Crítica: Wheelman (2017)

Você já ouviu falar em Frank Grillo? A chance de que você nunca tenha ouvido falar neste ator nova-iorquino de 52 anos é grande. Entretanto, eu o considero um dos nomes mais cool do cinema atual, e venho seguindo a carreira do ator desde 2011, com o lançamento dos filmes Warrior: Guerreiro e também o excepcional thriller A Perseguição (The Grey), filme em que Grillo protagoniza uma das cenas de morte mais dolorosas e significativas da história do cinema.

A fama deste eterno ator coadjuvante mudou um pouco nos últimos anos, quando Grillo foi alçado à protagonista da modesta porém divertida franquia Uma Noite de Crime (The Purge), e também com participações injustamente pequenas como o vilão Crossbones nos blockbusters da Marvel Capitão América 2: O Soldado Invernal e Capitão América: Guerra Civil. Ainda assim, o ator permanece no anonimato para muita gente, o que é uma tremenda pena, já que Grillo tem excelente presença de cena, porte e carisma. Quem sabe a fama do ator não seja catapultada com a chegada do remake americano do neo-clássico de origem indonésia Operação Invasão (The Raid), filme dirigido por Gareth Evans em 2013, e cuja refilmagem será dirigida por Joe Carnahan, que dirigiu Grillo no citado A Perseguição, e que atua aqui como produtor. O filme chega aos cinemas em 2018, e a crítica da sensacional sequência do filme original você também confere aqui no Portal do Andreoli.

Mas enquanto o ano que vem não chega, o lance é curtir Frank Grillo nesta nova produção Netflix, Wheelman (EUA, 2017), filme que funciona como veículo para o ator, dada a popularidade das produções com o selo Netflix. Trata-se de um daqueles filmes que se passam durante uma noite muito ruim para o protagonista (que passa boa parte dela dentro de uma BMW), o que sempre rende maravilhas e gratas surpresas para o cinema de ação e suspense.

Escrito e dirigido pelo novato Jeremy Rush – que à partir de agora está oficialmente em meu radar – Wheelman é um action thriller em sua essência, em que Grillo interpreta um piloto de fuga que acaba se enfiando em uma tremenda roubada (perdoem o infame trocadilho), que ameaça não só a sua vida, mas também as vidas de sua ex-esposa e de sua filha de 13 anos. De maneira esperta, Rush esconde do público o real escopo do que o motorista está enfrentando, já que o espectador compartilha da mesma perspectiva limitada do protagonista, que aos poucos tenta desenrolar a situação através de várias chamadas em seu telefone celular. Neste ponto, Wheelman é muito parecido com o thriller dramático Locke, filme lançado em 2013 e protagonizado por Tom Hardy. Mas se Locke priorizava o drama em sua narrativa, em Wheelman o bicho pega de verdade e o pau come solto, ainda que de maneira curiosa, Rush mantenha a ação bastante equilibrada em sua narrativa.

Por tratar-se de um filme protagonizado por um piloto de fuga, Wheelman até que tem poucas sequências de perseguição e ação desenfreada. Porém, Rush sabe fazer valer estes momentos quando os mesmos surgem na tela, e o diretor mostra talento tanto como roteirista como na direção. Quando Wheelman chega aos finalmentes, o filme funciona não por algum momento de ação grandioso, mas sim pela paciência com que cozinha seus elementos, até que chega arrebentando na hora da verdade.

Não é tarefa fácil ambientar um thriller num cenário pequeno como um carro, mas Rush consegue superar com sobras o desafio, graças ao roteiro que aos poucos revela-se mais engenhoso do que parece, e também devido à forte presença de Grillo no papel principal. O filme tem bons nomes em papéis coadjuvantes também, dois deles meus favoritos pessoais, como Garret Dillahunt (A Última Casa, 2009) e Shea Whigham (do recente Death Note, também da Netflix), ambos excepcionais em seus pequenos papéis.

Contudo, aqui o show é mesmo de Grillo. O cara tem seus fãs; e eu com certeza sou um deles. Mas, confesso que nunca o vi fazer tanto e tão bem em nenhum de seus filmes anteriores. É um típico papel de protagonista para ele, e o ator deita e rola numa performance honesta e longe da vaidade. Rush faz com que Grillo pareça pequeno e vulnerável em seu carro, enquanto uma situação violenta e caótica se desenvolve ao seu redor. Seu personagem raramente está no controle, e o espectador pode perceber a periculosidade de sua situação apenas pelo olhar do ator. Trata-se de uma complicada performance que prova de uma vez por todas o talento de Grillo, que é muito maior do que o exigido para um herói de ação genérico.

Grande parte da força deste Wheelman está em seu minimalismo, característica que infelizmente não ajuda muito a colocar o filme no caminho do grande público. Entretanto, é um filme tão bom, que talvez na Netflix a produção faça o seu merecido nome. Eu pessoalmente ficaria bem chateado se um filme como Wheelman fosse esquecido, principalmente pelo fato de ser protagonizado pelo ótimo Frank Grillo. É um filme pequeno, e ao mesmo tempo um novo e digno exemplar do gênero. Recomendadíssimo!

Wheelman estreia no catálogo da Netflix na próxima sexta-feira, dia 20 de Outubro.

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