Crítica: The Ritual (2017)

Em minha crítica da excelente antologia de horror da Magnet Releasing, Southbound, lançada em 2015, destaquei o trabalho do ainda desconhecido diretor David Bruckner, responsável pelo melhor segmento da antologia. Bruckner imprimiu um ritmo tão tenso e frenético ao seu episódio, que o mesmo poderia com certeza ser adaptado em um longa-metragem, com um resultado de arrepiar. O nome de Bruckner foi imediatamente para o meu radar, e depois de dois anos do lançamento de Southbound, o diretor volta no comando deste The Ritual (Reino Unido, 2017), seu primeiro longa individual desde o mediano The Signal, lançado em 2007.

The Ritual mantém a velha máxima ensinada por infinitos filmes de horror ao longo dos anos: a de que ninguém deveria ir acampar em meio à natureza. Nunca nada de bom acontece nestas ocasiões. E se por acaso você decidir ir à floresta com um grupo de amigos que compartilha uma história dolorosa em seu passado, as coisas podem ficar ainda piores, tenha certeza disso. Tal fórmula já foi utilizada à exaustão em filmes como o clássico The Evil Dead: A Morte do Demônio (Sam Raimi, 1981) e principalmente no ícone do found-footage A Bruxa de Blair (Eduardo Sanchez, Daniel Myrick, 1999), sem falar em outras dezenas de produções vagabundas do gênero.

Por consequência, este The Ritual também não traz nada particularmente novo ao gênero horror. Na verdade, o filme deliberadamente mistura uma centena de clichês e velhos truques visuais na esperança de criar algo novo. E se o filme com certeza não rompe barreiras, ao menos é eficaz em evidenciar mais uma vez o enorme talento de seu diretor Bruckner. E isso já é algo.

Aqui, os quatro amigos que decidem se aventurar pela diabólica floresta da vez são interpretados por Rafe Spall (do ótimo episódio White Christmas da série sci-fi Black Mirror), Sam Troughton, Robert James-Collier e Arsher Ali. Costumava haver um quinto membro no grupo de velhos amigos de colégio, mas não mais. Ele foi assassinado durante um assalto à uma loja de bebidas, e o personagem de Spall estava no local, assustado demais para ajudar o amigo. Um ano se passou, e o grupo decide embarcar em uma viagem que envolve bastante caminhada nas montanhas suecas numa forma de homenagear o amigo falecido. Obviamente que a viagem é mais difícil para o personagem de Spall, que se culpa pela morte do amigo e vive atormentado por pesadelos e flashbacks.

O resto do grupo também se ressente dele de certa forma, o que acaba gerando uma situação um tanto desconfortável. Todos também estão um tanto fora de forma, e logo a tal da caminhada pelas montanhas começa a dar nos nervos de todos os envolvidos, que decidem pegar um atalho pela floresta para chegar o mais rápido possível ao pub mais próximo para encher a cara e salvar o restante das férias. Nem preciso dizer que pegar o tal atalho não acaba sendo uma boa ideia. Quer outra ideia ainda pior? Passar a noite em um decrépito chalé abandonado em uma noite de chuva. Especialmente quando a tal cabana está lotada de símbolos e artefatos estranhos. Todo o grupo termina por ter horríveis pesadelos naquela noite, e acaba acordando em lugares inesperados. Em seguida parece que passam a ser perseguidos por algo misterioso. Então, pois é, nunca vá acampar na floresta em um filme de terror.

Baseado em um livro do escritor Adam Nevill, The Ritual frequentemente se assemelha a um drama sobre luto e trauma, e nem tanto à um filme de horror, apesar da natureza metafórica do gênero. O livro, o qual li recentemente, pega ainda mais forte neste aspecto dramático do que o filme. Para o diretor Bruckner, entretanto, a carga dramática da história é apenas um material coadjuvante utilizado por ele para enriquecer a parcela de horror do filme, que corre apressado por seus 95 minutos de duração. É visível o amor de Bruckner pelo gênero, e o diretor faz deste The Ritual um meio para fortalecer seus dotes dentro do horror.

O filme transborda horror psicológico (especialmente quando a produção foca no ponto de vista do personagem de Spall), e também uma pegada de “filme de sobrevivência”, que coloca os britânicos fora de forma lutando para sobreviver aos elementos ao redor. O surrealismo é outra vertente presente no filme, e dá as caras sempre que os protagonistas dormem. Como não poderia deixar de ser, os sustos também permeiam toda a produção, e há também um monstro, um culto, e juntando esta salada toda temos uma galeria de imagens e sequências que emulam com dignidade o trabalho do mestre H.P. Lovecraft. Bruckner ataca em várias frentes do horror e com certeza ele sabe o que está fazendo, e por isso o filme funciona.

Há algumas sequências realmente fantásticas em The Ritual, desde sua brutal sequência inicial envolvendo o assalto que toma a vida de um dos integrantes do grupo de amigos, até chegar nas perturbadoras sequências finais de perseguição. Todas capturadas com extrema perícia por Bruckner, que ainda utiliza-se dos efeitos de gore de maneira impactante, sem ser excessivo. As performances são fantásticas (especialmente a de Spall, que se destaca como o sofrido protagonista).

O problema central do filme, entretanto, é que esta espécie de homenagem à este subgênero do horror, nunca realmente desenvolve sua própria identidade. O filme requenta e serve novamente as sobras de inúmeros outros filmes do gênero, ainda que Bruckner se esforce para fazer tudo parecer novo, de alguma forma. O filme é bem fotografado, concebido e interpretado, o que faz com que a experiência de assisti-lo seja realmente divertida. Porém, pouco fica na memória do espectador logo após o término da produção.

Na pior das hipóteses, The Ritual ao menos serve para provar mais uma vez o talento de David Bruckner como um dos mais promissores do gênero horror. Agora é esperar que da próxima vez o diretor tenha em mãos um roteiro com mais originalidade do que sustos, para que ele também possa aplicar seus talentos. Aqui, o resultado é um tanto estático.

The Ritual não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente em serviços de streaming e VOD.

ATUALIZAÇÃO 27/01/2018: The Ritual foi adquirido pela Netflix, e será disponibilizado no catálogo da produtora no dia 09 de Fevereiro de 2018.

3 respostas

  1. Eu cá gostei do filme e digo que achei bem assustador ou perturbante desde a maneira em que se deparavam com os amigos, a criatura horrível que quer ser vangloriada…não gostei muito do final pois só fez parte do pedido do amigo…o que começou no fim simplesmente devia ter terminado o que aconteceu quase ou igual ao inicio do filme!

  2. Adoro filmes assim, geralmente são filmes com idéias boas, porém péssima produção, péssimos atores. Esse não, ótima direção e elenco.

  3. Aguardei por 3 anos para finalmente adquirir uma cópia em
    DVD para hoje 09/02 assistir o ruim RITUAL. História bizarra para um final melancólico de RUIM.
    Lamentável.

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