Crítica: Oxigênio (Oxygen) | 2021

Assim que o logo da Netflix e o som associado a ele desaparecem, o próximo frame deste Oxigênio (Oxygen, FRA/EUA, 2021, 101 Min.) mostra um rato circulando em um local que aos poucos vai sendo revelado como um labirinto. É uma imagem um tanto aleatória, mas se tem uma coisa que o cinema do diretor francês Alexandre Aja (Viagem Maldita, Predadores Assassinos) não é, é aleatório. Como era de se esperar, o labirinto tem algo a ver com o mistério que em breve será apresentado.

O mistério em questão se mostra em uma câmara criogênica onde Elizabeth Hansen (Mélanie Laurent, de Bastardos Inglórios, Esquadrão 6 e o drama Meu Filho) – e eu nem vou me dar ao trabalho de entrar nos detalhes em torno da personagem já que grande parte da diversão do filme vem de cada pequena descoberta – desperta. Ela se descobre coberta dos pés à cabeça por um casulo orgânico que ela eventualmente rasga por dentro, e além disso, ela tem uma agulha intravenosa injetada em seu braço, um dispositivo monitorando sua atividade cerebral, e… amnésia. A única forma de Elizabeth conseguir descobrir o que está acontecendo é interagir com M.I.L.O. (voz de Mathieu Amalric, de O Som do Silêncio e O Escafandro e a Borboleta), uma inteligência artificial que pode acessar todo tipo de informação desde que não seja restrita. Para complicar tudo ainda mais, o tempo é essencial, considerando que partes críticas da câmara estão em mal funcionamento e o oxigênio acabará entre 45 e 72 minutos (mais ou menos em tempo-real e dependendo da velocidade com que Elizabeth esgota a si mesma).

Sendo transparente, esta é uma das críticas mais difíceis que eu tive que escrever em mais de dez anos de experiência escrevendo sobre cinema. Isso se dá ao fato de que principalmente por causa do roteiro à cargo da estreante Christie LeBlanc, o filme vive e morre em suas revelações e reviravoltas. Felizmente, a trama traz algumas revelações genuinamente surpreendentes (uma delas acompanhada por uma sequência cinematograficamente mesmerizante que “gira” de maneira belíssima e culmina num dos olhos da protagonista). O espectador também fica sabendo aos poucos sobre a atual condição do planeta Terra e da humanidade, o que é intrigante, mas cujas ramificações nunca são realmente exploradas, como se tal subtexto existisse apenas para manter a lógica do thriller intacta.

Determinado a verdadeiramente bagunçar as mentes do público e especialmente de Elizabeth, Oxigênio coloca em pauta a possibilidade de que parte do que está acontecendo podem ser alucinações psicóticas da protagonista devido ao longo período de isolamento. Ao reconhecer isso e em seguida tomar uma rota específica, o aspecto em torno do mistério do filme se torna mais complexo mesmo que a história nunca alcance o impacto emocional desejado. A situação força Elizabeth a utilizar as limitadas funções de M.I.L.O. para reunir conhecimento sobre sua própria identidade e confirmar ou descartar certas coisas que ela vê e escuta (ela pode ligar e se conectar com alguns personagens coadjuvantes, incluindo um capitão da polícia dentro do departamento de ciência forense).

Experiências cinematográficas semelhantes foram construídas recentemente (Enterrado Vivo com Ryan Reynolds é o paralelo mais direto), então não se trata exatamente de um conceito novo, porém é sempre um conceito difícil de se alcançar um resultado satisfatório. Há uma admirável ambição com o tema do amor eterno (acredite, estou sendo intencionalmente vago para continuar guardando os segredos da trama) que o diretor Alexandra Aja busca em seu filme. E ainda que Oxigênio nunca ressoe tão bem dramaticamente, a performance nervosa e aterrorizada de Mélanie Laurent eleva o nível do claustrofóbico material, que no final das contas consiste em uma série de revelações que escalam em privacidade e escopo. Tal escopo pode até ser um tanto amplo demais, mas Oxigênio com certeza vai tirar o fôlego de muita gente.

Oxigênio estreia dia 12 de Maio no catálogo da Netflix.

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

*Imagens: Netflix.

3 respostas

  1. Fala Kacic o trailer me lembrou do cubo, se bem que como disse existe os outra os longas paralelos, vamos aguardar para ver! blz de crítica!

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