Crítica: The Wind (2018)

The Wind

Em 2015, o então estreante diretor S. Craig Zahler praticamente deu vida à um subgênero nada comum: O western de horror. Com seu violento Rastro de Maldade (Bone Tomahawk), Zahler extraiu um verdadeiro milagre da improvável mistura entre o faroeste e o terror, criando um dos filmes mais marcantes e originais daquele ano. Agora em 2018, o subgênero ganha um novo exemplar neste The Wind (EUA, 2018), filme que também utiliza com sucesso elementos de ambas as vertentes para criar uma atmosfera sombria e aterrorizante. Filme de estreia da diretora Emma Tammi, The Wind é uma segura interpretação do roteiro de Teresa Sutherland (também estreante), e sua execução aborda de maneira extremamente efetiva os medos e a psicose que acompanham o quase perpétuo isolamento.

O filme se passa no final dos anos de 1800. Não existia televisão, rádio ou qualquer outro tipo de distração. Estamos no meio do nada, e as poucas pessoas com quem se poderia conversar para ajudar a passar o tempo, não são de confiança. Neste inóspito ambiente, Lizzie (Caitlin Gerard, de Sobrenatural: A Última Chave, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli), e seu marido, Isaac (Ashley Zuckerman), formam um casal de colonos que vivem tão longe de tudo e de todos, que Isaac frequentemente fica fora de casa por dias quando vai buscar suprimentos. A única companhia de Lizzie ma ausência do marido costumava ser o bebê em sua barriga, mas quando a criança nasce morta, Lizzie retorna à uma ainda mais dolorosa solidão. Isso até a chegada de seus novos vizinhos, o casal Emma (Julia Goldani Telles, do recente Slender Man: Pesadelo sem Rosto), e Gideon (Dylan McTee), que se mudam para a casa mais próxima, a cerca de um quilômetro de distância.

Contudo, ter vizinhos não é a resposta para a solidão, especialmente quando tais vizinhos são, nas palavras de Isaac, um tanto “esquisitos”. Isaac e Lizzie podem até ter o que podemos chamar de um casamento relativamente feliz, mas Lizzie ainda é a esposa, e uma mulher, assim como Emma, e elas sabem muito bem o seu lugar na sociedade da época. Então, mesmo que Lizzie esteja sofrendo com o que hoje conhecemos como depressão pós-parto, tal fato não tem importância. Ela ainda tem a obrigação de cuidar dos afazeres de casa.

Lizzie, entretanto, percebe coisas: O vento não é qualquer ventinho de planície; há algo de monstruoso nele. E em um território solitário, os demônios parecem vir de todos os lugares, e de diferentes maneiras. Demônios que encorajam o ciúme ou o ódio, demônios que mudam de forma ou que assumem a forma dos que já morreram. Isaac diz que é tudo imaginação de Lizzie, mas é o público quem a acompanha quando ela está sozinha. E, sejam reais ou não, há coisas acontecendo no local que aterrorizam. Entretanto, nada incomoda mais Lizzie do que os novos vizinhos, especialmente Emma, que insiste em ressaltar o quão maravilhoso Isaac é, o que atormenta ainda mais a protagonista.

Apesar de dar certo peso aos outros personagens da trama, a diretora Tammi centraliza a narrativa em Lizzie, de forma que o público veja apenas o que ela vê, sinta medo não apenas por ela mas sim COM ela, e compreenda que talvez estes terrores que ela vivencia sejam mesmo reais. Outros personagens circulam pela narrativa, como o reverendo que aparece na casa e questiona porque Lizzie perdeu sua fé (ainda que ela ressalte que Deus provavelmente não está interessado no que acontece neste fim de mundo); a vizinha dissimulada que não parece em nenhum momento disposta a ajudar, e é claro, o marido que não tem a mínima ideia do que acontece em torno da doença mental de sua esposa.

Tammi e seu cinegrafista, Lyn Moncrief, capturam a beleza do cenário do Novo México, mas acertadamente, não o romantiza. A luta por sobrevivência, e a dureza das mulheres (que são geralmente negligenciadas em westerns), tampouco são romantizadas, mesmo enquanto Lizzie se pergunta se é possível qualquer tipo de vida, uma vez que sua criança está enterrada e seu marido nunca está presente. Então, quando os elementos sobrenaturais se fazem presentes na narrativa, eles trazem um tremendo punch, com alguns sustos incrivelmente bem aplicados, que mexem com o físico e o emocional do espectador. Os sustos do filme são executados de maneira tão efetiva, que ainda perduram na cabeça por muitos minutos depois.

Os demônios podem vir de muitas formas, mas é necessário apenas uma destas formas para assustar alguém o suficiente para que as linhas entre o real e o imaginário sejam borradas para sempre, principalmente em um local que parece determinado a tirar tudo de você. The Wind é um filme confiante, inteligente e poderosamente arrepiante, que traz sustos e demônios tanto reais quanto possivelmente imaginários, capazes de fazer com que tenhamos medo do escuro e do vazio mesmo dos mais belos lugares.

The Wind não tem previsão de estreia no Brasil, e deve chegar ao país diretamente através de sistemas de streaming e VOD.

3 respostas

  1. Esperava bem mais deste filme. Os terrores psicológicos são os melhores. Mas a direção se perdeu. Apesar da excelente atuação da protagonista Lizzy, o filme não decola. Não empolga. E tem um final pra lá de previsível. Decepcionei.

  2. Adorei o filme, pois ele é do gênero terror psicológico, na linha do excelente “A bruxa”. Ele não é gore como “Evil dead” ( por sinal, o remake deste está excelente para quem gosta desse tipo de terror) nem tem jump scares (como Anabelle). O roteiro não entrega tudo de mão beijada ao espectador e o final é subjetivo. Enfim, é um filme que induz as pessoas a pensar no que realmente aconteceu. Vale a pena! Este filme está disponível no popcorn time.

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