Crítica: The Belko Experiment (2017)

O mundo corporativo geralmente rende maravilhas no âmbito cinematográfico. E não da maneira que o público geralmente espera. Curiosamente, é quando adentra as águas da comédia e até do horror, que o corporativismo revela e reflete com mais precisão, a canibalizada sociedade em que vivemos hoje.

Produções como a excelente comédia Como Enlouquecer Seu Chefe (Office Space, dirigido por Mike Judge em 1999); o “terrir” Bloodsucking Bastards (Brian James O’Connell, 2015) e até a recente produção indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Toni Erdmann (Maren Ade, 2016), são exemplos mais do que válidos para ratificar meus comentários acima. A própria série de TV The Office (2005-2013), é outro grande representante deste subgênero do mundo corporativo no cinema, ou neste caso, na TV.

Mas o que acontece quando a “terra de ninguém” do corporativismo atual é inserida em um contexto ainda mais caótico, em uma terra sem lei e sem ordem, onde a sua própria e tão valorizada máxima do “que vença o melhor” é testada em limites extremos? É esta ousada proposta que este violentíssimo The Belko Experiment (EUA, 2017) tenta responder à sua própria maneira, consistindo em uma produção que diverte e até provoca uma certa reflexão por parte do público, mas que visivelmente não alcança todo seu potencial.

E não faltam credenciais para que este resultado pudesse ter sido alcançado. The Belko Experiment é escrito por um dos nomes do momento em Hollywood, James Gunn, diretor e roteirista da franquia arrasa-quarteirão Guardiões da Galáxia (cuja crítica do ótimo segundo filme você pode conferir aqui mesmo no Portal do Andreoli), e dirigido pelo especialista em thrillers Greg McLean (da ótima franquia Wolf Creek, que rendeu inclusive uma minissérie para a TV).

Apesar de não trazer nenhum A-lister em seu elenco, o filme tem alguns bons e carismáticos nomes em seu cast, como John Gallagher Jr. (Rua Cloverfield, 10), Tony Goldwyn (Ghost: Do Outro Lado da Vida), John C. McGinley (Seven: Os Sete Crimes Capitais), além de Michael Rooker e Sean Gunn, ambos presentes na citada franquia Guardiões da Galáxia. À título de curiosidade, Sean é irmão do roteirista James, e tem se revelado um bom coadjuvante.

E este esforçado elenco é o que faz este The Belko Experiment funcionar melhor, interpretando uma narrativa interessante, onde um grupo de 80 funcionários norte-americanos da companhia Belko, situados em um prédio da empresa em Bogotá, na Colômbia, são forçados a participar de um violento jogo, onde todos são colocados em uma situação de literalmente matar ou morrer.

Pela sinopse, fica evidente que a produção bebe na fonte do cult japonês Batalha Real (Battle Royale, dirigido por Kinji Fukasaku em 2000), produção onde um grupo de jovens estudantes de uma escola no Japão são enviados à uma ilha e passam a lutar para sobreviver. Contudo, o subtexto do corporativismo funciona até melhor do que o mote da rebelião escolar, e The Belko Experiment carrega sua narrativa de maneira bastante interessante, até explodir em um verdadeiro banho de sangue, bem ao estilo do sanguinário diretor McLean. Não que isso diminua o impacto do filme. Nunca deixa de ser interessante observar até onde pode chegar a maldade humana quando seu instinto de sobrevivência é testado. E The Belko Experiment expõe tal vertente com maestria.

O que realmente decepciona entretanto, é a conclusão do filme, que não aproveita o violento clímax da produção e decide tentar explicar o inexplicável, deixando aberta uma desnecessária porta para uma sequência. Todavia, realmente não vejo riqueza narrativa suficiente na produção para que uma sequência seja justificável.

Porém, tais problemas em seus momentos finais não desclassifica este The Belko Experiment, um verdadeiro prato cheio para os fãs de um thriller repleto de doses cavalares de violência e sangue. Um pouco mais de cuidado por parte de Gunn ao amarrar o roteiro, teria rendido um filme realmente pungente e marcante sobre o tema.

The Belko Experiment não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar diretamente ao sistema de streaming e VOD.

https://www.youtube.com/watch?v=ccZN8Qh-Ydk

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