Política da Multiplicação

“Cartolas” da Confederação Sul-Americana de Futebol concedem mais duas vagas na Libertadores para o Brasil. E o principal torneio de clubes do continente pode ter até nove times brasileiros.

A CBF decidiu que o G4 do Brasileirão passa a ser G6 já em 2016, com o Campeonato em andamento. Outra vaga é para o campeão da Copa do Brasil, como já era antes. A Copa Sul-Americana pode garantir um oitavo representante brasileiro. A conta chega a nove, no caso do campeão da Libertadores ser do Brasil.

A ideia de aumentar o número de participantes não é novidade. A FIFA, a partir de João Havelange, em 1974, mostrou o caminho. A primeira medida de Havelange foi aumentar de 16 para 32, o número de classificados para a Copa do Mundo. Gianni Infantino, novo presidente da entidade que comanda o futebol mundial, já fala em Copa com 40 seleções.

A Europa adotou o modelo. Até 1992, apenas os principais campeões nacionais participavam da Liga dos Campeões. Os jogos eram mata-mata em ida e volta. A competição foi se modificando até adotar o modelo atual com campeões, vices e, em certos casos, terceiros e quartos colocados, participando do torneio que hoje em dia tem três fases classificatórias além da principal, que começa com uma etapa de grupos, com 32 times.

O Brasil mesmo, já tinha certa experiência nesse sentido. Lembra? Onde a Arena vai mal, um time no Nacional. Política dos anos 70, arquitetada pelos militares. Arena era o partido do governo. Os votos em regiões estratégicas eram trocados pela participação de um novo time no Campeonato nacional.

O aumento da influência política sempre foi a fonte que inspirou o “inchaço” dos torneios de futebol. Ao contrário do que sempre se diz como justificativa: maior integração social através do futebol e melhoria da qualidade técnica das competições.

Com relação à maior integração, a nova Libertadores provavelmente não terá mais times mexicanos, que dificilmente vão poder disputar o torneio durante todo o ano. Times dos Estados Unidos que pretendiam participar da Libertadores também devem repensar a ideia.

Tecnicamente, serão mais times de qualidade e estrutura – no mínimo – discutíveis. E não há como não ligar as mudanças à possibilidade de salvação para times tradicionais que perderam força e – agora – ganham um empurrãozinho para participar da Libertadores.

Com a nova fórmula, a Conmebol espera conseguir maiores ganhos. Rediscutindo contratos com emissoras de televisão e direitos de marketing, principalmente, aqui no Brasil, que – apesar da crise – ainda é considerado o principal mercado da região.

Mas a tese de maior lucro esbarra exatamente nos problemas da economia brasileira.

Daí não ser difícil imaginar que a reforma da Libertadores, baseada em interesses políticos e financeiros, deve se transformar em novo tiro que vai sair pela culatra, mantendo a situação de enfraquecimento do futebol na América do Sul.

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