Yara Prado: Quereres

Olá, Maravilhosas!

Hoje vamos falar de quereres! Virada de ano, momentos de muitas reflexões, pedidos, sonhos e metas para 2023 que se inicia.

Mas será que estamos conectados realmente com os nossos desejos? Nós sabemos realmente o que queremos? Vamos lá! Você consegue fazer uma lista com três desejos para este ano? Sem contar com aqueles desejos básicos de saúde, paz, dinheiro, amor…

Você já parou para pensar ou listar as coisas que você gosta de fazer? Espera, presta atenção, estou falando no que você gosta de fazer, não no que seu marido, seus filhos, sua esposa, seus pais, amigos gostam.

É muito comum sermos “engolidos” pelos desejos ou vontades das pessoas com as quais convivemos. Esquecemos quem realmente somos ou o que realmente gostamos de fazer.

Nossa autoestima está diretamente relacionada a prioridade que nos damos, ao quanto destinamos nosso tempo e recursos para os nossos quereres, necessidades e prazeres.

Precisamos sim, nos questionar e concentrar os pensamentos no que desejamos e gostaríamos que acontecesse de verdade em relação a nossa vontade, não relativo aos interesses de terceiros. Dito isto, o que você gostaria de ter, fazer, ser no ano de 2023.

Vou contar um exemplo pessoal da importância desse exercício, como muitos sabem, meu marido é acamado, tem ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), uma doença degenerativa progressiva.

Logo quando o João Paulo começou a mostrar os primeiros sinais de perda de movimentos, todos a sua volta, em diversos lugares (desde casa até na rua com desconhecidos) as pessoas passaram a decidir por ele, com o intuito de ajudar. Buscavam encontrar a melhor posição, ou melhor condição para que ele ficasse “teoricamente” bem acomodado.

Por outra ótica, esqueciam de perguntar para ele o que gostaria. Caso estivesse frio, já colocavam o cobertor. Quando a noite chegava, decidiam levar a cadeira de rodas com ele para dentro de casa (não sabendo se ele queria ou não ficar ali contemplando a lua mais um pouquinho). Quando estava com os braços de um jeito, mudavam a posição, pois “parecia” mais confortável. Assim, observa-se que cada um tinha uma visão diferente do que era confortável.

Diante do cenário eu percebi o incômodo do João Paulo com as situações submetidas. Enxerguei a sua dificuldade em se posicionar haja vista as imitações na fala, que por consequência não estava sendo compreendido e por muitas vezes acabava deixando para lá.

Ao notar esses fatos, me propus a ser a principal defensora dos seus quereres. E olha que missão difícil, pois todos os envolvidos só queriam ajudar, desejavam o bem do meu marido.

Por esses obstáculos, eu embarquei neste desafio, ao seu lado sempre, comecei a interromper as mudanças de posição sem que ele pedisse. Para colocar uma coberta sugeria que perguntassem se ele estava sentindo frio, se queria a coberta. No início do processo, pareci bem chata, interrompendo a todos.

Superada a fase de adaptação, todos entenderam e o João Paulo hoje decide sobre absolutamente tudo relacionado a ele. Já falo para os profissionais de saúde que ele é quem manda. Além de me ajudar ativamente nas decisões da casa e na criação dos nossos dois filhos.

Tenho certeza que a “manutenção do seu querer”, sua vontade própria, lhe proporciona longevidade, porque a expectativa de vida pós diagnóstico da doença era de cinco anos. Atualmente superamos dezessete anos desde a confirmação.

Acredito também na importância de todos se preocuparem em defender suas vontades e de seus familiares que passam ou não por alguma situação semelhante.

Fortalecer a autoestima relativa à capacidade de “poder dizer sim ou não” com a convicção de que sua vontade será respeitada, é inclusive essencial na criação das nossas crianças, já que ao longo do seu caminho precisarão dizer muitos nãos aos perigos da vida.

Tendo essa experiência com meu marido, aprendi mais uma vez com uma situação ocorrida em uma repartição aqui de Brasília. Estava eu sentada esperando atendimento quando um senhor levantou e sua bengala caiu, eu imediatamente me levantei para ajudar, no intuito de pegar a bengala no chão, quando ele me olhou diretamente com reprovação, eu parei e perguntei, o senhor quer ajuda? Ele sorriu e falou: “não muito obrigada, eu consigo pegar sozinho” e assim, com certa dificuldade ele pegou a bengala e seguiu seu caminho bem orgulhoso do seu feito.

Me fez entender que estava feliz em ainda conseguir se abaixar, mesmo não sendo fácil, sua autoestima estava alta, estava feliz!

Assim, permita-se querer, desejar, fazer a sua vontade, não uma, mas sempre que puder. Sem culpa, com a certeza de que você pode e merece!

Fica a reflexão desta semana

Grande beijo

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

 

Imagem 01: Arquivo pessoal da colunista

Imagem 02: Canvas galeria

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Compartilhe esta notícia

Mais postagens