Queridos amigos,
Hoje escrevo com o coração transbordando de alegria, dedicando estas palavras à minha querida esposa Johnna, que após quatro anos de intensos estudos concluiu o seu doutorado no Seminário Teológico Fuller, na Califórnia. Em meio a livros, pesquisas e noites em claro, ela soube transformar dados acadêmicos em encontros reais que ultrapassaram barreiras culturais e étnicas, mostrando como a fé pode ser vivida além das páginas de uma tese.
Enquanto isso, na rotina da nossa família, ela continuava sendo a mãe que ajudava nas lições de casa, a esposa que dividia comigo o lavar da louça, à ida ao supermercado, o acompanhar das crianças na escola ou no médico tanto quanto a organização das dezenas de atividades que temos semanalmente em Lyon.
Pois bem, como ela conseguiu? Não sei!
Aliás, eu sei muito bem. Eu me tornei testemunha ocular.
A resposta está na graça que nos ensina a viver um dia de cada vez.
A graça que nos ensina a receber o pão nosso de cada dia.
A resposta está na vida sem “short cuts” ou atalhos.
A resposta está no chão do presente sem a ilusão de que podemos controlar o amanhã.
Dito isto, a vida nos ensina teoricamente que dinheiro não compra a paz, tampouco “likes” Facebookianos são capazes de preencher a alma, e muito menos o sucesso profissional que não garante noites tranquilas. No entanto, o que realmente sustenta é saber quem somos em Deus, e a confiança na nossa identidade como filho ou filha de Deus sem a necessidade obsessiva de receber aplausos ou reconhecimento humano.
Você é alguém que busca aplausos humanos e reconhecimento nas redes sociais todos os dias? Você é alguém que foi sequestrado pelo Instagram e se tornou refém da idéia de ter seguidores e uma voz para este mundo paralelo na Internet?
Você é alguém que quer vencer, lutar, crescer para provar algo para alguém?
Eu vejo toda hora gente correndo atrás de um pseudo-sucesso, mas no final se esfolam na esteira da vida e não preenchem absolutamente nada no seu interior. No entanto, quando tal “sucesso” é apenas sub-produto de uma jornada consciente, tudo se torna do tamanho que deve ser.
Portanto, parabéns Johnna pela enorme conquista com o título de Doutora em Liderança Global, sendo eu testemunha que nada disto nunca te inchou o ego mudando a simplicidade do teu ser ainda que tal jornada seja nomeada de “sucesso”.
Você sabia que na França, um país marcado por guerras religiosas carrega a reputação de ser um dos países mais secularizados do mundo? Você sabia que a França é vista como um dos países mais ateístas do mundo com 4% de católicos praticantes e 2-3% de protestantes?
Ora, nós testemunhamos diariamente como a jornada acadêmica da Johnna ganhou vida em nossos projetos. Os seus estudos sobre a liderança global, envolvendo mais de oitenta nacionalidades, ecoam nas histórias que cruzam o nosso caminho: do o ateu polonês que domina o francês, passando pelo muçulmano sudanês com PhD que fala inglês fluentemente, chegando aos cristãos que trabalham no governo francês ao lado de hindus e agnósticos. São cientistas, artistas, refugiados – pessoas reais cujas vidas foram tecidas na mesma diversidade que a sua pesquisa abordou.
O mais belo é perceber como tudo isso se traduz em gestos concretos: no acolhimento aos estrangeiros, no combate ao tráfico humano, na esperança que renasce como flores após um inverno rigoroso. Apesar das diferenças de língua, cultura ou crença, há em cada um essa busca pelo transcendente, essa intuição de que existe algo – ou Alguém – maior que nós mesmos. Alguns chamam de Deus, outros não sabem nomear, mas todos, em algum momento, tocam o invisível.
Dedico esta coluna à Johnna, sua conquista não é apenas um título, mas a prova de que a fé e a razão podem caminhar juntas, de que a academia ganha sentido quando serve às pessoas reais.
Enquanto lia a sua tese, via refletidas nas centenas de páginas as mesmas histórias que vivemos juntos em nossos projetos – histórias que agora estão registradas não apenas em nossa memória, mas como legado para outros.
Que o seu trabalho continue a inspirar muitos, como já inspira a nossa família.
E que saibamos, todos nós, encontrar o divino não apenas nas grandes conquistas, mas nas entrelinhas do cotidiano, onde a verdadeira vida acontece.
Com gratidão,
Fábio
Collonge-au-Mont-d’Or, França
Uma resposta
Parabéns à Dra. Johnna por esse titulo! Que seja muito útil em seus serviços na comunidade internacional em que vocês estão vivendo.