Fábio Muniz: Será que um dia vai acabar? COVID-19, Delta, Ômicron….

– “Fábio, prazer. Estou feliz de estar neste evento”.

– “Prazer é todo meu”. Enquanto eu começo a conversar com o garoto que acaba de entrar no nosso evento, o mesmo recebe uma mensagem no celular.

– “Tenho más notícias”. Ele olha para mim assustado quando me comunica a tal má notícia.

– “Você está com COVID?” Eu lhe pergunto.

– “Sim!” O garoto me responde e abaixa a cabeça. Estamos a menos de 1 metro de distância um do outro, estamos com máscaras, mas noto a expressão da sua tristeza no seu rosto e sobretudo nos seus olhos.

– “Por favor, você pode se retirar do evento”. Eu lhe peço com muito carinho, mas com a consciência tranquila, pois o contexto imediato não me permite muitas escolhas e opções.

– “Fábio, eu estava com ele ontem na festa”. Lionel olha para mim assustado. É um amigo que temos em comum. Ele estava do lado do garoto e a menos de 1 metro de distância entre nós dois.

– “Lionel, por favor você pode se retirar? Comemoraremos o teu aniversário dentro de duas semanas”. É com tristeza também que peço para o meu querido amigo deixar a sala mesmo que seja o seu aniversário.

Bom dia meus queridos amigos!

Olha só…

Não há um dia que eu não receba alguma mensagem do tipo: “Fábio, eu não posso participar do evento hoje, estou com COVID”.

Os exemplos são incontáveis…

Alguém que veio em um dos nossos eventos, mas descobriu que está positivo no dia seguinte, e, portanto, ele ou ela tem que me avisar porque eu tenho que entrar em contato com todos os participantes que estavam com tal pessoa na sala no dia anterior…

Se alguns dos nossos voluntários tiveram contato com alguém que pegou o COVID, portanto, ainda que ele ou ela não tenha certeza se está ou não com o COVID, a melhor opção é se isolar…

Pois bem, esta tem sido a minha rotina enquanto trabalho lado a lado, recebendo aproximadamente 100 pessoas por semana, e organizando no mínimo 2 ou 3 eventos por semana também…

De modo que em casa a tensão não é diferente.

A tensão em casa é a mesma!

Não há uma semana que a Júlia ou a Sophia passem em branco, pois quase todos os dias tem alguma amiguinha na classe que pegou o tal do Ômicron,e portanto, o teste é obrigatório para voltar às aulas…

Eu sei que você está cansado. Eu também.

Eu sei que você se pergunta. Vai ter fim? Eu também.

Eu sei que você já não consegue programar uma agenda exata. Eu também.

Por exemplo: Na segunda-feira tenho que viajar e trabalhar na Grécia.

Eu que sei que apenas 24 horas antes de viajar, saberei se posso ou não viajar…

Volto no dia 7 de fevereiro, e viajamos, ou pelo menos temos tudo pronto e preparado para ir ao Brasil no dia 11 de fevereiro, tudo em teoria…

Ora, eu jamais imaginei que estaríamos ainda nesta jornada depois de basicamente dois anos de discussões intermináveis, polêmicas políticas e sanitárias, e muita dor e perdas irreversíveis.

Nestes últimos 20 anos estive em quase todos, senão todos os museus que têm a ver com as guerras mundiais, holocaustos, li tudo sobre a peste bulbônica na Europa. Visitei Hiroshima e os seus museus e memoriais. São histórias e fatos inimagináveis, pois não estávamos lá.

Na realidade o superficial conhecimento que temos vem através de centenas de documentos, cartas, e livros. Mas, nós não estávamos lá!

Talvez o mais próximo destes eventos históricos, eu vivi quando sentia os tremores semanais da terra no Japão, e pude imaginar a tensão e o pavor de viver um tsunami na ilha japonesa. Eu a Johnna chegamos a conhecer e ajudar famílias que sofreram e viram, e viveram de perto o devastador, e inesquecível tsunami de Fukushima em 2011.

Páginas que jamais esqueceremos. Páginas que ficarão na história…

Certamente, os nossos netos e bisnetos lerão e verão imagens deste período sem precedentes na história humana…

Nós estamos vivendo e sentindo o cheiro, a cor, o gosto e a dor da era COVID.

– “Papai, como surgiu o COVID?” A Sophia me pergunta com um ar de curiosidade e tristeza enquanto ajusta a sua máscara que se tornou “parte do corpo” de quase 8 bilhões de habitantes no planeta Terra.

– “Boa pergunta, minha filha”. Eu lhe respondo tudo como sempre, mas com a consciência e humildade de explicar até onde eu posso chegar, pois ela já sabe que eu não tenho todas as respostas.

– “Mas papai, a culpa é de quem? Quem começou tudo isto? Veio tudo do morcego? E qual o motivo?” Ela segue perguntando, ela segue tentando compreender com a sua sabedoria de uma menina inocente e pura, uma menina de 8 anos de idade.

“Sabemos muito pouco. Os cientistas sabem muito pouco. Sabemos que tudo começou na China. No entanto, não se sabe o motivo. Falaram dos morcegos no início. Falaram dos mercados na China. Falaram e criaram tantas especulações, teorias…”

De modo que o meu amigo Chico que me lê quase todas as semanas, é um querido amigo e cientista que conheci no Japão e hoje mora nos Estados Unidos, trabalha e estuda entre laboratórios e pesquisas, poderia me ajudar e teria melhores palavras do que eu na descrição deste inegável fenômeno global…

Eu fico aqui com você e com a minha filha Sophia fazendo a pergunta mais existencial e humana que emerge neste contexto apocalíptico.

O que eu posso fazer? Como eu posso responder à vida diante de tantas incertezas?

Não importa as perguntas anteriores, mas importa a resposta que eu darei a esta crise humanitária que bate na minha porta e na porta do meu vizinho.

Ora, eu ensino para as minhas filhas que não devemos entrar em pânico. Se temos que cancelar viagens, vôos, deixar de ir à eventos, aniversários…

Temos que aceitar. Não temos outra escolha. Fazemos o que está ao nosso alcance, mas a vida é imprevisível. O sol nasce sobre maus e bons.

Que Deus nos ajude a guardar o nosso coração e mente. Que Deus nos proteja e tenhamos a gratidão de viver um dia de cada vez.

Que tenhamos a gratidão de ter o pão nosso de cada dia.

Que tenhamos a gratidão de saber que não estamos sozinhos nesta jornada.

E mais ainda, o que eu posso fazer por aqueles que estão com COVID?

Talvez uma ligação telefônica. Talvez uma oração. Talvez a oportunidade de enviar um jantar via UBER. Talvez…

Esta semana foi a segunda vez que uma das amiguinhas da Sophia pegou COVID. Ambas as mães me pediram para passar na escola, pegar o material das suas filhas, as lições de casa, e fazer o “delivery” em suas casas.

Bebê tira máscara de médico (obstetra libanês Samer Cheaib) logo após nascer e foto viraliza. Para o profissional da saúde, o gesto do recém-nascido representa esperança em meio à pandemia de Covid-19. Fonte: https://www.metropoles.com/

Vai passar. Vai acabar. Tenha paciência!

Eu te convido a passar este momento de crise mundial, com muita coragem e fé.

Veja com a mesma fé e coragem, o contexto cinza, mas cheios de oportunidades para viver e ver uma humanidade mais humana. Uma humanidade na qual compartilhamos os mesmos limites.

Pandemic concept, close up of scientist injecitng vaccine into the earth

De modo que independentemente do contexto cultural, diferenças de religiões, idiomas e classes sociais, todos nós estamos vulneráveis e necessitamos um do outro.

Fábio Muniz

Collonges-au-Mont-d’Or

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagem: Freepik

2 respostas

  1. Filho sobre a covid 19…realmente não SABEMOS quando tudo isto passará.
    Segurar nas mãos de DEUS E CAMINHAR.
    DEUS SEJA LOUVADO.
    ATÉ BREVE FILHO!

  2. Momentos difíceis que estamos passando com esse vírus
    Mas vamos sempre orar e confiar que Nosso Pai vai estar na frente de tudo para acabar logo com essa pandemia.
    Um belo texto. Um abraço do seu amigo do Japão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Compartilhe esta notícia

Mais postagens