Crítica: Suspiria (2018)

Suspiria

Em primeiro lugar, antes de escrever esta crítica, preciso deixar claro que não sou fã do drama Me Chame Pelo seu Nome (Call Me by Your Name), filme badaladíssimo e vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado na cerimônia deste ano. Me Chame Pelo seu Nome é o filme anterior do diretor italiano Luca Guadagnino (Um Sonho de Amor, Um Mergulho no Passado), e apesar do hype e dos profusos elogios recebidos pela crítica, considero o filme, com exceção do diálogo/monólogo protagonizado no final do filme pelo ator Michael Stuhlbarg, uma produção entediante e excessivamente pretensiosa.

É curioso observar que o filme seguinte de Guadagnino, este Suspiria (EUA/ITA, 2018) exala exatamente a mesma pretensão de seu filme anterior, e também chega embalado em um hype insuportável. Este Suspiria, para quem ainda não sabe, é um remake do filme homônimo de 1977, dirigido por um dos mestres do Giallo – gênero literário e cinematográfico italiano de suspense e romance policial que teve seu auge entre as décadas de 1960 e 1980. O nome é uma referência às capas amarelas das revistas pulp italianas, publicadas a partir de 1929 – Dario Argento, e definitivamente, trata-se de uma sensual experiência projetada para provocar. Quase UMA HORA mais longo que o filme original (com absurdos e desnecessários 152min. de duração), o remake de Guadagnino é um verdadeiro banquete de excessos, que carrega tudo o que é excitante e frustrante dentro da vertente do exagero. Os fãs do original cult vão aprovar as presenças de Dakota Johnson e Tilda Swinton à frente do elenco, e elas realmente estão ótimas, mas este Suspiria definitivamente não é para todos os públicos.

O filme flutua entre o horror psicológico e o melodrama, ao mesmo tempo em que demanda paciência e tolerância por parte do espectador, o recompensando com uma história que por vezes é poética em seu tom, e por vezes cafona em sua execução. Entretanto, as inconsistências, os relances de brilhantismo e as irritantes pretensões do filme, parecem pertencer ao mesmo pacote. Assim como os números de dança vanguardistas da produção, Suspiria mira a grandiosidade, mas em nenhum momento chega perto dela.

Ambientado na Berlim de 1977 (ano de lançamento do filme original), o filme acompanha a dançarina americana Susie (Johnson), que foi aceita em uma prestigiosa academia comandada pela exigente Madame Blanc (Swinton). A escola vive um período atribulado, desde o desaparecimento de uma talentosa e problemática pupila, Patricia (Chloë Grace Moretz, do remake de Carrie: A Estranha, 2013), e pouco depois de Susie conseguir o papel principal na mais recente produção da academia, se intensifica na escola a suspeita de que algo malevolente está à espreita no local.

Enquanto o filme de Argento escondia suas sombrias revelações, Guadagnino já revela de cara que a escola é na verdade uma irmandade secreta. Este artifício é mais um em que este remake difere do original, expandindo o escopo do filme de 77 e focando mais na dinâmica entre os personagens. Além disso, uma nova e crucial subtrama relacionada à um velho terapeuta, interpretado por Lutz Ebersdorf, adiciona dimensões extras à este conto de bruxaria e terror.

Guadagnino e o roteirista David Kajganich (da excelente série The Terror e do vindouro remake de Cemitério Maldito), conceberam sua Susie como uma ousada e enigmática prodígio, e sua ascensão meteórica – e seus subsequentes horrores – evocam o superior filme de Darren Aronofsky, Cisne Negro (Black Swan), lançado em 2010. Produção que igualmente funciona como uma análise sobre a arte e a ambição. O clássico Giallo de Argento era apoiado nos choques e na atmosfera, e ainda que o novo Suspiria seja muito mais lento e silencioso, consegue ser igualmente perturbador ser copiar a narrativa, a vibrante paleta de cores ou a incômoda trilha-sonora incidental. O score do músico Thom Yorke (líder e vocalista da banda Radiohead) é mais soturno, enquanto que a fotografia do tailandês Sayombhu Mukdeeprom (do citado Me Chame pelo Seu Nome) prefere trabalhar com os marrons e cinzas, longe dos vívidos vermelhos e verdes de Argento.

À medida em que o mistério começa a ser desvendado, Suspiria revela-se um filme mais eficiente em causar aflição do que enriquecer propriamente seus personagens. Swinton está arrepiante como Blanc, sua pele pálida e longos cabelos lisos dão uma ideia da ameaça que espreita abaixo da superfície. Mas a atriz vencedora do Oscar é tão severa em sua interpretação, que a mesma por vezes escorrega para os maneirismos. Enquanto isso, Johnson irradia tanto inocência quanto perfídia, numa indicação de que Susie guarda um passado insidioso e inacabado. Ainda assim, Susie não é o norte da história, mas sim a densa e temática colcha de retalhos de Guadagnino, que combina body horror, elementos sobrenaturais, desenlaces psicológicos, uma complicada investigação sobre maternidade, e um estudo sobre como o poder do passado pode modelar o presente.

Posso dizer que Guadagnino e este seu Suspiria tenta morder mais do que pode mastigar, culminando em uma conclusão que chega a ser risível de tão exagerada. Porém, a paixão de Guadagnino supera sua visão um tanto atabalhoada do material que tem em mãos, e os redemoinhos de emoções que o diretor conjura carregam uma força que transcende boa parte das grandes falhas do filme. Consequentemente, Guadagnino ao menos oferece um alento para os fãs do filme de Argento: ao invés de apenas reproduzir Suspiria, ele reimagina o filme sob sua própria perspectiva, encontrando uma nova maneira de submergir o espectador em um hipnotizante estado de sonho. Não funcionou como deveria, mas acaba sendo suficiente.

Suspiria ainda não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, mas deve ganhar uma data nas próximas semanas.

6 respostas

  1. Olá, Alex. “Suspiria” tem dividido opiniões. Parece que o tipo de filme que é capaz de despertar amor e ódio no espectador em igual medida. Li críticas elogiando muito o filme, assim como dizendo que este é pretensioso e lento. Me deu a impressão que Luca Guadagnino quis fazer uma espécie de filme de horror artístico. “Suspiria” não é um remake, mas uma releitura do filme original que tem seus pontos fortes no estilo peculiar de direção de Dario Argento, mas que não é muito bom como roteirista.
    Para mim, o mais interessante do filme de Argento é sua atmosfera de terror/ mistério que seu roteiro que me parece ser uma colcha de retalhos de produções de terror/horror, a exemplo de “O Bebê de Rosemary”.
    Se Guadagnino conseguiu dar ao seu filme uma atmosfera gótica envolvente para mim é um aspecto bem interessante e que merece ser valorizado. Também li comentários sobre essa nova versão de “Suspiria” que me deram a impressão que seu final é bastante diferente da obra de Argento, talvez algo semelhante ao de “Mãe”, que é polêmico, mas eu gostei. Penso que na época atual é cada vez se torna mais díficil assustar o espectador, pois tudo que é tipo de artifício já foi usado e,justamente por isso, quanto menos o horror explícito o filme for, mas eficiente este poderá ser se investir mais naquilo que não é revelado e fica sugerido. Acho que assim como ocorreu nos Estados Unidos, esse novo “Suspiria” vai também dividir opiniões entre os críticos de cinema brasileiros. Para que Guadagnino fez propositalmente um filme mais para incomodar, tirar o espectador de uma zona de conforto, o que agrada alguns e desagrada outros. Um abraço.

  2. Olá, Eduardo. “Suspiria” tem dividido opiniões entre os críticos de cinema. Parece que é o tipo de filme capaz de despertar amor e ódio em igual medida, assim como “Mãe!”. Li críticas elogiando muito o filme, assim como dizendo que este é pretensioso e lento.
    Me deu a impressão que Luca Guadagnino quis fazer uma espécie de horror artístico. “Suspiria” não é um remake, mas uma releitura do filme original que tem seus pontos fortes no estilo peculiar de direção de Dario Argento, mas que não é muito bom como roteirista.
    Para mim, o mais interessante do filme de Argento é sua atmosfera de terror/ mistério. Por outro lado, seu roteiro que me parece ser uma colcha de retalhos de produções de terror/horror, a exemplo de “O Bebê de Rosemary”.
    Se Guadagnino conseguiu dar ao seu filme uma atmosfera gótica envolvente para mim é um aspecto bem interessante e que merece ser valorizado. Também li comentários sobre essa nova versão de “Suspiria” que me deu a impressão que seu final é bastante diferente da obra de Argento, talvez algo semelhante ao de “Mãe”, que é polêmico, mas eu gostei.
    Penso que na época atual está cada vez mais difícil assustar o espectador, pois tudo que é tipo de artifício já foi amplamente usado e,justamente por isso, quanto menos o horror explícito o filme for, mas eficiente este poderá se souber investir mais naquilo que não é revelado e fica sugerido.
    Acho que assim como ocorreu nos Estados Unidos, esse novo “Suspiria” vai também dividir opiniões entre os críticos de cinema brasileiros. Para que Guadagnino fez propositalmente um filme mais para incomodar, tirar o espectador de uma zona de conforto, o que agrada alguns e desagrada outros. Um abraço.

  3. Muita arte e conceito para pouco filme e terror. É uma opinião comum, semelhante à que li em muitos sites. Esteticamente é muito bem feito. Mas sinceramente,me decepcionei. Alguns trechos, deixei passando na tv enquanto fazia um lanche e lia meus email. O plot twist do final foi benvindo, se não fosse ele, junto as ótimas atuações, eu diria que foi péssimo e esquecível, para um fã de filmes de horror.

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