Crítica: Todos Já Sabem (Todos lo Saben/Everybody Knows) | 2018

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O thriller de mistério Todos Já Sabem (Todos lo Saben/Everybody Knows, ESP/FRA/ITA, 2018), chega cheio de pompa. Além de trazer dois dos maiores nomes do cinema espanhol encabeçando o elenco, o filme abriu o Festival de Cannes deste ano, sem decepcionar o exigente público do garboso festival. Escrito e dirigido pelo cineasta iraniano Asghar Farhadi (responsável por filmes notáveis da última década como A Separação (A Separation, 2011), O Passado (The Past, 2013) e O Apartamento (The Salesman, 2016), e protagonizado por Javier Bardem e Penélope Cruz, Todos Já Sabem é mais um cativante drama na cinebiografia dos envolvidos.

Primeiro filme de Farhadi fora de sua terra natal, Todos Já Sabem explora as fissuras dos laços familiares, uma vez que estes ameaçam se romper. Novas rachaduras continuam aparecendo em lugares inesperados, algumas com mais impacto do que outras, ainda que as mesmas sejam apenas meros artifícios para um fascinante mergulho nos perigos e consequências da desinformação. Farhadi ainda encontrou o gênero mais acessível para a maneira com que está acostumado a contar suas histórias: o suspense de um thriller sobre sequestro.

Como de costume em sua filmografia, Farhadi constrói seu dilema em torno de um repentino incidente: pouco depois de Laura (Cruz), chegar da Argentina para um casamento na propriedade de sua família, sua filha adolescente, Irene (Carla Campra, do terror Verónica, 2017), desaparece de seu quarto em plena calada da noite. Tal acontecimento deixa Laura desesperada e à mercê de Paco (Bardem), que supervisiona o vinhedo da família e que esteve romanticamente ligado a Laura no passado. Alguns outros incidentes no local sugerem que Laura e Paco não podem ir à polícia, ou os sequestradores tiram a vida de Irene imediatamente; sem falar que pagar o resgate é uma opção impossível pelo menos no momento. E à medida em que outros familiares começam a chegar e se esgueirar pela propriedade, Farhadi situa sua trama em territórios dignos de Agatha Christie, onde todos são suspeitos e todos desconfiam um do outro.

Trata-se de um cenário que poderia facilmente se tornar um novelão, mas Farhadi revela apenas o suficiente para aguçar os instintos do público, focando sua narrativa em observações mais íntimas. Dentro das limitações deste cenário familiar, o cineasta aponta notáveis aspectos sobre a guerra de classes e status social, sob duras circunstâncias. Ao mesmo tempo em que a trama aponta para a desconfiança de Paco com relação aos seus funcionários do vinhedo, uma outra instigante possibilidade surge no horizonte com a entrada em cena de Alejandro (o soberbo Ricardo Darín), marido de Laura. Desempregado e amargo, ele tem algumas razões para justificar sua tardia chegada ao local. Sem jogar nenhum spoiler na parada, só posso dizer que suas razões são realmente impactantes para a trama.

À medida em que novas informações complicam a narrativa, Todos Já Sabem deixa de questionar se esta família disfuncional pode conseguir resgatar a garota desaparecida, para perguntar porquê alguém sequer pensaria em levá-la em primeiro lugar. Ainda que Farhadi entregue alguns detalhes um tanto cedo demais no terceiro ato do filme, nenhuma das revelações de Todos Já Sabem tem o peso de seus personagens principais. Enquanto a ainda estonteante Penélope Cruz funciona como a personagem central e catalisador dos eventos retratados na produção, o filme pertence mesmo à Bardem, que transforma seu Paco em um típico anti-herói do cinema de Farhadi, guiado por sua masculinidade no intuito de salvar o dia, ainda que destrua a si mesmo no processo.

O roteiro de Farhadi nunca se aquieta, brincando o tempo todo com a percepção do público e as impressões do espectador com relação aos possíveis culpados pelo sequestro da garota, que remetem até gerações anteriores da problemática família em questão. E a escrita de Farhadi não é sua única qualidade, já que desde a primeira tomada, o senso visual do diretor confronta o espectador com imagens evocativas e sombrias, ressaltando o caráter duvidoso da mansão e seus residentes, tanto os fixos quanto os temporários. Farhadi nunca deixa de exibir sofisticação visual e narrativa, e seu filme procura o tempo todo por maneiras mais profundas de envolver o espectador.

Mais uma vez em sua filmografia, o cineasta entrega uma provocativa meditação em cima da dinâmica da comunicação. Conhecimento é poder, mas em Todos Já Sabem, ninguém está mesmo certo sobre toda a verdade.

Todos Já Sabem estreia nos cinemas brasileiros no dia 21 de fevereiro.

Uma resposta

  1. Pavoroso… telenovela mexicana…. nada acontece, nada! Uma coisa chata e pretenciosa. Ver a “atriz” Penelope C. chorando o tempo todo nesse melodrama ( que de O thriller de mistério não tem nada) é muito chato, e um final decepcionante . Furos gigantescos no roteiro( como retiraram a menina da festa? pra que o caso anterior de sequestro?? e por aí vai..Fuja dessa bomba!!!

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