Crítica: XX (2017)

Quem me conhece um pouco e segue minhas publicações, sabe que eu sou louco por uma boa antologia de Horror. Desde minhas sessões da antiga série de TV Além da Imaginação (The Twilight Zone), passando pela mais recente Contos da Cripta (Tales of The Crypt), e chegando às produções voltadas para o cinema do início dos anos 80 e 90, como Creepshow: Show de Horrores (Creepshow, 1982), Olhos de Gato (Cat’s Eye, 1985), Pesadelos Diabólicos (Nightmares, 1983), Do Sussurro ao Grito (The Offspring, 1987) e Necronomicon: O Livro Proibido dos Mortos (Necronomicon, 1993), entre outros, as antologias de Horror sempre prenderam a mais genuína de minhas atenções.

Então, foi com bastante satisfação que comecei a perceber o surgimento do selo Magnet Releasing, produtora americana que foca e oferece novas produções e diferentes olhares para o sofrido gênero Horror, especialmente, utilizando-se das antologias. São vários os títulos do selo que envolvem antologias do Horror: V/H/S (2012), V/H/S/2 (2013), V/H/S: Viral (2014), Os ABCs da Morte (The ABCs of Death, 2012), Os ABCs da Morte 2 (The ABCs of Death 2, 2014), Holidays (2016), e o sensacional Southbound (2015). Todos os filmes, apesar da irregularidade em seus resultados finais, de certa forma ajudaram a revelar novos cineastas para o gênero, além de trazerem segmentos que ao menos se mostram originais, e fogem do batido Horror que estamos acostumados a ver por aí.

O conceito desta nova antologia XX (EUA, 2017), também é inovador: O filme apresenta quatro contos de terror, todos dirigidos e protagonizados por mulheres. As diretoras são a estreante Annie Clark, Roxanne Benjamin (de um dos segmentos do citado Southbound), a também estreante Jovanka Vuckovic, e a mais conhecida das quatro, Karyn Kusama, diretora de um dos melhores thrillers de 2015, o classudo The Invitation. Curiosamente, o pôster do filme subtrai o nome da diretora Roxanne Benjamin, e credita o nome da diretora Jennifer Lynch (filha do grande David Lynch e diretora dos bons thrillers Sob Controle e Acorrentados), entretanto, não há nenhum segmento dirigido por Lynch, o que me fez deduzir que houve algum problema sério na produção do filme, que de alguma maneira, forçou a produtora Magnet a manter o nome da diretora no material promocional da produção. Este fato, por si só, já é um indicativo de que algo, no final das contas, não deveria funcionar no filme, que por decorrência, também não funciona como um todo, apesar de algumas boas ideias na concepção e execução da produção.

No primeiro segmento, “The Box”, baseado em um conto do escritor Jack Ketchum (do ótimo e brutal A Mulher: Nem Todo Monstro Vive na Selva), Susan (a bela Natalie Brown, da recente série do canal SyFy Channel Zero: Candle Cove) é uma mãe de dois filhos que um dia, voltando para casa de metrô com sua prole, vê sua vida virar um verdadeiro inferno quando seu filho mais novo, Danny (Peter daCunha, de Memórias Secretas, 2015), espia dentro de uma caixa envolta em um reluzente papel de presente vermelho, que estava no colo de um outro passageiro do trem. Em “The Birthday Party”, o segundo segmento, a afetada Mary (Melanie Lynskey, da série Two and a Half Men), precisará lutar com todas as forças para que a festa de aniversário de sua pequena filha não se transforme em uma tragédia, após um inesperado acontecimento se desenrolar poucos minutos antes do início das festividades. Em “Don’t Fall”, um grupo de amigos se envolve em uma terrível maldição, quando decidem acampar em uma área deserta. E o último episódio do filme, “Her Only Living Son”, conta a história de Cora (Christina Kirk, de O Amor é Estranho, 2014), uma mulher que no dia do aniversário de 18 anos de seu único filho, descobre que algo diabólico ameaça a existência de ambos.

Conforme comentei, apesar das boas premissas dos quatro segmentos deste XX, nenhum dos contos realmente funciona em sua totalidade. O primeiro segmento, dirigido por Jovanka Vuckovic tinha tudo para ser o melhor, mas a conclusão vaga decepciona bastante. O segundo, dirigido por Annie Clark, tem um bom clima que mistura suspense com humor, onde destaca-se a interpretação da bela Melanie Lynskey. Entretanto, a alternância de tons não se encaixa totalmente. O terceiro segmento, dirigido por Roxanne Benjamin, é o mais convencional de todos, mas o bom ritmo e os bons efeitos de maquiagem compensam a também decepcionante conclusão do episódio. Apenas o quarto e último segmento, dirigido pela melhor das quatro diretoras, Karyn Kusama, carrega consigo uma sensação de fechamento mais adequada.

A produção, como um todo, procura focar nos aspectos femininos das narrativas de seus segmentos, principalmente o instinto maternal, presente em três dos quatro episódios. Contudo, a falta de uma ousadia maior no tratamento das narrativas, e também de uma duração mais robusta – o filme tem pouco mais de 75 minutos de duração, o que impede um desenvolvimento maior de suas tramas – faz com que o resultado da produção seja apenas mediano, longe da proposta inicialmente atrevida do filme. Vale ressaltar os interessantes “intervalos” entre um segmento e outro, que consiste em trechos de uma mórbida e bizarra animação em stop-motion, à cargo da artista mexicana Sofia Carrillo. Mas mesmo esta animação, carece de uma conclusão satisfatória.

Resumindo, XX funciona apenas com os fãs mais hardcore do gênero das antologias de Horror, assim como este que vos escreve. Para quem procura se iniciar no estilo, aconselho outras produções, pode ser qualquer uma das citadas lá no início do texto, por exemplo. Este XX pode ser deixado para depois.

XX não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar diretamente ao mercado de Home-Video ou Streaming.

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