ser que ganhe um lançamento em algumas salas nos próximos meses de 2018.

Uma resposta

  1. Filme claramente inspcirado em um jogo da Ubisoft chamado I m alive,
    Nesse jogo o protagonista estava retornando para casa depois de uma viagem
    Quando ele chega em sua cidade acontecem terremotos em várias partes do mundo
    Assim com a queda de vários edifícios e com a poeira junto com uma névoa que sai do chão,
    Fãs se um cenário bem semelhante ao do Apocalipse que aparece no filme

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