Papai, a culpa é minha!

Créditos: Portal 6

Bom dia meus amigos,

Foram três semanas intensas, em que revezamos o terrível vírus que se espalhou por toda a Europa — e a França, claro, não foi exceção. A tal da influenza primeiro pegou a Johnna. Aliás, ela veio acompanhada da Covid, e quando nos demos conta, Johnna já estava há quase dez dias de cama, abatida pela dupla tormenta da gripe e do coronavírus.

Não demorou muito até que as crianças começassem a tossir, a ter febre e a perceber que sequer conseguiam se levantar da cama para ir à escola. Você já passou por uma situação em que a casa inteira está doente? Consegue imaginar o caos na cozinha? As noites em claro, entre correr de um lado para o outro, cuidando de todos? Febre, remédios, chás, frio e calor no corpo. Compromissos cancelados, reuniões adiadas — a vida em suspenso, aguardando a recuperação.

É impressionante o que um vírus insignificante e invisível pode fazer com uma família inteira. Enquanto eu cuidava da Julia, ela me olhava preocupada e dizia:
Papai, não se aproxime de mim, você vai pegar!
Minha resposta era sempre a mesma:
Eu sou o teu papai. Não se preocupe, eu vou cuidar de você.”

Eu fui o último a cair. Quando Johnna e as meninas já estavam recuperadas, chegou a minha vez. Uma febre intensa, uma dor no peito que parecia prestes a explodir, a energia esvaindo-se como areia entre os dedos. Por um momento, achei que jamais voltaria a me sentir forte novamente.

Foi então que, inesperadamente, minha pequena Julia se aproximou. Eu, sem forças nem para me virar na cama, senti sua presença ao meu lado. Com sua voz doce e carregada de culpa, ela disse baixinho:
Papai, a culpa é minha.

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Talvez tenha sido um dos momentos mais sublimes e divinos que já vivi. Uma filha de apenas oito anos expressando, em sua inocência, uma compaixão profunda e sincera. Com o pouco de força que me restava, estendi a mão e acariciei sua cabecinha, querendo que ela compreendesse, sem palavras, que não era sua culpa. Ela não havia me passado a gripe. Mas havia me dado algo infinitamente maior: amor em sua forma mais pura.

Agora, ainda em recuperação, mas de volta ao “jogo da vida”, retorno à rotina e aos inúmeros encontros que nossos projetos proporcionam a cada semana.

E talvez você me pergunte: “Fábio, o que podemos aprender com tudo isso?”

Ora, os diálogos mais sublimes surgem, muitas vezes, nos momentos de maior fragilidade. As palavras mais inesperadas de um amigo podem envolver-nos como um manto de carinho e compaixão, bem quando sentimos que a vida nos atropelou. Os gestos mais divinos vêm, por vezes, de quem menos imaginamos.

A vida é imprevisível. É breve. Não pede licença para nos sacudir. Iludimo-nos achando que temos o controle absoluto sobre o tempo e o espaço. Acreditamos que nossa saúde é inabalável, que estamos imunes a tudo. Mas não estamos.

Dinheiro, fama, status, curtidas nas redes sociais — nada disso tem o poder de frear as incertezas da vida. O que realmente importa, no fim das contas, são os gestos singelos e genuínos, aqueles que ficam gravados em nossa alma e nos ajudam a levantar, a seguir em frente, contra o apesar de tudo.

Um beijo a todos vocês! Boa semana.

Fábio
Collonges-au-Mont-d’Or

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