Crítica: The Bad Batch (2017)

Traduzindo livremente do inglês, o termo “bad batch” significa algo como lote ou remessa ruim. É assim que são chamados os indivíduos que num futuro distópico e aparentemente semi-apocalíptico, são banidos da sociedade e enviados para sobreviver em um Texas completamente devastado, onde a lei do mais forte é a que prevalece. É para este cenário de desolação que a jovem Arlen (Suki Waterhouse, de Orgulho e Preconceito e Zumbis, 2016) é enviada, e uma vez lá, logo é capturada por um grupo de canibais. Mas o que parece o fim da jornada da garota, acaba tomando um rumo totalmente inesperado.

The Bad Batch (EUA, 2017), é o segundo e aguardado filme da diretora-revelação Ana Lily Amirpour, cujo filme de estreia Garota Sombria Caminha pela Noite (A Girl Walks Home Alone at Night) foi uma sensação em 2014, colocando o nome da diretora no radar de Hollywood. Contudo, apesar de The Bad Batch apresentar uma ideia central bastante interessante, e mesclar o nível de produção hollywoodiano com a pegada indie da cineasta, o filme acaba decepcionando um pouco.

O problema não está na concepção ou mesmo na condução de Amirpour, que garante uma estética visual interessante (mesmo centrando sua história no meio do deserto texano), e também um ritmo que apesar de lento, é cadenciado e pontuado por boas sequências. O principal demérito da produção está mesmo no roteiro da própria Amirpour, que não aproveita na totalidade a boa ideia nuclear do filme, assim como seus interessantes personagens centrais.

A diretora carrega bastante na simbologia. A cidade na qual a protagonista Arlen vai parar, é chamada de Comfort, e um dos personagens principais, um traficante interpretado pelo astro Keanu Reeves, é chamado Dream. Ou seja, o filme bombardeia expressões do tipo “Find Comfort” ou “I Want the Dream“, como analogias para discutir as ambições e frustrações da sociedade americana atual. Amirpour bate forte na questão étnica dos Estados Unidos da era Trump, já que a grande maioria dos indivíduos banidos – que formam a Bad Batch do título – são hispânicos ou imigrantes de outras localidades, como por exemplo, o personagem interpretado pelo Aquaman Jason Momoa, um imigrante ilegal cubano que assim como Arlen, foi enviado para o local esquecido.

Utilizando-se deste cenário, a diretora acaba não conseguindo desenvolver tudo o que o material poderia. Algumas sequências excessivamente “modernosas” atravancam o desenvolvimento da narrativa, como uma sequência de uma rave organizada pelo traficante Dream, e também uma sequência longa e irritante que mostra a protagonista viajando após experimentar LSD. As próprias escolhas da protagonista ao longo da produção também não fazem muito sentido, e destacam a incoerência do texto de Amirpour, que para complicar ainda mais o resultado final desta salada apocalíptica, entrega uma sequência final absurdamente ruim, em desalinho com o que seu roteiro vinha propondo até então, e que traz um dos diálogos mais medíocres que vi nos últimos tempos.

Ao mesmo tempo, o carisma do elenco segura a produção. A bela Suki Waterhouse embeleza o filme, enquanto que as fortes presenças de Momoa e Reeves empregam credibilidade aos seus papéis. Mas a grande surpresa da produção está na presença não-creditada do astro Jim Carrey, praticamente irreconhecível no papel de um andarilho que acaba por ter um papel decisivo nos eventos da produção, e nos destinos de seus personagens. Mesmo com pouco tempo em cena, Carrey mostra mais uma vez que seu enorme talento pode ser mais vezes aproveitado por Hollywood, que insiste em escalá-lo somente em papéis cômicos.

Amarrado de maneira bastante irregular, mas dotado de um indiscutível charme, The Bad Batch não funciona para todos os públicos e gostos, mas funciona como um esforço válido de sua jovem e talentosa diretora, que pode sim ter algo a dizer sobre a essência de nossa humanidade, e também sobre o atual momento econômico-social da sociedade americana e também mundial. O contexto apocalíptico é opcional.

The Bad Batch ainda não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros.

4 respostas

  1. Gostei da crítica, mas discordo de alguns pontos. A cena da rave, por exemplo, é uma das mais interessantes, na qual mescla a sensação do efeito da droga, estar perdido e o perigo do cubano canibal por perto. Além do elenco, vale também destacar a fotografia e a trilha sonora do filme.

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