Crítica: Villains (2019)

Os personagens de filmes de horror geralmente são forçados a tomar algumas decisões bastante estúpidas, de forma que a trama possa seguir em uma determinada direção. A estupidez destes personagens entretanto, nunca havia sido justificada. Até agora. De vez em quando, é preciso que um certo diretor tenha a coragem de fazer com que seus personagens cretinos funcionem em um filme, principalmente quando falamos do traiçoeiro terreno das comédias de humor-negro. Com este Villains (EUA, 2019), Robert Olsen e Dan Berk (da pequena gema do suspense O Corpo, 2015), provam ser dois destes diretores corajosos, já que seu filme é tão maluco quanto ultrajante. Uma verdadeira montanha-russa do macabro.

Mickey (Bill Skarsgård, o palhaço Pennywise de It: A Coisa, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli) e Jules (A bela Maika Monroe de O Hóspede e Tau, cujas críticas também estão disponíveis aqui no Portal), não são as geniais mentes criminosas que eles acham que são. A dupla tem grandes planos de se mudar para a Flórida e viver de brisa, mas para concretizar tais planos, eles decidem roubar um posto de gasolina de maneira deveras incompetente, já que os dois não conseguem nem sequer abrir a caixa registradora.

Jules e Mickey estão bem longe de ser uma versão moderna de Bonnie e Clyde. Eles não sabem cometer crimes ou mesmo tomar alguma decisão inteligente, e podem ser vistos como uma versão mais jovem do tolo porém adorável casal do filme Arizona Nunca Mais (Raising Arizona, 1987). Após deixar o posto de gasolina até que com algum dinheiro, eles constatam que esqueceram de encher o tanque do próprio carro, e pouco depois, acabam perdidos numa floresta. Após caminhar por um tempo no meio do mato, Mickey e Jules avistam uma casa no local e decidem invadi-la com o propósito de roubar o carro que está na garagem para completarem a fuga. Porém, quando entram na casa, a dupla comete uma das decisões estúpidas que eu mencionei lá em cima no texto, ao decidirem explorar o que tem no porão do local. Nem preciso dizer que tal decisão colocará o casal em maus lençóis…

Sem entregar muito o que vem a seguir na produção, tudo muda quando Mickey e Jules fazem uma terrível descoberta no tal porão, e quando os donos da casa retornam ao local. Gloria (Kyra Sedgwick, de Vida de Solteiro) e George (Jeffrey Donovan, do drama A Troca), podem ser considerados como uma espécie de Mickey e Jules, porém mais velhos e com o nível de psicopatia chegando ao teto. À partir do momento em que a trama adentra a casa de Gloria e George, o público passa a ter a impressão de que há algo errado. A casa parece presa nos anos 50, e seus anfitriões parecem saídos da ala mais barra pesada do asilo Arkham. Basta dizer que tanto Donovan quanto Sedgwick (o destaque do filme) estão sensacionais, e o bom desenvolvimento de seus personagens garante ainda mais peso ao filme em sua metade final.

Villains também ganha muitos pontos graças a sua dupla de protagonistas, Monroe e Skarsgård, que mostram excelente química em cena. Apesar do filme ser essencialmente uma comédia, Monroe carrega uma inesperada seriedade no papel, e Skarsgård acerta na medida no tom de sua interpretação, basta dar uma olhada em suas expressões e na perícia física para entender o porquê dele ter conseguido o papel do famigerado palhaço Pennywise em It: A Coisa. Tanto Monroe quanto Skarsgård estão adoráveis, mesmo que seus personagens sejam as pessoas mais estúpidas a aparecer no cinema em um bom tempo. Mas tal característica dos personagens funciona muito bem para o filme, já que justifica as escolhas duvidosas dos mesmos e faz com que o público acabe torcendo por estas duas almas perdidas e azaradas.

Berk e Olsen fazem excelente uso de seu pequeno elenco e de sua locação ainda mais limitada em termos de espaço. À medida em que Villains se desenrola, o espectador passa a adquirir um bem-vindo senso do layout do local, especialmente graças às novas maneiras que os diretores encontram de utilizar os cômodos da casa, na maioria das vezes mostrando Jules e Mickey tentando escapar da enrascada em que se meteram. Nas mãos de Berk e Olsen, a pequena casa mais parece um enorme labirinto.

Resumindo, Villains é uma jornada cinematográfica divertidíssima e tão insana quanto a relação de Gloria e George. O filme não é realmente assustador, mas traz emoções suficientes para manter o espectador grudado na cadeira ao mesmo tempo em que arranca algumas gargalhadas aqui e acolá, bem ao estilo “Tô rindo, mas é de nervoso”.

Villains não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de sistemas de streaming e VOD.

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