Crítica: Stuber (2019)

Stuber

Eu sempre fui fã de um bom e velho “buddy movie“. Inclusive, acho que foi isso mesmo o que eu disse no início da minha crítica do filme Dupla Explosiva (The Hitman’s Bodyguard), outro buddy movie, aqui mesmo no Portal do Andreoli. Para quem não está familiarizado com o termo, um buddy movie é na grande maioria das vezes um filme de ação com fortes pinceladas de comédia, cuja história desenvolve a amizade e o companheirismo entre os dois personagens centrais. Tais personagens, geralmente são policiais (ou pelo menos um deles é), e na maioria das vezes, começam o filme se odiando. 48 Horas, Máquina Mortífera, Os Bad Boys, Fuga à Meia-Noite, entre tantos outros, são apenas alguns dos exemplos deste subgênero bastante Hollywoodiano. Este Stuber (EUA, 2019), é mais um exemplar que entra para a galeria dos buddy movies, ainda que o filme do diretor Michael Dowse (Goon: Os Brutamontes, 2011), que fez sua estreia no Festival SXSW deste ano, priorize mais a ação hiper-violenta e o tom bastante sarcástico, e fique devendo um pouco no quesito comédia. Não que eu ache isso ruim, até porque Stuber é bastante divertido e movimentado, além de contar com muito talento envolvido na produção. Existe inclusive a ideia na indústria de que mesmo o mais mundano dos buddy movies pode ter seu resultado elevado e ainda funcionar, desde que você tenha dois excelentes protagonistas (como aconteceu por exemplo no recente As Bem-Armadas, onde Sandra Bullock e Melissa McBride salvam a hora).

Stuber segue exatamente esta teoria, ao colocar o fortão carismático Dave Bautista (de Bushwick e da franquia Guardiões da Galáxia), no papel de Vic, um tira durão que há tempos vem perseguindo um criminoso de alta periculosidade (Iko Uwais, de Operação Invasão 2, Headshot e Beyond Skyline, cujas críticas também estão disponíveis aqui no Portal do Andreoli), ao lado de Stu (o ótimo Kumail Nanjiani, de Doentes de Amor, cuja crítica também está disponível aqui no Portal), um funcionário de uma loja de material esportivo que à noite trabalha como motorista de Uber, como forma de ajudar sua amiga (e paixão secreta), Becca (Betty Gilpin, da comédia Megarromântico, da Netflix), a abrir sua própria academia. Depois que uma cirurgia na vista deixa Vic com a visão temporariamente debilitada, e bem quando uma pista quente do criminoso surge em seu caminho, ele entra no Uber de Stu e os dois acabam se unindo à contra-gosto para conseguirem capturar o criminoso. Isso se conseguirem sobreviver um ao outro.

Apesar de alguns problemas evidentes no desenvolvimento dos personagens e principalmente na narrativa, a química entre o timing e performance física de Bautista e o dom de Nanjiani para transformar qualquer frase em algo hilariante, garantem pontos para o filme. Claro que Stuber não consegue escapar das armadilhas deste tipo de filme, mas os objetivos bem definidos de seus protagonistas e a mecânica da história como um todo acaba funcionando graças aos dois intérpretes centrais.

O nível de ação não decepciona. A violência é um tanto exagerada para este tipo de produção, mas quem me conhece um pouco sabe que eu nunca reclamaria disso. Uma das melhores cenas (possivelmente uma homenagem ao clássico B dos anos 80, Eles Vivem), coloca Vic e Stu em uma interminável briga de rua que foi concebida para arrancar risadas do espectador, mas para alguns pode soar vaga e desnecessária. E há ainda a presença do artista marcial Iko Uwais, sempre uma presença de intensidade nos filmes de ação em que atua. Aqui, infelizmente, sua presença é um tanto desperdiçada, principalmente na edição, que não faz justiça às habilidades do ator como um performer físico.

Alguns artifícios da trama forçam um pouco para incorporar a lógica do aplicativo da Uber na história, mas sem prejudicar o andamento do filme. Pelo contrário, tais artifícios acabam rendendo algumas risadas, como por exemplo o fato de que Stu anda preocupado com o fato de que sua timidez e inabilidade em se conectar com as pessoas está diminuindo sua taxa de aprovação, o que faz com que ele siga com Vic até onde puder na esperança de que o tira faça uma boa avaliação de seus serviços. Há outras gags envolvendo o aplicativo, como uma que faz referência ao Uber Pool (aquela opção de custo baixo onde a corrida é dividida entre dois ou mais passageiros), outra que brinca com os valores das tarifas, e por aí vai. Pode até soar mais como propaganda para o serviço do que como um elemento orgânico da história, mas prefiro evitar esse tipo de pensamento e me divertir com as piadas.

Como acontece com inúmeros buddy movies por aí, Stuber passa por cima de diversos problemas e incongruências para se tornar um programa altamente divertido e descompromissado. Bautista e Nanjiani formam um par perfeitamente incompatível que assim como Nolte e Murphy em 48 Horas, e Gibson e Glover em Máquina Mortífera, evocam o que há de melhor um no outro. Digamos que se Stuber fosse um motorista de Uber, uma avaliação de três estrelas estaria de bom tamanho.

Stuber estreia nos cinemas brasileiros no dia 07 de novembro.

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