Cillo:Não é a derrota, são as lágrimas que machucam

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Ganhar ou perder faz parte do jogo, e da vida também. Mas pior que a derrota são as lágrimas de quem mais você ama. “Só vou ver o Brasil campeão quando eu estiver no primeiro ano? Não é justo”, disse minha pequena, as lágrimas, tão logo acabou o sofrimento contra a Bélgica. Tentando uma alternativa imaginaria, ela ainda disse: “Não podem fazer Copa do Mundo a cada dois anos? A cada quatro anos, demora muito”, concluiu.

Thaís tem 12 anos de idade e nunca viu o Brasil ser campeão do mundo. Não havia nascido na copa da Alemanha, quando perdemos para a França, com um gol de Henry; chorou em 2010 com nosso tropeço na África do Sul contra a Holanda, nos erros de Júlio Cesar e Felipe Mello; chorou também em 2014, mesmo sem entender que aqueles 7 a 1 eram o maior vexame de toda a nossa história. E isso, perdoem-me, nem vou dizer, ela vai descobrir sozinha, com o passar dos anos.

Ainda tentei argumentar que eu tive que esperar 24 anos para soltar o grito “É campeão”. Sim, porque na Copa de 70, televisão era raridade e as informações ainda obscuras para um menino que só queria saber de jogar bola na frente de casa. Na rua, na época podia. Ela não quis ouvir meu argumento. E eu pensei, introspectivo: será que vamos levar mais 24 anos para ganhar, de novo. Mas isso eu não dividi com Thaís. Respeitei sua dor e mudei de assunto. Ela acordou melhor no dia seguinte. “Vamos escolher uma seleção para torcer, filha?”, convidei. “Para mim a Copa do Mundo acabou, papai”. Para mim também, filha. Mas você não precisa saber disso.

Na verdade, acabou a Copa do Mundo para todo o nosso continente.  O mundial da Rússia virou uma espécie de Eurocopa de luxo. Caímos para uma Bélgica quase perfeita e o Uruguai ruiu diante de uma França letal.

Será que Casemiro suspenso fez falta? Será que menosprezamos os adversários ? Será que ficamos muito dependentes de um Neymar que não conseguiu brilhar ? E nem dar satisfação após o jogo, na zona mista. Ora, o camisa 10, a grande estrela, a referência ? O que será que aconteceu contra os belgas?

O fato é que o Brasil deu uma ligeira impressão positiva no começo do jogo. Mas logo a Bélgica, de maneira cirúrgica, conseguiu liquidar nosso hipotético favoritismo. Desde 2002, em mundiais, o Brasil não vence um europeu em mata-mata. Mas isso, minha filha não precisa saber.

Vimos só um chute de Neymar a meta do goleiro belga. No finalzinho do segundo tempo. Foi pouco.
Dois a um para a Bélgica que agora fará um duelo contra a forte França por uma das semifinais.

Os franceses nem se esforçaram muito para encarar um Uruguai que teve um desfalque crucial: Cavani, machucado. Sem ele, faltou poder ofensivo. E os goleiros foram destaque nesse encontro. O experiente Muslera falhou em momento importante da partida, no segundo gol francês. O grande Lloris vira candidato a melhor da copa com intervenções espetaculares nas poucas vezes em que o Uruguai pressionou.

Do nosso lado, O Brasil de Tite não deve jogar fora um trabalho de recuperação que nos transformou em favoritos antes dos 90 minutos com a Bélgica.

Foi a quarta eliminação brasileira para um europeu em Copa do Mundo. É mais do que esse jogo em jogo. Talvez Thaís tenha razão. Quanto tempo vai demorar para ela soltar o grito que eu já soltei ? Não sei dizer.

Existem novas forças despontando no futebol mundial. E a Bélgica é uma delas, de forma merecida. Engrossamos uma lista de campeões mundiais eliminados na Rússia. Só pra lembrar: Alemanha, Argentina, Espanha, Uruguai, Brasil.

Minha filha lamentava pelas lagrimas dos outros. Mas eu não tenho palavras para descrever o sentimento ao assistir as lágrimas da minha filha. “Tomara que possamos comemorar um título juntos, meu amor. Tomara que não demore muito”.

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