Sonhos

Neste final de semana vi muitos atletas falando sobre aposentadoria. Todos bem sucedidos. Em comum, no discurso deles: “Nunca desistam dos seus sonhos”. Mas será mesmo que basta não desistir dos sonhos para conseguir transformá-los em realidade?

Um dos felizes aposentados homenageados foi Michael Phelps. Claro que foi mais uma dentre tantas homenagens que este fenômeno da natação deve ter recebido e vai continuar recebendo, com toda justiça.

Afinal, Phelps é o mais vitorioso nadador da história, com 66 medalhas de ouro em competições de primeira linha. Foram 23 em Olimpíadas.

Outro que recebeu justa homenagem foi o líbero Serginho, que se despediu da Seleção Brasileira de vôlei, no estádio Mané Garrincha, em Brasília, diante de 40 mil pessoas que o chamaram de rei, após marcar o último ponto da vitória brasileira por 3 x 1 sobre Portugal.

Ele é o maior medalhista olímpico brasileiro, em esportes coletivos, de todos os tempos. Conquistou quatro medalhas olímpicas, duas de ouro e duas de prata. Também venceu duas Copas do Mundo, dois mundiais, sete Ligas Mundiais e um Pan-Americano.

No programa America’s Got Talent, Michel Phelps disse que desde que começou a nadar, na infância, sonhava com grandes feitos. Ele foi cria de um projeto desenvolvido pelos Estados Unidos desde 1956, época em que os norte americanos resolveram encher o país de piscinas e investir nas crianças.

Desde então, a formação de nadadores nos EUA começa nas escolas, passa pelas universidades e clubes. Aliás, essa é a estratégia que aquele país usa para a formação de seus esportistas.

Não é à toa que na Olimpíada do Rio, os Estados Unidos ultrapassaram a marca de mil medalhas de ouro olímpicas. São 1026 ouros, no total.

O primeiro encantamento de Serginho com o vôlei, se deu quando o Brasil ganhou a medalha de ouro na Olimpíada de Barcelona, em 1992. Ele tinha 17 anos.

Antes, batalhava para reforçar o orçamento doméstico da humilde família que morava em Pirituba, bairro da zona norte de São Paulo. Vendeu gelo, água sanitária, foi empacotador de supermercado e trabalhou como office-boy.

Inspirado pela geração de ouro, Serginho resolveu tentar a sorte no vôlei como atacante. Encarou diversas peneiras em clubes. Mas só passou a ter chance real de sucesso em 1998, quando foi criada a função de líbero.

Serginho se encontrou na função. Três anos depois, teve a primeira convocação para a Seleção Brasileira, iniciando a história de sucesso.

Normalmente é assim que nasce uma estrela esportiva por aqui. Por um golpe de sorte e, claro, talento e perseverança dos que foram bafejados por ela. Isso certamente explica o fato do Brasil ter 24 medalhas de ouro em toda a história da Olimpíada. Só Phelps, tem 23.

No nosso país não se valoriza a Educação Física nas escolas. Aliás, na maioria delas, não existe nem condições elementares para a formação de cidadãos, quanto mais de futuros campeões olímpicos.

Quantos não sonharam em ser Serginho, Guga, Senna, Hortência, Paula, Oscar, Aurélio Miguel, César Cielo, Neymar, Pelé, mas nunca conseguiram chegar lá por absoluta falta de condições econômicas e sociais? Por falta de apoio de instituições públicas e privadas?

Por isso, para mim, não desistir nunca do sonho é apenas retórica, se não houver real oportunidade de transformar o sonho em realidade. É discurso que vai gerar mais frustração do que satisfação. É utopia ao invés de sonho.

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